21.6.06

Texto de uma amiga de Novo Hamburgo, a Joice.


No rastro da velocidade das coisas ...

Quando é que o tempo começa a brincar com a gente? Como ele é pouco quando estamos cansados e muito quando estamos longe?
Se o relógio é meu, como as minhas horas não se encaixam na tua?
Difícil declarar como é fácil manipular o que se quer – ainda que graças a alguma providência, nem sempre tenhamos estômago pra isso.
Certo e errado, antes e depois, bom e ruim, adiantado e atrasado, cedo ou tarde: nunca um OU outro, sempre ambos. Internas coincidências, eternas contradições ... Com isto, a dúvida do que realmente importa. Depois, a frustração em saber que o que interessa mais, é o que não está ao nosso alcance.
Desafiar o tempo num gesto de ignorar sua existência, faria alguma diferença ?“O que eu preciso para ser feliz hoje ?” é a interrogação que me salta todas as manhãs... talvez por isso tenha tido insônia, pra não acordar pela manhã e ter que responder a esta pergunta... não tem tido resultado, não importa a hora que eu saia da cama, lá está ela, pronta a me afrontar, afirmando que esta não é a minha vida, esta não é mais a minha história... tento disfarçar pra não admitir que fui seduzida pela opção de desistir ... de não ir mais atrás... de nada fazer, pra ver se algo acontece!Porque fazendo, nada vinha resultando ... mas isso também não me faz saber como o tempo consegue me cobrar tanto as coisas que eu mesma sempre desejei.
Não há caminho com passos que eu possa repetir, não há placas nem pessoas que me indiquem pra onde vou, só a possibilidade de buscar no rastro da velocidade da coisas, o que de mim realmente existe hoje.


JR
NH, 20h55min do dia 13 de junho de 2006

Nenhum comentário:

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento