10.3.08

Estrela Caída

Tive uma noite agitada de sonhos. Sonhos estranhos, diferentes que nunca havia tido. Me acordei assustado, olhei para todos os lados no meu quarto. Tudo escuro. Procurei o pontinho de um verde ofuscante que ficava sempre brilhando no escuro. Olhei para onde ele deveria estar, na porta do meu guarda-roupas, e não o encontrei. Voltei a dormir.

Pela manhã quando me levantei de fato, fui procurar a estrela que brilhava no escuro. Estrela que me destes para lembrar-me de você nas noites escuras e frias. Demorei para encontrar aquela estrelinha, miudinha e verdinha. Estava no chão, quase embaixo da cama. Pensei comigo, minha estrela caio. O que isso significava. O que significa uma estrela no chão.

Não consegui achar respostas, pois ainda estava atordoado da noite de sonhos ruins, e meus pensamentos estavam todos enrolados como um grande novelo de lã. Tomei meu café, com uma paciência sabia de estar remediando o que está por fim, acumulando forças para enfrentar as brigas e lutas que estariam por vir.

Sentei na frente do computador. Abri meus e-mails e lá estava uma mensagem sua. Uma carta. Uma carta de despedida. Uma carta de adeus. Entendi por que a estrela havia caído. Chorei lágrimas de desespero e saudades. Sai da frente do computador. Fui para a sala, o rádio estava ligado, e estava tocando “Me deixa em paz” pela Orquestra Imperial.

Não sabia mais o que fazer. Como a dor da paixão é forte. Senti caindo em um abismo sem fundo. Me joguei no sofá da sala e fiquei ali. Parado e observando o teto, com mil pensamentos. Pensei em te ligar. Pensei em responder seu e-mail. Pensei em pegar o próximo ônibus, o próximo avião e ir te ver. Falar com você. Esclarecer tudo. Me senti sem forças. Me senti como uma estrela no chão.

E assim fiquei, deitado como uma estrela. Esperando virar pó ou voltar a brilhar.

Me deixa em paz

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Evitar esse amor
É impossível
Evitar a dor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz

Elisandro Rodrigues
Março de 2008

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento