25.6.06

Pedido de desculpas de um apaixonado

“Eu não existo longe de você, e a solidão é o meu pior castigo. Eu conto as horas pra poder te ver, mas o relógio ta de mal comigo, porquê? Por que tem que ser assim? Se o meu desejo não tem fim, eu te quero a todo o instante...”

O amor, “porrâ”, todo mundo dele, todo mundo o sente, todo mundo o quer e o deseja. A paixão, o amor é motivo para muitas coisas, pode se matar por amor, como pode se dar a vida por amor. Quem entenderá o que se passa no coração de um apaixonado?
Nem mesmo os apaixonados entendem. Estava pensando nisso, e cheguei a duas idéias. A primeira é que há diferentes tipos de seres apaixonados, eu sou um tipo, você é outro (isso é obvio né, mas foi o que pensei). O meu descobri, e o seu acho que também, não estou certo, mas tenho quase certeza (isso é a fala clara de um apaixonado).
A minha paixão, o meu amor, é a de criança, tipo quando ela descobre um brinquedo novo quer logo brincar com ele, fica ansiosa, furiosa se o tiram, grita, chora. Mas quando brinca até se fatigar e cair no sono. No outro dia é a mesma coisa novamente. Paixão-criança é a minha, gosta do novo, é curiosa não, tem medo de ousar de se ferir e de se machucar.
Já a sua é ao contrário, é paixão de velho. Os velhos são sábios, por isso a sua paixão é sábia, eles são grios dos tempos novos, entendem de tudo e degustam as coisas com cautela. Caminham devagar, tem medo de cair e de se machucar, pois são seres frágeis. Têm a experiência como bengala, não são afoitos, por vezes ficam pensando e pensando, não gostam de apostar quando não tem certeza, muito menos de ariscar no incerto, pois a sabedoria que tem não os deixa fazer isso. Tudo é mediado pela razão e pela ciência. Contrário da criança onde o que o leva são os sentimentos e o senso comum.
Assim é você, uma velha, e assim sou eu, uma criança. Mas sabe o que falta para os dois.......segurança.
Penso, eu, neste mundo que é uma “zona”, um caos, onde todos querem “fuder”os outros e não serem “fudidos”, aonde quem pode mais manda o outro a “puta que pariu”, pra que segurança?
A segurança é importante para nossos medos. Meus e teus. Teus e meus. Somos seres medrosos, crianças em medo de perder seu brinquedo, tem medo de mostro, de ficar sozinho, os velhos também tem estes medos, principalmente da solidão e de se machucar, de cair e não levantar mais. Não sei se é ou não é importante a segurança, acredito que sim, como não sei se o amor é isso ou aquilo, também não sei sobre isso.
Mas de uma coisa tenho plena certeza, (plena certeza, coisa de utópicos): se a criança e o velho ficarem juntos não estarão mais sozinhos. Se a criança ajudar o velho, este poderá caminhar mais tranqüilo sem ter medo de cair, e a criança já não terá mais medo de monstros pois o velho contará estórias e fábulas onde as crianças cavalgam monstros e os domam. E além disso os dois brincaram um com o outro.

Elisandro Rodrigues
13 de junho de 2006- dia de pedir paixões a Santo Antônio
“A vida é um mistério, o mundo é estranho, mas ambos se mostram simples para quem não tem medo de ver”

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento