27.4.08


Sobre lembranças.

Andei assistindo "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", na verdade acabei de assistir. Logo após terminar o filme, fui para a janela e fiquei a contemplar a noite e fazer recordações. Geralmente me pego remexendo o passado, as lembranças de um fato ou de alguém. É por isso que sempre guardo coisas, muitas vezes objetos sem sentido, mas que para mim guardam lembranças e sentimentos.
Me peguei pensando sobre o filme pois muitas vezes queremos sempre apagar lembranças, principalmente as amorosas. Mas se fizessemos isso, o que seria de nossas vidas sem, como diria meu personagem na peça "Universo da Imaginação", sem saudosismo. Temos que lembrar, recordar, é tão gostoso fazer isso. Não só os momentos bons, os ruins as vezes também merecem ser lembrados.
Gosto de lembrar, tento lembrar de todas as pessoas que passaram pela minha vida. Volta e meia tento achar estas pessoas, saber onde estão, como estão, o que andam fazendo. Quando não consiguo o simples recordar já basta. Se não me engano já escrevi algo sobre isso também. Ando meio desligado. Fora do ar. Preciso recordar mais.
Sempre escrevi coisas amorosas, faz tempo que não faço isso, tempo que não me apaixono de fato, quem sabe não é as recordações que impedem isso. De fato não sei e não entendo. Mas como diria o personagem do filme "Por que me apaixono por todas as mulheres que vejo e que me dão um mínimo de atenção?".
A unica coisa que sei é que existe o que entendemos e o que não entendemos.


Elisandro Rodrigues
Se apaixonando.
Final de Abril.

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento