31.10.08

Pensamentos de uma manhã de sol


Na casa do bem querer. Dentro da Fuloresta do samba um calendário pende solto no ar. Dentro do ônibus escuto conversas. Atrás de mim um jovem casal fala sobre o amor. O amor é uma flor roxa no coração do trouxa disse eu quando lhe dei uma flor de Ipê roxo. Penso que para-se apaixonar precisamos estar concentrado o que acontece com quem nunca está ligado no que aconteçe a volta. Aonde mora a casa do bem querer. Eu sei que é preciso perdoar. Era paixão. Vejo as sombras coloridas. Poeta sambador - Sonhei tinha voado, tava montado na força que me comanda. Tudo se passa em minha cabeça numa pequena fração de segundo desta manhã de sol.

Elisandro Rodrigues
(Fragmentos de músicas de Donati - CD Casa Brasil, Lulu Santos - CD Calendário e Siba - CD Fuloresta do Samba. Imagem capa do CD Donati Casa Brasil)

27.10.08

Num dia de chuva.


Lá fora a chuva continuava a cair. Chovia há dias sem parar. Estávamos deitados um ao lado do outro. Tudo estava perfeito saindo conforme o planejado. Tínhamos alugado uma cabana no meio do mato. O tempo estava frio proporcionando que eu ficasse mais perto dele. Lá fora junto com a chuva a neblina envolvia a cabana. Tínhamos acabado de fazer sexo, ele estava sentado na cama ao meu lado. Estava exausto. Fazia dois dias que estávamos naquele lugar e este tempo todo passamos fazendo sexo. Esta última transa tinha me deixado plenamente satisfeita.


Estava olhando para ele sentado ao meu lado, a cabeça encostada na parede os braços estendidos ao longo do corpo. Ele não era bonito, tinha a sua boniteza escondida nos detalhes como no modo que olhava, seus olhos verdes fracos emanam um brilho diferente, mistura de magia com paixão, em uma metáfora poderia dizer que são como olhos de gato, seus gestos pequenos com as mãos ao falar e, sobretudo no sorriso. O sorriso dele encantava qualquer uma. Pequenos detalhes foi o que me fez apaixonar por ele.


Lembro-me bem daquele dia em que nos conhecemos: precisava desenvolver alguma atividade com o grupo de pessoas que estava trabalhando, Flávia a Terapeuta Ocupacional, que trabalhava com o mesmo grupo sugeriu que desenvolvesse uma oficina de socialização através do teatro ou de alguma outra expressão da arte. Ela sugeriu o nome dele, Marcos - artista plástico, ator, escritor e terapeuta ocupacional. Flavia passou o telefone dele e agendei uma conversa para explicar como era aquele grupo do CAPs. Na reunião ele falou que conhecia já os projetos desenvolvidos em outros lugares e cidades. Me encantei com a forma que me contou de sua opção pela Luta Antimanicomial, dos trabalhos que ele realizou por todo os cantos com oficinas, palestras, cursos, exposições do trabalho dele e dos seus oficinandos. Ele aceitou a proposta de fazer as oficinas e eu logo depois não resisti e convidei ele para sair e tomar uma café ou um chopp.


Não sei se foi naquele momento ou quando ele começou a desenvolver as oficinas que me apaixonei. Faziam cinco meses desde a reunião até aquele momento. Depois de um encontro para um café veio outro, e mais outro e no terceiro não agüentei e o beijei. De ambas as partes havia acontecido uma entrega total. E agora estávamos ali, juntos, apaixonados. Tinha planejado aquele final de semana o mês todo. Tinha que ser perfeito, e aquele era o momento perfeito para eu me abrir com ele.


- Marcos Eu Te Amo! Disse olhando para os olhos dele.


Ele olhou dentro dos meus olhos e disse secamente.


-Mônica....eu não te amo!


Pensei não ter escutado direito. Ia pedir para que ele repetisse mas quando olhei novamente para ele estava juntando suas roupas e colocando dentro de sua mochila.


- Você sabe que não posso fazer isso. É loucura continuarmos essa história.


Ele me falou isso vestindo a camiseta numa tranqüilidade que era outra de suas pequenas características.


- Você é casada. Eu não consigo levar isso adiante, era para eu ter dito isso no nosso primeiro beijo, mas me deixei levar pela vontade e tesão. Eu não te amo, posso gostar de você, mas não te amo. Sinto tesão por você. Gosto de te beijar. Gosto de te comer. Mas não te amo, e o tanto que gosto não me permite levar isso adiante.


Escutei aquilo tudo parada, tranqüila e serena. Ele terminou de colocar os seus tênis e saio do quarto. Escutei o motor do carro dando a partida e logo em seguida o movimento em cima das pedras de cascalho soltas na frente da cabana. Não conseguia assimilar aquele momento. Da mesma forma que escutei aquelas palavras eu permaneci. Meu corpo não me obedecia, minha voz não saia. Meu pensamento parecia uma tempestade de palavras, informações, recordações e situações. Fiquei pensando no que tinha feito três dias antes. Fiquei pensando na conversa que tive com André. Fiquei repassando mentalmente o que havia decorado para dizer a André e o disse, na reação de André. Iria contar para Marcos naquele final de semana. Fiquei pensando em tudo o que contei para André e no divorcio que havia pedido para ele.


Iria contar para Marcos que agora eu era toda dele. Que por mim colocaria uma mochila nas costas e o seguiria por todos os cantos do mundo. Diria que queria ser só dele e de mais ninguém. Diria tanta coisa que pensei neste último mês. Quem me visse naquele momento diria que eu estava tranqüila, mas por dentro estava aflita, chorava por dentro e desmoronava aos poucos. Permaneci ali parada olhando a chuva cair lá fora.


Elisandro Rodrigues

Em dias de chuva.

26.10.08

Na saudade.


‘É na saudade que o amor cresce’, ele pensou. Havia lido aquilo há alguns anos atrás em um livro chamado Cantos do Pássaro Encantado, de Rubem Alves. Lembrava de outra passagem que havia chamado a atenção por falar da saudade: A saudade é o sentimento que mais se aproxima da paixão. Por que a paixão é o amor quando tocado pela morte. O amor tocado pela morte se inflama pelo medo da perda. Ela havia dito adeus e espera pela resposta dele.
“Eu fico aqui” disse olhando para seus pés, “Você sabe onde me encontrar”. Foi tudo o que ele disse. Levantou-se e começou a caminhar, olhando para as pedras, caminhando devagar. Sem olhar o horizonte ele ia andado. Assim que andarei de hoje em diante, olhando para o chão cuidando para não tropeçar. Acendeu um cigarro e continuou a caminhar, na mente uma música tocava “To fumando o cigarro da saudade e a fumaça escrevendo o nome dela.”

Ela o olhou afastar aos poucos. Acendeu um cigarro e caminhou na direção oposta.


Elisandro Rodrigues
Final de outubro.

20.10.08

Seu cheiro.

De todas as coisas que gosto em você, a que mais prefiro e adoro é seu cheiro. Cada vez que te vejo e te abraço seu perfume, seu cheiro me preenche todo. Ele entra no meu corpo de tal forma que passo dias sentindo o seu cheiro. O gosto na minha boca, uma mistura de cerveja e cigarro, não resiste e dá lugar ao gosto de você. Minhas mãos, meu tato exala você. Meu eu inteiro se consome em perfumes diversos que seu corpo exala no meu corpo. Um simples abraço me deixa assim: flutuando no espaço perfumado e de aromas que encantam. É com certeza de todas as coisas em você seu cheiro é o que mais me enfeitiça.

Elisandro Rodrigues
Outubro

15.10.08

Anúncio ou sobre duas histórias

Ele chegou 45 minutos antes do combinado. Estava ansioso. O lugar parecia abandonado e precisava de uma boa reforma. A pintura cai em tiras da parede, por trás se via o reboco dos tijolos que não existia mais. Na portaria lhe indicaram o quarto 209 e lhe deram uma chave. Caminhou em direção ao elevador o porteiro falou com uma voz seca que estava estragado e apontou para as escadas na direita do elevador. Tentou achar o interruptor nos primeiros passos mas logo desistiu e subiu as escadas no escuro. Quando entrou no corredor do segundo andar ao pisar no chão as tábuas começaram a ranger e fazer barulho, percebeu que algumas portas se abriram e espiaram para fora sem ser vistos. Caminhou até o fim do corredor onde encontrou o quarto 209. Os números estavam escrito com tinta na porta, percebia-se que havia sido mal pintada, o número quase se fechava em um oito.
O quarto precisava de uma limpeza. Havia pó e telhas de aranha em todos os cantos em que se olhava. Chegou perto da janela e bateu e abriu as cortinas um resquício de luz de final da tarde entrou pela janela. Na luz que entrava partículas de poeira dançavam. Olhou a cama passou as mãos no lençol. Pareciam limpos. Sentou-se na cama e sentiu ela ranger e fazer uns barulhos estranhos. Resolveu sentar em uma das duas cadeiras que se encontravam no quarto. Puxou ela para perto da janela e começou a pensar. Não conseguia entender o por que de estar naquele lugar.
Fazia quatro anos que estava solteiro. Seu ultimo relacionamento, e único, havia durado cerca de seis anos. A primeira e única mulher que ele amara havia o deixado para ir trabalhar em outro país. Ele pensou que seu relacionamento iria durar. Depois de um ano longe o distanciamento e a apatia dela começaram a aparecer. Logo não retornava telefonemas nem e-mails até que ele decidiu ir visitá-la. Se não tivesse ido teria sido melhor para ele. Não gostou do que viu quando chegou de surpresa na casa de sua mulher, ou melhor ex-mulher. Preferia nem lembrar.
Seus amigos disseram para ele sair nos primeiros meses. Arrumaram acompanhantes, amigas, festas. Mas ele não se motivou por nada. Foi aos poucos criando um mundo impenetrável excluindo a todos. Fechou-se por completo. Mas já faziam quatro anos e ele precisava daquilo. Num súbito impulso desceu até o telefone que ficava na esquina de sua casa. E faltando 37 minutos se encontrava ali parado olhando a poeira dançar sobre a janela.

Ela sempre tivera uma vida que sonhara. Seus pais davam de tudo, conclui o segundo grau com boas notas, ingressou em uma universidade particular em um curso onde poucos tem dinheiro para pagar. Era bonita, cobiçada por noventa por cento dos homens do colégio e da faculdade. Mas namorava a mesma pessoa fazia sete anos. Estava com 23, desde os 16 só conhecia os prazeres e as rotinas com ele. Não tinha o que reclamar de seu namorado. Algumas vezes escutava por suas amigas histórias dele que resolvia ignorar, achava melhor assim.
Mas chegando ao final da faculdade começou a pensar melhor em sua vida e descobriu que nunca fez nada para correr perigo ou viver a vida mais intensamente. Havia sim realizado diversas fantasias e sonhos: pular de paraquedas, bungee jump, corridas em alta velocidade, pilotar avião. Havia realizados muitos esportes radicais. Mas esta não era a adrenalina que procurava. Decidiu aos 23 anos que precisava fazer coisas diferentes. Não sabia o que fazer. Pensou em diversas loucuras mas nada era viável e com emoção e perigo suficientes para sua vida. Tinha que fazer algo por ela, que ela conquistasse e que lhe desse prazer. Foi neste momento que teve uma idéia que seria diferente de tudo que já vivera.
Estava empolgada, pensará que ninguém iria ligar, colocará o anuncio em poucos lugares, esperou duas semanas até que teve um primeiro contato. Combinou o local, o mais retirado possível do centro e longe de tudo. Havia uma vez passado por uma espelunca que parecia um hotel, deu o endereço de lá. Estava nervosa seria a primeira vez que faria um serviço daqueles. Faltava uma hora para o encontro e ela ainda estava se arrumando. Decidiu ir normal, não colocar muita maquiagem, nem exagerar no decote e nas roupas. Queria parecer sedutora e sensual ao mesmo tempo que normal como uma mulher de sua idade. Para modificar seu visual apenas comprara uma peruca preta que realçaria mais seus olhos verdes escondendo assim seus cabelos loiros.

Nos minutos seguintes deixou seu pensamento vagar livremente remoendo emoções e sentimentos e fazendo um balanço de sua vida. Aquela noite seria como um novo começo. Ele acreditava nisso e vinha se preparando a dois dias para este momento. Olhou no relógio novamente faltavam ainda 25 minutos. Olhou novamente para a janela do quarto e percebeu que do outro lado da rua tinha um café, ou algo parecido com um café. Fechou a porta do quarto e desceu as escadas escuras.

Faltando 39 minutos saio de sua casa para o encontro, chegaria ao local combinado 15 minutos antes. A noite se precipitava aos poucos quando chegou. Não teve coragem para entrar direto. Estacionou o caro do outro lado da rua em frente a um café que mais parecia um boteco dos anos 30. Decidiu que esperaria dentro do café e quem sabe veria quem seria a pessoa com quem iria se encontrar.

Pediu um café e sorveu os primeiros goles. O café era amargo e estava frio. Sentou perto da porta onde podia ver quem entrava e saia do hotel, ou daquilo que parecia um hotel. Ao seu lado sentou uma mulher morena de olhos verdes poucos minutos depois.

Não tinha muitos lugares livres, ao entrar ela olhou para as duas mesas no fundo perto de cinco senhores de fumavam e jogavam cartas e um assento no balcão perto da porta onde um homem estava sentado tomando café. Sentou ao lado dele e pediu um café.

Faltando 9 minutos para seu encontro ele resolveu que não voltaria mais para o quarto. Não sabia como ela a pessoa que ia encontra-lo. E se tudo fosse uma armação. E se outras pessoas viessem ou alguém que ele não gostasse. Estaria correndo muito perigo. Iria ficar ali sentado olhando as pessoas entrarem mas estava decidido que não voltaria mais.

Ela estava inquieta nunca imaginara tamanha loucura. Começou a roer as unhas mas logo parou iria tirar os esmaltes que comprará em sua ultima viajem a Londres. Pegou um cigarro de sua bolsa mas não achou seus isqueiro. Pediu para o homem do seu lado.

Acendeu o cigarro da moça. E aproveitou para fumar um também. O café estava muito ruim, deixou de lado e pediu uma cerveja. O tempo havia passado, eram 19 horas em ponto e ele ainda não virá ninguém entrar ou sair do hotel. Estava escuro ele teria que voltar de metro para casa. Não gostava de andar a noite numa região daquelas era perigoso. Terminou sua cerveja pagou a conta e saio.

Já passavam das 19 horas e ela decidiu ir embora. Era muita loucura mesmo o que estava fazendo. Quem em sã consciência iria fazer algo assim. Pagou o café. Quando estava saindo percebeu que o homem ao seu lado estava perguntando para o garçom onde era o ponto de ônibus mais perto. Entrou no carro olhou uma ultima vez para o hotel e começou a andar. Viu novamente o homem caminhando sozinho. Parou o carro e perguntou “Para onde está indo? Quer carona?”

Ele respondeu que ia para o centro e disse que aceitava uma carona se não fosse incomodo. Antes de entrar no carro deixou cair o papel um papel no chão.

Travesti Mayumi. Oral total. Anal para todos. Realizo todas as suas fantasias. Meiga. Carinhosa. Adoro de 4 venha fazer comigo. 55319852



Elisandro Rodrigues



13.10.08

Deixa...



‘Deixa eu brincar de ser feliz. Deixa eu pintar o meu nariz...’. Me deixa aqui quieto. Me deixa aqui com meu eu. Com minha infelicidade. Me deixa aqui jogado neste canto. Me deixa remoendo meus próprios sentimentos e sentidos. Me deixa aqui quieto sentindo o vento bater na janela. Me deixa aqui sentindo o vento frio que entra pela janela entre aberta. Simplesmente me deixa.

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"Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis."
(Caio F. Abreu)

Ia te deixar um recado. Recado romântico, recado poético. Até quem sabe um recado musicado. Mas não estou afim. Deixo apenas um recado para dizer que deixei um recado não estando a fim de deixar.


Elisandro Rodrigues
Céu cinzento de Porto Alegre em um dia de outubro
Fotos de Beatriz Ferreira - Bigatrice - http://www.flickr.com/photos/bigatrice

10.10.08

Para com isso menino ou Quase um mini conto...

'Se eu tivesse um canudinho...' pensou ele. Pegou o de dentro do refrigerente e chegou perto dela.
-Para com isso menino! Ela disse a primeira vez.
A segunda vez que ele chegou perto para brincar com o canudinho no braço dela ela fez cara de quem não estava gostando.
Na terceira vez que ele foi se achegando perto ela tirou o canudinho da boca dele puxou-o pela camiseta e lhe tascou um grande beijo dizendo:
-Para com isso menino...

Elisandro Rodrigues

Falta...

Minhas mãos sentem falta de passear pelo seu corpo.
Meus dedos sentem falta de caminhar pela sua pele macia e branca.
Meu todo sente sua falta.
Elisandro Rodrigues


(www.oficinadodesejo.com.br)

9.10.08

Saudades...


Que o peso do teu corpo seja mais intenso que o peso da saudade.

Elisandro Rodrigues
09 de outubro

8.10.08

Presentes de aniversário

(Imagem de Elma - http://tempodeternuras.blogspot.com)


(Para uma amiga – uai tchê)


Não, não, não esqueci não. Se pensou que sim né? Mas não! Pelo contrário me lembrei. Me recordei, mas como gosto de fazer as coisas diferentes preferi não lhe ligar, não lhe mandar e-mail ou deixar um scrap. Resolvi sim fazer algo diferente, resolvi esperar uns dias e lhe dizer que as pessoas são frágeis, pessoas se despedaçam tão facilmente, sonhos e corações também.

Por não lhe dizer nada no seu aniversário você poderia se despedaçar, ficar brava, chorar, se magoar. Mas a esperança de que a lembrança possa acontecer nos anima e dá forças. Sendo assim lhe escrevo hoje sobre a fragilidade dos sonhos e a esperança deles. Somos tão estranhos assim como os sonhos. Não nos lembramos deles na maioria das vezes, mas em certos momentos, principalmente quando estamos no limiar entre o despertar e o sono nos lembramos. Eles se vão tão rápidos que não conseguimos compreende-los .

Sonhamos acordado. Sonhamos com um mundo melhor, com uma vida melhor. Sonhamos com um amor que possa nos compreender, que possa nos entender, que possa viver conosco o resto da vida. Sonhamos em casar com esta pessoa, ter filhos, viver numa casinha o cotidiano até que a velhice e a morte chegue.

Sonhamos com um emprego estável que nos traga felicidade, e principalmente dinheiro para podermos viver acomodados até a nossa morte. Sonhamos em curtir a vida, curtir a cultura, ir ao cinema, teatro, ir a shows. Tudo isso com as pessoas que gostamos. Como disse as coisas são frágeis e nunca serão como gostaríamos que fosse. Mas mesmo assim resta a esperança, ali guardada no meio dos sonhos, tão frágil e pequenininha, mas está ali.

Ela pode ser uma sementinha de nada, mas nos trás alegria e felicidade de que algo aconteça. Ilumina as noites mais tristes, aquece os dias mais frios. Canta para nosso coração adormecer em paz. Sonho e esperança são dois elementos frágeis que devemos guardar com carinho e cuidado, neste dia, que é depois do seu aniversário, lhe dou uma sementinha de esperança e um punhado de areias do sonhar para você guardar e usar quando mais precisar.

Para usar quando os fantasmas e monstros quiserem lhe pegar. Quando escuridão for maior que a luz. Quando tudo estiver errado e nada mais esteja certo neste mundo. Então guarde com carinho estes dois presentinhos.

Elisandro Rodrigues

Uns dias depois do aniversário.

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento