31.10.08

Pensamentos de uma manhã de sol


Na casa do bem querer. Dentro da Fuloresta do samba um calendário pende solto no ar. Dentro do ônibus escuto conversas. Atrás de mim um jovem casal fala sobre o amor. O amor é uma flor roxa no coração do trouxa disse eu quando lhe dei uma flor de Ipê roxo. Penso que para-se apaixonar precisamos estar concentrado o que acontece com quem nunca está ligado no que aconteçe a volta. Aonde mora a casa do bem querer. Eu sei que é preciso perdoar. Era paixão. Vejo as sombras coloridas. Poeta sambador - Sonhei tinha voado, tava montado na força que me comanda. Tudo se passa em minha cabeça numa pequena fração de segundo desta manhã de sol.

Elisandro Rodrigues
(Fragmentos de músicas de Donati - CD Casa Brasil, Lulu Santos - CD Calendário e Siba - CD Fuloresta do Samba. Imagem capa do CD Donati Casa Brasil)

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento