24.11.06

Muito além do que se vê

Luz dos olhos – Cássia Eller (composição de Nando Reis)
Ponho os meus olhos em você se você está
Dona dos meus olhos é você, avião no ar
Dia pr'esses olhos sem te ver é como o chão do mar
Liga o rádio à pilha, a TV só pra você escutar...
A nova música que eu fiz agora
Lá fora a rua vazia chora
Os meus olhos vidram ao te ver, são dois fãs, um par
Pus nos olhos vidros pra poder melhor te enxergar
Luz dos olhos, para anoitecer é só você se afastar
Pinta os lábios para escrever a tua boca em mim...
Que a nossa música eu fiz agora
Lá fora a Lua irradia glória
E eu te chamo
Eu te peço vem
Diga que você me quer porque eu te quero também
Faço as pazes lembrando
Passo as tardes tentando lhe telefonar
Cartazes te procurando
Aeronaves seguem pousando sem você desembarcar
Pra eu te dar a mão nessa hora
Levar as malas pro fusca lá fora
E eu vou guiando
Eu te espero, vem
Siga aonde vão meus pés porque eu te sigo também
Eu te amo, oh
Eu peço vem
Diga que você me quer porque eu te quero também...


Um filosofo alemão, Nietzsche, diz que é as vezes é necessário fecharmos os olhos para ver. Vemos muitas coisas, mas será que este olhar por olhar é o bastante. Eu sempre quis as coisas primeiro pelo olhar. Sempre as contemplo primeiro pelo olhar. O olhar sempre foi o meu sentido primeiro. Mas quando a olhei, quando a vi, percebi que Ver bastava e não bastava.
Muito além do que se vê. Este foi o meu pensamento, deve existir muito mais além do que se vê, deve existir outros mundos, outras paisagens, outros olhares. Parafraseando Fernando Pessoa, fico pensando que seria possível a contemplação juntos, o ensino mutuo. O olhar juntos. 'A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas. Quando a gente as tem na mão, e olha devagar para elas.'
Parei para te olhar mais devagar. Quando a vi primeiro no olho dentro de uma câmera que captou seu olhar e seu sorriso. Acreditei neste momento que por trás desse olhar estava escondido sonhos e loucuras. Depois quando lhe vi, com os olhos meus dentro dos olhos teus, confirmei que aquele olhar contava mais histórias. Histórias de beleza, histórias de alegria e felicidade. Mas o muito além do que se vê fica só na imaginação, no pensamento tentando decifrar os códigos presentes no olhar, no falar, no rosto, nos gestos. Mas para que ficar só na contemplação e no pensamento.
Vemos mais quando paramos, quando olhamos mais devagar, neste parar para olhar podemos sentir não só o olhar, sentir os pensamentos que a outra pessoa tem. Partilhar a vida e as utopias. 'Do seu olhar largamente verde, a luz caía como uma água seca, em transparentes e profundos círculos de fresca força' (Neruda). Dentro do meu olhar caio uma estrela, um sonho e uma loucura.

Elisandro Rodrigues
Tentando escrever sobre um olhar que parou o meu.
Novembro de 2006

23.11.06

Sobre sonhos.....

Carta a Biblioteca Social Mundial.

Amigos e amigas do Mosaico de Livros e da BSM!

Quando falamos em sonhos, falamos como Paulo Freire, onde temos os sonhos na mão, sonho que se organizam, "Para que meu sonho não seja apenas utopia, eu preciso agir. Se o sonho se aproxima dos sonhadores é por que eles se organizaram, eles agiram com o sonho na mão".
Percebo que o sonho morreu, e a utopia também. Este e-mail que o Bello no mandou revela um pouco desta utopia, deste sonho que anda bem distante. O que acontece para um sonho ficar distante da realidade. A não ação com ele na mão, a não organização.
Muitos de nós pecamos na construção desse sonho, em todo o processo dele, uns mais, outros menos, mas pecamos. Mas por muitas vezes tentamos pegar este sonho na mão, e organizar-se com ele. ORGANIZAR-SE com ele, me lembra outro sonho, do AIJ, do FSM, onde a autogestão, ou o discurso sobre ela, as vezes não sai do papel, mas mesmo assim enfrentamos a DESORGANIZAÇÃO e lutamos com o sonho na mão.
Se as pessoas, o coletivo, não está mais sonhando com ele na mão, não está tentando se organizar para que o sonho não morra, existe um problema muito grave, que o Bello já o cita ai: a apropriação de um sonho. Se Marx tivesse vivido mais, derepente ele poderia falar disso também, mas podemos só imaginar se as pessoas se apropriam de bens, do lucro, se o capitalismo e o neoliberalismo se apropriam dos seres humanos, da mão de obra, bem pode-se também se apropriar de sonho.
Mas o que leva uma pessoa a se apropriar de um sonho que a princípio é coletivo?
Não sei. Mas de uma coisa estou certo: Se este sonho parece estar distante demais, proponho sonharmos outro sonho. Um sonho que seja mais utopico, mais organizado, que traga mais felicidade.
Meu amigo Bello, Fabricio e demais que comungam com um projeto de democracia, de igualdade, em um sonho gostoso de se sonhar e lutar. Vamos sonhar outro sonho.
"Eu estou propondo que o trabalho e a organização diminuam a distância entre o sonho e a concretez do sonho. O sonhador se junta a outro sonhador, e eles encurtam a distância entre sonho e a vida sonhada." Palavras de meu caro amigo e mestre Paulo Freire.

Elisandro Rodrigues
Nômade urbano, sonhador incansável
Um presidente legal, um presidente legítimo
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Tanto Felipe Calderón, da direita, quanto Andrés Manuel Lopez Obrador, apoiado por vários movimentos populares, se declaram chefes do Executivo mexicano
Pedro Carranode Curitiba (PR)
No confronto direto com a democracia representativa, a luta social
Leia maisAssembléias Populares são mecanismos de pressãono México teve no dia 20 de novembro mais uma data importante. Foi neste dia que Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO) tomou, como forma de protesto, a faixa presidencial e lançou os 20 pontos do seu chamado "governo legítimo". O programa pretende defender as classes sociais que sofrem diretamente o resultado das escolhas da classe política dominante mexicana: as privatizações e o tratado de livre comércio, para citar algumas.
O presidente "legal", ou seja, reconhecido pelas instituições do país, Felipe Calderón, representa a continuidade das políticas que beneficiam apenas os mais ricos. Os movimentos sociais mexicanos não reconhecem a vitória de Calderón nas eleições de julho, que consideram fraudulenta.
Os 20 pontos de Obrador definem diretrizes para diminuir o preço dos produtos de consumo das camadas populares, comprometer-se em não privatizar dois setores que ainda resistem - o elétrico e o petrolífero -, gerar melhores condições para a população, sobretudo no campo, para que as pessoas não tenham que ir trabalhar nos EUA. Entre outras reformas do Estado, ele propõe que o exército não atue mais nas questões sociais. Porém, a ambição mais ousada da proposta é fazer com que o governo "legítimo" tenha relações diretas e organizações de base em vários rincões do país.
Não por acaso o 20 de novembro também foi um momento de mobilização do movimento zapatista, em comemoração do aniversário da revolução mexicana, cujos primeiros anos, a partir de 1910, foram transformadores e deixaram marcas na luta popular, e em protesto à repressão ocorrida em Oaxaca. Neste dia, os zapatistas fecharam vias de acesso às principais cidades de Chiapas. As estradas ficavam até 45 minutos interrompidas, sendo abertas por 15 minutos. Houve atos de solidariedade em outras cidades do mundo e no Brasil aconteceu em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, entre outras.
No mesmo dia, em Oaxaca, houve confrontos entre a polícia federal preventiva mexicana e estudantes simpatizantes da Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO), deixando vários feridos e a denúncia de perseguição policial a jornalistas. Um contato que está no local contou para a reportagem do Brasil de Fato que a polícia ultimamente tem trocado os confrontos diretos pela estratégia de perseguir individualmente os membros do movimento.

Um governo concreto
Alejandro Buenrostro, idealizador do centro de informação zapatistaXojobil, faz questão de ressaltar que o "governo legítimo" de Obrador nada tem de simbólico. Na verdade, ele vai contar com representantes em todos os estados mexicanos e inclusive no Parlamento, com os políticos ligados a Frente Ampla Progressista - um dos braços de sustentação de Obrador.
O outro braço seria a Convenção Nacional Democrática(CND), uma entidade civil não permanente. Alejandro nos conta que ela teve o seu primeiro desenho em 1910, à época da Revolução Mexicana. Mais tarde, noutro momento histórico, teve presença em 1988, quando o candidato do Partido da Revolução Democrática (PRD), Cuauhtémoc Cárdenas Solórzano, foi impedido de chegar ao poder às custas de fraude nas eleições. Venceu o neoliberal Salinas de Gortari, do Partido Revolucionário Institucional (PRI).
E qual a razão de uma convocatória da CND? Para Alejandro, "ela tem o caráter de convocar lideranças populares para reestruturar a república, num determinado momento histórico", lembra. "Neste momento a CND já terminou e ficou decidido por todos aqueles que o apoiaram que Obrador é o presidente", comenta. Alejandro ainda faz o paralelo com a figura de Benito Juarez, que foi um presidente itinerante e popular no século dezenove, à margem do poder de Maximiliano, que era apoiado por uma elite conservadora.

Racha?
O PRD e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) eram aliados, nos anos 1990. Atualmente, há um rompimento entre eles.
A primeira reuniãopreparatória da Outra Campanha - convocada pelo EZLN na antológica Sexta Declaração da Selva Lacandona, em 2005, como forma de organizar a população mexicana de modo paralelo à institucionalidade - simbolizava uma postura inesperada: o subcomandante Marcos colocou que Obrador e o PRD igualam-se aos outros dois partidos de direita, o PRI e o PAN, ao ter votado contra os Acordos de San Andrés (pelos direitos indígenas), financiar grupos paramilitares em Chiapas e sinalizar para os jornais gringos que não mudaria a economia do país.
Naquele momento, a Outra Campanha dizia não ao tempo político, ao tempo do poder, e buscava um fazer político com os de "baixo". Corretamente apontava que os partidos eram apenas títeres de uma elite ligada ao setor financeiro. Porém, na atual circunstância, Alejandro pensa que os aderentes da Outra Campanha apóiamObrador, ainda quesigam por um outro caminho, pois existe uma resistência à chegada de Calderón ao poder. "A Outra Campanha não se manifestou por AMLO, mas sim as pessoas individualmente. A Outra Campanha é uma organização profunda e do povo, que tem um outro caminho e destino", diz. Alejandro defende que o próprio subcomandante Marcos reconheceu recentemente Obrador como uma liderança de força.

Vínculos sociais
É claro que os diferentes movimentos mexicanos (Outra Campanha, governo legítimo, APPO) estão de certo modo entremeados. Por isso, por exemplo, existem aderentes da Outra Campanha que reconhecem a fraude e querem Obrador no lugar de Felipe Calderón. Embora a única coisa certa seja o apoio incondicional à luta da APPO em Oaxaca.
A crítica zapatista contra Lopez Obrador, iniciada ainda nas primeiras reuniões da Outra Campanha, não comprometeria a credibilidade zapatista, risco que os próprios zapatistas reconheciam no texto da Sexta Declaração? Alejandro responde: "Não, pois o que os zapatistas estão falando é a verdade, todos sabem que a classe política está deteriorada. Eles apontaram as pessoas que estão perto de AMLO, que realmente são legisladores corruptos, que estiveram ligados a Salinas de Gortari".
Quem pode se dar mal em meio a esse apoio cidadão em torno de Obrador (e de outras experiência populares de organização) é justamente a classe política decadente, na sua busca de privilégios. Pois, Obrador, solitário e individualmente, mantém o seu carisma junto à população.

Retirado do site do Brasil de Fato. http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/internacional/news_item.2006-11-22.4952666901
Oaxaca resiste
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Num estado empobrecido do México, movimentos sociais enfrentam paramilitares e exército e propõem, como alternativa ao governador corrupto, um regime de assembléias populares
Anne Vigna
"Estamos diante da maior operação militar desde a operação contra o levante zapatista de 1994. Se trata de um desembarque por via aérea, terrestre e marítima." Esse comentário data do dia 3 de outubro, e é assinado pelo jornalista Hermann Bellinghausen no periódico mexicano La Jornada. Nesse dia, os comandos especiais da marinha desembarcavam em Huatulco e Salina Cruz, no estado de Oaxaca, apoiados pelo navio de guerra Usumacinta, 1500 marinheiros 20 helicópteros M-18 e M-17, aviões Hércules e C-12, além de vários tanques. Juntamente com as forças especiais do exército e da polícia federal preventiva (PFP), o dispositivo total contou com cerca de 20 mil homens. Helicópteros e aviões sobrevoam durante vários dias a capital do Estado, a "zona de combate", o centro histórico, as barricadas, os edifícios ocupados pelos "rebeldes". Embaixo, homens e mulheres gritam diversos insultos e os ameaçam de punho em riste.
Mais uma vez, é através do uso da força que o governo mexicano responde a um levante popular. E mais uma vez, a chegada massiva das forças armadas não calará uma população em revolta contra um governo considerado repressor, corrompido e eleito de forma fraudulenta em 2005: Ulises Ruiz, filiado ao Partido Revolucionário Institucional (PRI) que governou o México durante 71 anos.
O estado de Oaxaca e, em particular, sua capital – de mesmo nome - , vivem desde 22 de maio de 2006, um conflito social que se agravou após a repressão organizada, no dia 14 de junho, por Ruiz (saldo de 92 feridos) contra a seção do sindicato dos professores (SNTE), dissidente da direção nacional, que mobiliza cerca de 70 mil professores em greve. Desde então, a reivindicação principal desses "maestros" não mudará: "Volta às aulas, cinco dias depois da demissão do governador". Eles foram reunidos pela Assembléia Popular e Permanente de Oaxaca (APPO) – a quase totalidade das organizações sociais do estado. Um milhão e trezentos mil alunos estão sem aula há seis meses. Ocupação de prefeituras e edifícios públicos, de hotéis e do aeroporto, campanha de desobediência civil pacífica, radicalização...Apesar da união da população e um bloqueio completo das atividades do do estado, Ruiz se recusa a pedir afastamento do cargo.
Um pacto conservador ampara o governador corrupto Desde o início, o governo federal de Vicente Fox, do Partido da Ação Nacional (PAN, de direita liberal), mostrou-se incapaz de resolver a questão. O desenrolar dos fatos ocorre paralelamente ao conflito pós-eleições que ainda estremece o México, logo após a suspeita eleição de Felipe Calderón (PAN) no dia 2 de julho, para a presidência da república [1]. Proposto no dia 5 de outubro pelo Secretário de governo, Carlos Abascal, o primeiro plano de negociação ("Pacto pela governabilidade, pela paz e pelo desenvolvimento do estado de Oaxaca") recomenda uma nova constituição para o Estado, uma reforma do sistema judiciário, uma série de estímulos econômicas e um compromisso de respeitar os direitos humanos. Nada se fez com relação à reinvidicação principal: a demissão do governador.
Os interesses que impedem que o Fox "ofereça a cabeça" do governador não têm a ver com o conflito local. Estão ligados à eleição presidencial manipulada. A decisão dos juízes do Tribunal Federal Eleitoral a favor de Felipe Calderón desencadeou um amplo movimento popular, inédito na história do México e dirigido por Andrés Manuel Lopez Obrador, o candidato "derrotado" do Partido Revolucionário Democrático (PRD, de esquerda). Segunda maior força política do país, o PRD não reconhece o novo executivo [2]. Ou seja, o único apoio real do qual Calderón dispõe para seu governo (que terá início em 1º de dezembro deste ano) é a aliança selada no congresso em setembro passado entre o PAN e o PRI, primeira e terceira força política, respectivamente. "Calderón precisa do PRI para governar e fazer passar as ’reformas estruturais’ que Fox nunca conseguiu aprovar. Mas ele também precisa do PRI para tomar posse perante o congresso no dia 1º de dezembro", explica o analista Luis Javier Garrido. Um dos objetivos da resistência civil organizada é justamente o de impedir essa posse.
A investidura de Calderón acontecerá somente com o apoio parlamentar do PRI, que acabou reconhecendo a "vitória" do PAN. Em troca, o PRI defende com unhas e dentes um de seus bastiões mais tradicionais: Oaxaca. Mas pode pagar muito caro, em escala nacional, pela defesa do governante contestado. "Em dois anos Ulisses Ruiz ordenou o assassinato de 35 dirigente sociais, e prendeu mais de 200, acusa Florentino Lopez, um dos porta-vozes da APPO. Ele desviou milhões de pesos destinados a obras sociais para as campanhas eleitorais do PRI e para suas próprias empresas". O governador que o antecedeu, José Murta (PRI) mandou prender 60 dirigentes. Atribuem-se a ele também quatro mortes e 15 feridos a bala. Sessenta por cento dos membros do seus gabinete fazem parte da equipe de Ulisses Ruiz. Sob suas ordens, grupos paramilitares e a polícia local atacam todos os dias as cerca das 1.500 barricadas erguidas na capital (3 mil em todo o estado), os 80 prédio públicos e 12 estações de rádio e televisão ocupados pela população.
Em busca de um pretexto para liquidar a insurreição Desde junho, foram contabilizadas quatro mortes e o seqüestro de oito dirigentes, que reapareceram alguns dias depois na prisão. Todo o arsenal repressor foi montado há seis meses para dividir, aterrorizar e enfraquecer o movimento social. De acordo com o Raul Gatica, refugiado político no Canadá e porta-voz do Conselho Indígena Popular de Oaxaca – Ricardos Flores Magón (CIPO – RFM), "o governo procura destruir, em primeiro lugar, as barricadas, porque são espaços de orgnização e debate do movimento; o outro alvo são as rádios, por meio das quais nos comunicamos com a população".
Os atos de violência não desencadeiam nenhum tipo de investigação de amplitude federal. As duas grandes emissoras de televisão – a Televisa e a TV Azteca — "pintam" os militantes da APPO e da seção 22 do sindicato dos professores como fora-da-lei perigosos e armados. Ulisses Ruiz e o PRI querem o envio de forças policiais federais para "reestabelecer a ordem e punir os líderes". Em 3 de outubro, os militares "desembarcam" no estado... O presidente Fox declara que "a trangressão da lei deve sempre ser impedida e punida".
Diante de uma repressão que parece iminente, pois as negociações ainda não terminaram, Oaxaca se torna a Comuna de Oaxaca". No entanto, o fim da ofensiva parece próximo. Os militares não entram nas cidades. "Vicente Fox não pode terminar um mandato com essas graves violações dos direitos humanos, mas o objetivo era intimidar", estima o Onésimo Hidalgo, pesquisador do Centro de Investigações Econômicas e Políticas de Ação Comunitária (Ciepac) e autor de diversos livros sobre a militarização de Chiapas após a insurreição em 1994 [3].
No entanto, apenas 3000 fuzileiros da marinha retornaram, no dia 12 de outubro, às suas casas no norte do país. Os demais não deixarão tão cedo o local: a militarização do estado de Oaxaca se confirma, e os habitantes da zona rural coletam víveres para os grevistas. "A partir de agora, a estratégia é encontrar algum pretexto para que o exército se faça presente nas comunidades rurais, analisa Hidalgo. O pretexto pode ser um plano de urgência contra os furacões, a presença de grupos armados, ou a luta contra o narcotráfico e as migrações clandestinas. Eles nunca admitiram que se trata da militarização do território, mas é a mesma estratégia que a desenhada para controlar Chiapas".
Uma das regiões mais ricas (e empobrecidas...) do México De fato, Oaxaca assemelha-se em vários aspectos com o seu vizinho Chiapas, militarizado desde a insurreição zapatista. Um território altamente estratégico e rico em recursos naturais, uma forte presença indígena e um nível de pobreza entre os mais elevados do país. Os 16 povos indígenas (1,6 milhões de pessoas) que constituem mais da metade da população do estado (3,4 milhões) sempre souberam bem o que é a discriminação. Professores das zonas rurais marginalizadas, os integrantes da seção 22 estão entre os mais mal-pagos do país. Há 26 anos, lutam por salários e pela melhoria de suas escolas. Aproximadamente 460 dos 570 municípios do estado não possuem serviços de base (água, saneamento, eletricidade) e as atividades principais que mais ocupam ainda são a agricultura e a exploração das riquezas naturais.
Oaxaca dispõe da região mais rica em biodiversidade do México: florestas, costas, lagos, montanhas, plantas raras, vários tipos de milho. No subsolo, encontra-se petróleo, urânio, carvão, ferro, ouro, prata, chumbo e mercúrio. De 1540 até o começo do século 20, as minas de Oaxaca responderam por metade da produção nacional de outro e prata. Mesmo assim, durante esse período, a extração desses metais não chevaga a ultrapassar 10% do seu potencial estimado [4]. Por fim, Oaxaca possui água em abundância para a hidroeletricidade e é um dos locais mais favoráveis em todo o mundo para a energia eólica, ao sul do istmo de Tehuantepec [5]. A exploração desses recursos está programada desde 2001, como parte do Plano Puebla Panamá [6]. Esse plano "de desenvolvimento" de inspiração neo-liberal, amplamente contestado pelos movimentos sociais, pretende criar infraestruturas (estradas, portos, barragens, etc) para a implatação de atividades econômicas. Ele acaba de ser relançado por Calderón presidente eleito (e contestado), durante uma visita feita em outubro à América Central.
A importância geoestratégica do estado de Oaxaca complica de maneira singular a resolução do conflito atual. As populações indígenas e as comunidades rurais representadas pela APPO querem gerir seus próprios recursos naturais, pois têm instrumentos legais para tal. O direito a uma organização política própria é uma reivindicação constante, tanto no campo quanto na cidade. "Trata-se do direito à autodeterminação dos povos, ou seja, à administração política dos nossos territórios e à gestão de nossos recursos naturais, explica Carlos Beas, um dos porta-vozes da União das Comunidades Indígenas da Norte do Istmo (Ucizoni), membro da APPO.
Muitas experiências de organização comunitária Em Oaxaca, há muitas experiências em matéria de organização comunitária, social e política. O comércio equitativo espandiu-se fortemente na forma de cooperativas, que praticam uma forma de autonomia. As reivindicações são semelhantes às expressas en Chiapas dez anos atrás. Mas entram em conflito com a política que Calderón deseja implantar.
A militarização do estado de Oaxaca não é uma grande surpresa: ela confirma a posição agressiva do executivo frente aos movimentos socias que se multiplicam por todo o país. Recorrer às forças policiais é, com freqüência, a "resposta" do governo Fox, acompanhada de graves violações dos direitos humanos [7]. Se tomarmos como referência a experiência dos países latino-americanos e a história do México, caminhamos diretamente para um confronto crescente entre duas concepções políticas e econômicas distintas. "Trata-se de uma polarização entre os excluídos e uma classe privilegiada que concentra a riqueza e que influencia a vida política", avalia Neil Harvez, professor de ciências políticas da Universidade do Novo México. Cada vez mais, "Calderón irá satisfazer os meios econômicos que deram apoio à sua campanha". Oaxaca antecipa a ingovernabilidade pela qual o México poderia passar durante a presidência contestada pela oposição a Calderón. A aliança deste com o PRI e o mundo dos negócios pode provocar novos conflitos. As forçar armadas conseguirão, então, apagar o fogo das variadas rebeliões? (Le Monde Diplomatique)

Retirado do site do Brasil de Fato. http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/internacional/news_item.2006-11-17.7842140716
Tradução: Márcia Macedo marcinhamacedo@gmail.com

18.11.06

Carta a Chuva

Nem um dia
(Djavam)
Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide (bis)
Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores
Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você
E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris(bis)
Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo


Olá meu anjo!!!
Que chuvinha! Belo dia para ficar em casa, descansando. Como diria Mario Quintana, “Não tem nada melhor do que fazer nada e depois descansar”. Este é um dia destes, que merece o descanso, o ócio criativo. Mas como o mundo é um roda viva e não pará, nós não podemos ficar parados também.
Mas, mesmo assim, digo que hoje é um dia para ficar com quem gostamos. Deitados, ou sentados, enrolados em um cobertor falando da vida, dos sonhos, das esperanças, das lutas. Nada melhor que um clima destes para isso. Fico pensando em como seria bom e gostoso fazer isso com você. Ficar sentindo seu calor, seu afago, seu toque...Conversando com você...
Muito romântico isso! Mas muito simples também. Pena que são simples palavras e pensamentos. Gostaria mesmo era viver isso com você. Que bonito seria. Para isso um dia acontecer vou fazer o seguinte:
Vou pedir aos Deuses da chuva e do frio para que o dia em que, se por acaso, estivermos juntos, que caia uma agradável chuva, que a temperatura baixe, e aos poucos o frio venha se chegando. Prepararei oferendas para este dia, para os deuses e deusas do amor e do tempo. Rogarei ao deus do sonho para que estes pensamentos e sonhos meus permaneçam em seus domínios, para que sempre me lembre deles. E quem sabe um dia, com todos os meus pedidos, orações, oferendas e preces isso aconteça.
Por ora lhe digo que te gosto um montão, te quero um monte. Mas não como algo que se prende e não se tem liberdade, como muitos fazem, querem serem donos das pessoas. Te quero, e te gosto, como o mais lindo dos pássaros a voar e a cantar, que sempre sabe o caminho para os braços e os ouvidos de quem lhe acolhe. Te Te quero assim, livre como um pássaro, mas que sempre pode voltar.
Beijos querida.
Bom dia de chuva. Boa noite de sonhos....

Elisandro Rodrigues
Da escola que se faz educação. Do tempo dos desejos e loucuras. Em um momento de contemplação da chuva de frio, pensando alto no pássaro que voa.
17 de novembro – intervalo entre uma aula e outro. Tempo suficiente para pensar e criar!

Roda Viva – Chico Buarque
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo (etc.)
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo (etc.)
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo (etc.)

6.11.06

Retirado de, acessem para saber mais: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/11/364893.shtml?comment=on

Ato anti-ocultamento midiático e solidariedade à Luta de Oaxaca em PORTO ALEGRE!

Terça-feira, dia 7 de Novembro as 17:00 em frente a prefeitura velha de Porto Alegre!

ATO ANTI-OCULTAMENTO MIDIÁRICO EM SOLIDARIEDADE AO POVO E À LUTA DE OAXACA!!


Ato anti-ocultamento midiático em solidariedade à Oaxaca!

Ao redor do mundo são organizados atos de solidariedade, estes eventos são muito importantes e não podem parar agora, diante da falta de informação em quase todos os meios de mídia massiva do Brasil. Temos que mostrar ao governo mexicano que nós aqui em Porto Alegre também estamos atentos a todos seus excessos!

Não fique de braços cruzados, proteste contra os meios de mídia que mais não informam novamente acobertando atos de violência e opressão de um dito governo democrático!
Exerça sua liberdade de expressão!!

Este é um ato supra partidário, logo se você for de algum partido, traga suas amigas e amigos, seu instrumento musical ou seu cachorro, mas deixe a sua bandeira em casa. Afinal as eleições já acabaram.

4.11.06


Um dia de esperança e paixão

“Quando penso em minha Terra, penso sobretudo no sonho possível – mas nada fácil – da invenção democrática de nossa sociedade.”(Paulo Freire. À Sombra desta Mangueira, 1995.)

“O amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências que se respeitam. Cada um tem o outro como sujeito de seu amor. Não se trata de apropriar-se do outro.” (Paulo Freire. Educação e Mudança, 1979.)

Para falar em mudança, em transformação é necessário falar de duas coisas: esperança e paixão. Por isso trago duas frases de nosso grande Mestre Paulo Freire. A primeira sobre a esperança e a utopia necessária para nosso luta cotidiana e a segunda, também na mesma linha, mas falando do amor que temos que ter com o outro, a alteridade, o dialogo e a comunicação necessária nas relações. Por que falar destas coisas? Por que hoje foi um dia onde a esperança e a paixão se fizeram presentes: visita ao assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e filme sobre a ditadura militar Argentina, “La noche de los lápis”, e a paixão.
Sonhar o sonho possível é o que o MST vem construindo nestes 22 anos de luta, de persistência, de afirmação e de construção de um projeto onde o homem e a mulher sejam sujeitos da sua história. Ao longo destes anos eles vem tentando construir uma sociedade onde não haja desigualdade, onde a fraternidade reine com a justiça, onde todos sejam irmãos, companheiros e companheiras. Isso ficou perceptível no Assentamento Jair Antônio da Costa, onde desde as crianças até as pessoas mais idosas tem orgulho de dizer “Sou do MST”. Afirmar esta identidade é afirmar um projeto de utopia, de esperança. É afirmar uma luta que continua presente apesar da maquina do capitalismo e da sociedade neoliberal. Uma luta feita de corações que sonham.
Ver no rosto das crianças semterrinhas a paixão e a mística do projeto é perceber que nem tudo está perdido, que ainda resta no fundo de nossos corpos o grito por liberdade. É ver naquelas pessoas que vivem em uma “cidade de lona preta” que é possível sim construir um outro mundo, uma outra sociedade. Ver que todo o processo histórico de luta dos movimentos sociais e das pessoas ainda continua no coração e nos pés fincados no chão, e que é expandida para todos os que vivenciam a proposta e o projeto, e que saem destas vivencias convencidos que temos que destapar nossos potes e abraçar esta causa e esta luta. Perceber que os lápis ainda escrevem, que os corações ainda pulsam, que as vozes ainda cantam e gritam, que as mãos ainda bradam por esperança e por mais espaços de luta e de igualdade. E que apesar da escuridão ainda existe luz, é só abrirmos os olhos.
Essa é a intercomunicação do amor, da esperança e da luta...a paixão que nós move a todos e a todas a construção deste novo amanhã.
Paixão que vemos nos olhos de nossa companheira do lado este ardor por engajar-se neste projeto, paixão nos nossos olhos pela utopia contida nos olhos verdes, no abraço gostoso e no carinho da companheira que se faz presente na luta, na proposta e na opção de construir.

Axé, Aurelê.....

Elisandro Rodrigues
Acadêmico de Pedagogia, militante social e apaixonado pelo verde dos olhos e pela esperança
Novembro de 2006

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento