24.12.07


Sobre o encontrar pessoas


Tem horas que a gente se pergunta
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?
Boneca, panela, chinelo, carro, o nó que eu desamarro
Surge pra me dar um nó
Você aparece de repente e coloca em minha frente dúvida maior
Se tudo que eu preciso se parece
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?
Quando juntarmos... você comigo... Cordão umbilical e umbigo
A gente vai ser só um
E até lá eu não vou caminhar mais sozinho
O distante será meu vizinho... e o tempo será...
A hora que eu quiser!! Horas!!
(O Teatro Mágico - Tudo é uma coisa só)


Músicas falam por si. Já devemos ter escutado isso milhares de vezes também. Mas quando não se tem mais nada para dizer, o óbvio é o mais correto de se falar. Estava pensando sobre está música do “O Teatro Mágico”. Quem não já se perguntou sobre a complexidade das coisas e da estranheza das coisas que acontecem conosco.
Final de ano sempre fazemos um balanço final, aquela velha recordação dos fatos positivos e negativos. Não é remoer lembranças, mas realizar uma reminiscência delas. Estava pensando por que não se junta tudo numa coisa só e por que muitas vezes nos afastamos das pessoas.
Esquecemos as pessoas. Esquecemos muitas lembranças. Esquecemos rostos, músicas, palavras, poesias, livros, mas sobretudo, esquecemos pessoas que passaram em nossa vida.
Fazendo esta reflexão de final de ano comecei a buscar pessoas esquecidas na memória. Sempre temos algo que nos traz a lembrança alguém, ou algum fato. Eu sempre guardo objetos, cartas, cartões, mensagens, anoto nomes, telefones, e-mails e jogo dentro de uma caixa. Decidi abrir esta caixa e encontrar pessoas.
É claro que não temos como entrar em contato pessoalmente com todas e todos, mas com as ferramentas da internet, principalmente o dito “orkut”, achamos qualquer pessoa, que esteja dentro desta ferramenta. Me coloquei a procura: entrando dentro de minha caixa de recordações e achando nomes e rostos. Encontrei algumas pessoas que há três, quatro anos não tinha mais comunicação. Pessoas que simplesmente passaram por minha vida, um dia, uma semana, mas que ficou a lembrança na caixa de recordações.
Como é gostoso fazer isso, encontrar pessoas esquecidas, pessoas que se esqueceram da gente. Hoje em dia é muito fácil esquecermos uns dos outros com as correrias da vida. Estes momentos de recordação são importantes para lembrar, para trazer a tona sentimentos.
Neste ano que caminha para o final gostaria de trazer todas e todos presentes em minhas orações, em meus pedidos, em meus desejos. Todas aquelas pessoas que passaram pela minha vida, ou que eu passei pela vida delas. Tudo isso para ter presente que todos somos importantes uns para os outros.


Elisandro Rodrigues
Vivendo para recordar
Final de 2007




Já sonhei nossa roda gigante esconde-esconde em você

Já avisei todo ser da noite que eu vou cuidar de você

Vou contar historias dos dias depois de amanhã

Vou guardar tuas cores, tua primeira blusa de lã

Menina vou te guardar comigo

Menina vou te guardar comigo

Teu sorriso eu vou deixar na estante para eu ter um dia melhor

Tua água eu vou buscar na fonte teu passo eu já sei de cor

Sei nosso primeiro abraço, sei nossa primeira dor

Sei tua manhã mais bonita, nossa casinha de cobertor

Menina vou te casar comigoMenina vou te casar comigo...

Vou te guardar comigo

Sou teu gesto lindo

Sou teus pés

Sou quem olha você dormindo

Ô menina guardo você comigo

Menina guardo você comigo

Nosso canto será o mais bonito Mi Fá Sol Lápis de cor

Nossa pausa será o nosso grito que a natureza mostrou

A gente é tão pequeno, gigante no coração

Quando a noite traz sereno a gente dorme num só colchão

Menina vou te sonhar comigo

Menina vou te sonhar comigo

Sou teu gesto lindo

Sou teus pés

Sou quem olha você dormindo

O Menina guardo você comigo

Menina guardo você comigo
(O Teatro Mágico – Menina)

21.12.07


Um simples pedido de Natal


Natal chegando é o momento de lembrarmos das pessoas e mandarmos cartões, mensagens desejando tudo de bom. Desejando: amor, paz, união, fraternidade, solidariedade, dinheiro no bolso e blábláblá.
Todos sabemos que a data do natal, para a grande maioria das pessoas, é um dia de descanso, um feriado, de fazer um churrasquinho, tomar uma cervejinha, relaxar e passar a noite e o dia em companhia da família e de bons amigos. Uma boa parte é claro que vai fazer as rezas natalinas, vão nas celebrações e missas assistir o nascimento do Jesus Menino.
Tudo isso é bom e gostoso, é claro que é, eu também irei fazer estas coisas no dia 24 e 25 próximo. Como de costume irei para a casa da minha tia, ajudarei a preparar a ceia, irei na celebração ver a encenação do nascimento de Cristo, pelo grupo de jovens e catequizandos da paróquia, darei as felicitações natalinas a todos e todas e irei para casa beber e comer.
Mas no meio de tudo isso gostaria de fazer um pedido, como já é de costume meu escrever para as pessoas no natal, no ano passado fui ousado nos meus desejos: desejei que todos e todas engravidassem de sentimentos e idéias para este ano que está no fim. Ousado diga-se de passagem. Este ano não desejo nada demais, apenas que no meio dos afazeres de natal as pessoas parem um minuto, trinta segundos.
É só isso que peço: que as pessoas parem e neste pouco tempo de parada reflitam sobre as bonitezas da vida e agradeçam por participar do embelezamento do mundo. Se não tiverem nada disso para agradecer, desejem de todo o coração que este ano que se aproxima seja um ano em que esta boniteza possa ser vivida no dia-a-dia, na fraternidade e nas relações com as pessoas que convivemos.
Este é o meu desejo, é isto que peço ao Papai Noel, ao Cristo Menino que nasce mais uma vez dentro dos nossos corações neste Natal: simples para ver se é possível acontecer. Um simples minuto de parada para pensarmos em coisas boas e em fazer coisas boas.


Elisandro Rodrigues
Natal de 2007
Grupo Baú de Encantos
Pedindo coisas pequenas e simples para melhorar as vidas e embelezar o mundo.

27.11.07

Vai saber...
P.S: Sobre as coisas que não sabemos, uma música que não sai da cabeça, um pouco de viajem e também um texto confuso de se ler.
“O que quer que eu faça por você?” (Marcos Broc, OSFS)
Vocês sabem aquelas músicas que não saem da cabeça, você escuta uma vez e fica o resto do dia cantalorando aquele mesmo trecho. Muitas vezes são músicas muito ruins que ficam em nossa mente, ou por serem tocadas muitas, e muitas vezes. Horas nem é ruim a letra, mas pega de um jeito que é difícil esquecermos aquele refrão, aquela melodia, aquela estrofe. Estou com um trecho a dias em minha mente.
Este trecho acima, de uma música chamada “Pedagogia de Deus”, e também tema de ordenação Presbiterial do autor da música e amigo meu, Marcos Broc, me fez pensar nos ultimo dias sobre a doação, a oblação. Este reflãozinho está deste a ultima quinta feira indo e voltando. Para ver se ela saia de uma vez por toda tentei cantar, escutar a música toda, escutar outras músicas e nada, resolvi então escrever sobre este reflão, não sei se adiantará.
Esta frase “o que quer que eu faça por você?” é uma frase bíblica, quem vai nas celebrações, missas, quem já leu o novo testamento irá encontrar ela lá, em um dialogo do cego Bartimeu e Jesus (Não vou procurar a citação na integra pois não faço idéia aonde se encontra dentro da bíblia quem souber me diga). Este dialogo é um dialogo forte, onde a frase fica ainda mais marcante.
É difícil ouvirmos alguém perguntar: O que quer que eu faça por você? Quem sabe nos supermercados e nos bancos onde os atendentes usam algumas blusas escritas “posso ajudar?”, ou quando vêem que estamos com dificuldades para utilizar as ferramentas destes lugares. Além disso, onde ouvimos esta frase hoje em dia? Tento recordar, canso de pensar (e olha que estou pensando nisso a uns 5 dias), e não me lembro da ultima vez que alguém se reportou a mim dessa forma. Acho que nos últimos anos também não me recordo de nada nesta linha. Acredito que nem mesmo eu tenha feito está pergunta.
A ultima semana foi corrida, apresentação terça e quarta na escola Auxiliadora em Rio Pardo, onde foi muito legal trabalhar com as crianças, quinta a domingo em Frederico na ordenação e primeira missa do (Padre) Marcos Broc e visitar a minha família, coisa boa isso também, sentir-se em casa, tomar banho de sanga, de cachoeira, carnear porco, tratar dos animais. Mas todas estas atividades serviram para refletir sobre por que não nos doamos mais? O Padre Marcos é de uma congregação chamada Oblatos de São Francisco de Sales (OSFS), e oblato é quem se doa, a hóstia, eucaristia, que se coloca no altar para a doação.
Fazer um processo de despojamento, de doação nos dias que correm não é possível, as pessoas não se entendem, e não entendem mais umas as outras, não convivem como se fossem amigas, não existe relação. Os grupos de amigos são poucos, as relações verdadeiras menores ainda. O que acontece com o mundo. Em um trabalho da faculdade escrevíamos que o mundo está doente. Só pode estar mesmo. Doente de doação. Falta solidariedade e compaixão. Falta relacionamentos.
Acredito que estás coisas sejam obvias, que todos e todas já sabem disso. Mas se sabemos disso por que não mudar. Continuo não entendendo, e como diz um escritor de quadrinhos, Warren Ellis, em uma de suas hq´s chamada “Planetary”: Mundo estranho este.
E vai continuar estranho. Vai continuar as pessoas não se doando, não fazendo uma simples pergunta “O que quer que eu faça por você?”, você precisa de ajuda, de uma mãozinha, de uma força, de um “help”. Continuarei por ai, tentando achar pessoas que façam estas perguntas, e também tentando faze-las. A exemplo do Marcos, que se dou, e se doa, por uma causa que acredita.
Elisandro Rodrigues
Novembro de 2007Sobrando tantas perguntas.....

Sobra Tanta Falta
O Teatro Mágico
Falta tanta coisa na minha janela
Como uma praia
Falta tanta coisa na memória
Como o rosto dela
Falta tanto tempo no relógio
Quanto uma semana
Sobra tanta falta de paciência
Que me desespero
Sobram tantas meias-verdades
Que guardo pra mim mesmo
Sobram tantos medos
Que nem me protejo mais
Sobra tanto espaço
Dentro do abraço
Falta tanta coisa pra dizer
Que nunca consigo
Sei lá,
Se o que me deu foi dado
Sei lá,
Se o que me deu já é meu
Sei lá,
Se o que me deu foi dado ou se é seu
Sei lá... sei lá... sei lá....
Vai saber,
Se o que me deu , quem sabe?
Vai saber,
Quem souber me salve
Vai saber,
O que me deu, quem sabe?
Vai saber,
Quem souber me salve...

11.11.07


Parando para parar


"Nasci no meio de milhares de pinheiros, mas eu saquei que sou uma goiabeira..." (Tijuqueira)



Cada vez que eu vou escrever um texto sempre digo a mim mesmo, e as vezes escrevo, “faz tempo que eu não escrevo”. Na verdade ando escrevendo bastante. Trabalhos para a faculdade. Artigos para a pesquisa. Artigos para as cadeiras da faculdade. Textos de teatro. Na verdade ando escrevendo bastante. O que não ando escrevendo é coisas que as vezes queremos mesmo escrever.
Gosto de ficar as vezes no final de semana em casa sem fazer nada, jogado no tapete da sala, assistindo televisão, ou lendo algum livro a esmo. Gosto de fazer coisas que as vezes “são nada a ver”. E também gosto de escrever coisas que penso, que para alguns, é nada a ver. Estava pensando estas coisas hoje, e pensando em quanto tempo que eu não escrevo. Fiquei pensando em quanto tempo não fazemos uma porção de coisas que gostamos. Ir tomar um chimarrão em uma praça qualquer num dia de semana. Matar uma aula para ir no cinema. Ir em um teatro no final de semana. Sair para uma festa só para se divertir e curtir com os amigos.
Existe uma porção de coisas que não fazemos por estarmos muito ocupados ou não termos tempo. Na verdade não tirarmos tempo para estas coisas. Está certo que na maioria das vezes nossa vida é uma corrida. Corremos de casa para o trabalho, do trabalho para comer alguma algo correndo, do comer algo correndo para o trabalho, do trabalho para a faculdade ou escola. Estamos sempre correndo.
Não curtimos mais o ócio. O tempo livre. Não nos curtimos mais. Não paramos por parar. Não paramos para contemplar um pôr-do-sol, ou uma lua cheia. Não temos tempo para parar. Sem termos tempo para estas coisas nos mecanizamos, viramos uma máquina de produzir. Uma maquina de competição, onde se não chegar primeiro, ou fazer no melhor tempo não serve. Viramos frutos da sociedade moderna, neoliberal e capitalista.
Por isso hoje resolvi parar. Resolvi escrever o que estou escrevendo para ir contra está maré. Por que? Sei lá! Para ir contra. Para não me acomodar. Resolvi escrever o que gosto de escrever. Gosto de escrever sobre educação. Gosto de colocar minhas idéias no papel tentando refletir sobre um tema dos estudos da faculdade. Mas gosto principalmente de sentar e jogar as palavras na folha branca sem se preocupar em ganhar nota, em ser avaliado, em ser criticado, nas pessoas gostarem ou não do que escrevo. Escrevo por prazer de escrever. Por prazer de poetizar do meu jeito. De falar coisas que penso. Se fizéssemos isso mais seguido, se parássemos mais seguido, acredito que as coisas seriam um pouco diferente para todo mundo que vive nesta correria.
Paro por aqui, pois vou caminhar no sol, aquecendo o corpo e desenferrujando-o. Vou escutar uma boa música, ou ir em um teatro, ou simplesmente sentar numa mesa de bar sem ter pretensão de sair da companhia dos amigos e amigos. Vou parar um pouco para me sentir mais humano e fora desta realidade em que vivemos.

Elisandro Rodrigues
Novembro de 2007.
(Desenho de Picasso - old man)

25.9.07

Uma reflexão após abrir o Baú...


"O Contador de histórias africano começa assim: não queremos dizer, não queremos dizer que o que vamos contar agora é verdade. É apenas uma história, uma história; deixe-a ir e vir". (O Baú das Histórias - Gail Haley)

Quero começar este texto trazendo a reflexão que faço neste pôr de sol, que enxergo da janela de casa, sobre os sonhos que deixamos ir e vir. O que lhes conto é apenas uma história, mas é uma história que criou asas e voou. História que se faz presente nas pessoas e nas crianças. E como diz a letra da música da Bhia Tabert, composta para a peça “O Universo da Imaginação”: “Vou contar uma história que fala de brinquedo e brincadeira. Quem gosta de fantasia, conto de fadas e castelo assombrado vai gostar, então ouça que vamos começar.”
A história do Baú de Encantos está sendo contada neste blog, mas hoje queria lhes contar do que andamos fazendo, dos nossos sonhos que estão encantando e fazendo crianças sorrir, de uma forma embaralhada mas com os meus sentimentos.
Para um grupo que não tem um ano de vida ainda estamos muito avançados em nossos sonhos e nossas utopias se fazem na ação do olhar e do brincar. Não sei se isso se dá pelo desejo dos integrantes deste Baú de encantar ou o quê. Mas acredito que é na vontade que temos de construir algo novo que vamos caminhando e trilhando novos rumos.
Nestes últimos meses, de agosto e setembro, fiquei pensando em como estamos atarefados, é tanta coisa que às vezes não conseguimos nos organizar. É a peça da Família Pirata, que apresentamos em mais dois colégios de São Paulo e em uma atividade no Museu de Guaíba. É o Universo da Imaginação, que já apresentamos para mais de 300 crianças e uns 100 adultos (hoje apresentamos para crianças de 4 a 6 anos na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre). Tem também a peça que fala sobre “as lutas e os sonhos da juventude”.
Nosso mês de setembro e outubro está cheio com apresentações em escolas do Universo da Imaginação e de um novo projeto que se chama “Biblioteca Mágica” que apresentaremos em Santo Antônio da Patrulha. O que mais me fez ficar encantado nestes últimos dois meses foi em ver o sorriso estampado no rosto das crianças, daqui do Rio Grande do Sul e de São Paulo.
São reuniões e mais reuniões. Encontros para ensaio. Encontros para jogar conversa fora. Encontros para estudar. E tudo isso são momentos de vivência, de alegria, de sonhar com o novo. Deste sonhar o novo estamos com outros dois projetos, com outras apresentações marcadas, com muitas idéias que aos poucos vão enchendo o Baú de mais Encantos.
É esse sorriso que nos motiva a continuar com os projetos. No olhar dos jovens da FASE e das crianças dos Abrigos, com os quais começamos a trabalhar esta semana de setembro. Não são simples oficinas e simples apresentações. É esperança de que é possível por meio da arte transformarmos, modificarmos e sermos seres com dignidade.
São muitos os projetos, os sonhos, as aspirações que este povo do Baú de Encantos tem em seus corações, que a alegria de um contagia a tristeza de outro e leva a se encantar, se alegrar, ser feliz.
É de um jeito simples que construímos este Baú. É de um jeito simples que vivemos, que apresentamos. E é uma felicidade enorme que sentimos quando olhamos para as crianças e os jovens. Quando contamos a alguém o que estamos fazendo, e no olhar as pessoas contagiadas pela nossa proposta de trabalho, no olhar de gente nova se agregando ao grupo que continuamos a Encantar e juntar tralhas, bugigangas, novidades, sonhos e esperanças para dentro deste Baú.
Bom, o sol já se pôs e tenho que ir para a minha aula.
Abraços de encantos.

(Elisandro Rodrigues)
19 de setembro de 2007
"Contei minha história. Entrou por uma porta, saio pela outra. Quem quiser que conte outra."

1.9.07

A dúvida sobre o que escrever
"As paixões são misteriosas, e as das crianças não são menos que as dos adultos. As pessoas que as experimentaram não as sabem explicar, e as que nunca as viveram não as podem compreender. Há pessoas que arriscam a vida para atingir o cume de uma montanha. Ninguém é capaz de explicar por quê, nem mesmo elas. Outras arruínam-se para conquistar o coração de um determinada pessoa que nem quer saber delas. Outras, ainda, destroem-se a si mesmas porque não são capazes de resistir aos prazeres da mesa - ou da garrafa. Outras há que arriscam tudo o que possuem num jogo do azar, ou sacrificam tudo a uma idéia fixa que nunca se pode realizar. Algumas pensam que só podem ser felizes em outro lugar que não naquele onde estão e vagueiam pelo mundo durante toda a vida. Há ainda as que não descansam enquanto não conquistam o poder. Em suma, as paixões são tão diferentes quanto o são as pessoas" Michael Ende - A história sem fim.
Não sabia sobre o que escrever, faz uma semana que venho pensando em que escrever neste POST NÚMERO 100. Chegar a ele não foi fácil, cerca de 90% dos textos neste blog são meus, os outros de amigos, algumas noticias, frases soltas ao vento. Faz algum tempo que já venho postando neste endereço, quase dois anos de escrita, de expressar os pensamentos e as idéias.
Hoje em dia todo mundo escreve, e isso é bom, mas ainda poucas pessoas lêem. Não sei se as pessoas lêem o que escrevo, alguns sim, muitos não. Mas muitas vezes não escrevo para as pessoas, escrevo para mim mesmo. Mas este texto escrevo para as outras pessoas. Escrevo para dizer que cheguei ao post número 100. Muito blogeiros (está correto está palavra –depois procuro) já ultrapassaram isso com textos seus a muito tempo e muito mais rápido do que eu. Mas pensando nestas coisas, acabei refletindo na ousadia de escrever, na ousadia de se expressar. Poucos fazem isso. Como disse acima faço isso para mim. Mas é importante que as pessoas escrevam, que as pessoas lêem, me lembro da decisão e começar a escrever mais seguido, isso foi no dia 15 de novembro de 2004, não sou escrito, gostaria de ser, mas o que vale é a tentativa e a forma de se expressar. Fico feliz comigo mesmo, e com as pessoas que me lêem. Feliz comigo pois sou uma pessoa comum, como a maioria, estudo, trabalho, tenho as muitas crises – quase diárias, mas continuo a escrever, as vezes com sentido e muitas vezes sem sentido, mas estou fazendo isso por paixão.
Estou terminando de ler o livro do Michael Ende, A história sem fim, do qual muitos já devem ter assistido o filme, e nas primeiras páginas ele escreve o que transcrevi acima. As nossas paixões são as mais diferentes possíveis. Considero minha escrita uma paixão. Considero minhas leituras uma paixão. E considero os que me lêem com paixão.
Continuem se apaixonando por coisas, por pessoas, por livros, por textos...pois assim a vida continua a rodar feito roda gigante.
Elisandro Rodrigues
Setembro de 2007
Sentado na roda gigante e vendo as crianças a correr lá embaixo...

26.8.07


"Ou o tempo é nada ou é invenção."
Bergson foi um filósofo francês que teve muita influência nos meados do século XX. Ganhou prêmio Nobel de Literatura em 1927, e é dele a frase com que inicio este texto e dá titulo ao que escrevo. Utilizo muito está passagem para inúmeras coisas que escrevo, a última vez que a utilizei foi para a gravação da minha mensagem de agradecimento para minha formatura, aliás todos estão convidados e convidadas, dia 19 de janeiro de 2008. Mas hoje utilizo esta frase com um sentido mais amplo, trazendo para o campo do teatro e do fazer arte.
O Grupo Baú de Encantos vem nestes últimos meses inventando o tempo, ou criando com o tempo. São muitas as atividades que já temos agendadas e alguns projetos que estão começando a aparecer, como por exemplo um projeto de contação de histórias e oficinas de teatro com crianças que moram em abrigos. Para um grupo que nasceu este ano já estamos bem, com muitas atividades, muitas apresentações e alguns espaços de articulação.
Todo este trabalho que estamos realizando é algo diferente, para nós, e acreditamos para o teatro e o tema de produção e geração de renda. Sabemos que no Brasil são muitos os grupos culturais que trabalham com Economia Popular e Solidária (Geração de Renda), mas são poucos os que estão ligados com a temática do teatro.
Como nos fala Spolin: “A partir do objeto da procura de autenticidade e verdade, o teatro torna-se a possibilidade de restauração da verdadeira produção humana (...) Longe de estar submisso a teorias, sistemas, técnicas, leis, o ator passa a ser artesão de sua própria educação, aquele que produz livremente a si mesmo (...) O Fazer artístico é concebido como uma relação de trabalho.” (Viola Spolin. Improvisação para o teatro. São Paulo: Editora Perspectiva. Pg 13 e 14). Podemos perceber que a relação de trabalho com a arte está muito ligada, e que com isso restauramos a produção humana e a educação. O que queremos com a proposta do Baú de Encantos é isso: produzir reflexão, educação e geração de renda através do trabalho com o teatro.
Queremos inventar de uma forma criativa e lúdica, onde possamos trazer temas polêmicos, como o da pirataria, temas de reflexão como o mundo da imaginação e de provocação trabalhando a temática da conformidade juvenil. Tudo isso de um jeito simples, quase que de leigos que querem produzir teatro, mas também de uma forma divertida onde possamos estabelecer na relação do teatro possibilidades de sermos mais humanos.
(Elisandro Rodrigues)
Texto escrito para o blog do Grupo Baú de Encantos: http://baudeencantos.spaces.live.com/

25.8.07


"It's sometimes a mistake to climb, it is always a mistake never even to make the attempt. If you do not climb, you will not fail. This is true. But is it that bad to fail, that hard to fall?
Sometimes you wake up. Sometimes the fall kills you. And sometimes, when you fall... you fly."

(Neil Gaiman, in The Sandman )
Como sabes então o que vai acontecer? Não sabes. Tens de confiar no Sonho. Fugir só será pior...
Por onde escorre a tua vida tão longe da minha?

Minha vida escorre aos poucos... passam horas...minutos...segundos...dias e meses...e onde você está? Procuro-te em todos os lugares. Caminho durante a noite por entre os bares. Mas nada de te achar. Ando perdido durante o dia. Nas feiras. Nas lojas. Nos ônibus... mas nada de te encontrar...
As vezes penso que te perdi para sempre, mas sem esperar estou a tua procura novamente. Não me permito desistir. Por isso brinco com as palavras... para ver se assim chego mais perto de você. Se me leres me sentirá e me verás através das palavras, quem sabe até escute sussurrar em seu ouvido poesias e músicas que amas...
Não sei se me procuras... duvido, horas tenho certeza...mas ainda levo em meu peito a dor da distância, mas em minha boca trago o gosto dos beijos - ainda não dados- e em meu corpo teu perfume e seu toque...
Procuro-te e ao mesmo tempo te espero. Procuro-te para encontrar-te antes que chegues, antes de minha vida escorrer para o fundo da solidão... para longe de mim mesmo...te procuro e sigo caminhando por onde o sonho é real, pois como diria o poeta: "O caminho se faz ao caminhar...".

O expresso do oriente
Rasga a noite, passa rente
E leva tanta gente
Que eu até perdi a conta
E nem te contei uma novidade, quente
Eu nem te contei
Eu tive fora uns dias
Numa onda diferente
E provei tantas frutas
Que te deixariam tonta
Eu nem te falei
Da vertigem que se sente
Eu nem te falei
Que te procurei
Pra me confessar
Eu chorava de amor
E não porque eu sofria
Mas você chegou já era dia
E não tava sozinho
Eu tive fora uns dias
Eu te odiei uns dias
Eu quis te matar
(Os Paralamas do Sucesso - Uns Dias )

Elisandro Rodrigues
Procurando...
O olhar de um anjo é cor de mel...

“A voz de um anjo sussurrou em meu ouvido,
eu não duvido eu já escuto teus sinais...”

Existe um escrito chamado Neil Gaiman, no seu livro “Os filhos de Ananci”, ele fala que “...Coisas. Elas surgiam. É o que as coisas fazem, Elas surgem...” Com esta frase tento escrever sobre um anjo de olhos cor de mel. Olhos que quando vi, parecia estar olhando para o fundo do mar. Olhos que falam, que contam histórias, que espalham ternura, que dizem que a vida deve ser vivenciada e desfrutada com extrema intensidade. E que fazem surgir coisas...coisas boas, histórias novas. Existem muitas pessoas que desrutam de uma visão, e olhos, perfeitos mas nada vêem. Este anjo, do qual falo, seus olhos, ao contrário, são instrumentos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo e com os olhos das outras pessoas. Nos seus olhos vi o prazer. Nos seus abraços, poderia sentir afago, carinho, proteção, aconchego, me daria muito chamego. Fico pensando no seu tato...deslizando pelo meu corpo, suas mãos suaves...Nisso está a sua delicia-no deixar sentir! Nisso está seu perigo.

Seu toque deve ser perigoso! Suas mãos que afagam, seu corpo que traz calor e proteção devem encantar. Se me enfeiticei com seus olhos, o que esperar do resto de seu corpo.

Um filosofo nos fala: o que não passa pelo corpo não trasforma, não traz mudanças. Deve ser por isso que me cativaste tanto, você passou e está no meu corpo. Meu anjo me sussurrou para nunca esquece-lá, mas como esquecer a experiência que vivenciei no simples olhar, experiência que fez-se transcendência. Sabes, aquilo que a memória, o corpo, a boca, as mãos amaram, isso fica eterno. Com um simples olhar se tornás eterna em meu coração e no meu corpo. Esta coisa que surgiu, quando nossos olhos se encontraram, não sei meu anjo o que és!Mas sei que és. Devo estar louco!Primeiro por querer um anjo, segundo este anjo ter olhos cor de mel, e que toca, beija, abraça, cheira. Segundo, por querer entender a lógica dos sentimentos e este fogo que arde no peito. Os sentimentos a gente não traduz com palavras, a gente sente simplesmente.Mesmo sabendo que meu corpo não te esquecerá, reforço minha memória com a sua fala e utilizo da poesia e da música para lembrar de você, para me alimentar mais de você, do seu jeito simples e encantadora de ser...anjo de olhos cor de mel...anjo simples de pureza e ternura...simplesmente anjo...Fico esperando o momento de olhar os seus olhos novamente e ir além do simples olhar...

“Tudo bem quando termina bem
E os seus olhos (e os seus olhos)
Não estãorasos d’água
Mas eu sei que no coração
Ficaram muitas palavras
Um vocábulo interno de ilusão (e de paixão)
Tudo que viceja, também pode agonizar
E perder o seu brilho em poucas semanas
E não podemos evitar que a vida
Trabalhe com seu relógio invisível
Tirando o tempo de tudo o que é perecível
É impossível, é impossível esquecer você
É impossível esquecer o que senti(...)mas antes que eu me esqueça
antes que tudo se acabe
Eu preciso, eu preciso dizer a verdade
É impossível esquecer você
É impossível esquecer o que senti
É impossível esquecer o que vivi”
(Biquíni Cavadão – É impossível)

Anjos sempre estão presentes, mesmo não os vendo sabemos que estão ao nossa lado, você está ao meu lado para me abraçar e dentro de mim para amar...em meu corpo para me sentir...e assim sempre o será...

Elisandro Rodrigues
Para não perder o brilho e para sempre lembrar que a distância mantém os corpos, os olhos, as mãos longe, mas deixa as almas mais livre para voar e se encontrarem construindo assim o que quiserem...

21.8.07


Escutando histórias....


Esta estória que lhes conto agora, foi me contado em uma roda de conversas, a muito tempo atrás, na época em que existiam pessoas que sentavam em roda e contavam histórias na beira das fogueiras a luz do luar.
Foi um senhor de idade, um velho, que me contou. Não faço idéia da idade dele, mas pelo jeito passara dos cem anos. Eu estava em um momento muito reflexivo de minha vida e encontrei por acaso aquele grupo, pois estava perdido na noite e resolverá acampar em um local seguro para continuar minha peregrinação, no grupo ao redor da fogueira tinha umas seis pessoas, dentre elas este velho. Fiquei sabendo depois que este velho sempre ficava neste mesmo lugar, e noite após noite contava histórias aos viajantes.
Mas a história que ele me contou era assim: dizia ele que existiu um reino distante chamado Solidão. Disse também que neste reino se encontravam muitas pessoas que viviam sozinhas nesta cidade chamada Solidão. Esses habitantes eram sós. Nunca conversavam com ninguém, nunca se tocavam, nem um olhar nos olhos eles davam. Até mesmo os viajantes quando chegavam nesta cidade eram como que enfeitiçados, ou entendiam bem, e não falavam nada, compravam gesticulando, nunca olhando nos olhos, nunca falando, nunca dando atenção.
Mas eis que um fato neste lugar aconteceu, uma jovem, de olhos encantadores, despertou em um viajante o fogo da paixão. Este andarilho fez de tudo para e aproximar desta moça. Mas como neste lugar o chegar perto mais de uma vez sem um motivo claro, era uma ofensa grave aos costumes, e este andarilho apaixonado foi exilado no lugar mais distante deste reino. Muito tempo ficou lá. Tempo que nem mesmo os calendários suportaram contar.
Quando este jovem foi solto de sua prisão, sai logo a procura da moça que o encantara. Mas não achou ela na cidade. Decidiu sair a procura dela por todos os reinos que conhecia e desconhecia. Ele escutou, que as autoridades haviam matado ela por desobedecer às regras estabelecidas pelos sábios da solidão, foi acusada de olhar nos olhos do viajante e lançar-lhe sorrisos. Por isso teria sido morta. Mas o jovem, de coração apaixonado não acreditou e lançou-se em sua jornada. Não sabia ele, e o velho disse que ele ainda não sabe, que ela fora exilada em reinos muito distantes, mas que havia escapado e estava também a procura dele, mas como nenhum dos dois soube informação do outro, ainda estão um a procura do outro.
Depois que o velho contou isso, fiquei um pouco a me esquentar na fogueira pensando na história e logo adormeci. Na manhã seguinte quando fui procura-lo para saber mais detalhes deste reino e destes jovens apaixonados, não o encontrei. Continuei meu caminho...a procura de um olhar e de um sorriso.


"A solidão é fera, a solidão devora, é amiga das horas, prima irmã do tempo e faz nossos relógios caminharem lentos causando um descompasso no meu coração...”(Ana Marques)


Elisandro Rodrigues
Agosto de 2007.Caminhando por reinos a procura de um olhar, de um sorriso e de um abraço...

(Foto de Ana Marques)

20.8.07

Sem Identidade


Muitas pessoas hoje vivem em uma crise de identidade. Os paradigmas não são mais os mesmos. O nosso mundo avança de uma forma muito rápida, onde as pessoas não conseguem acompanhar, onde é difícil de se acompanhar. O "stress" e a depressão tomam conta dos seres humanos, e assim às pessoas acabam perdendo a identidade, ficando sem rumo em suas vidas.
Existem outras que com o mundo globalizado, acabam querendo imitar as modas, tornando-se assim iguais ao que a mídia impõe. Também há aqueles que não sabem quem são mesmo.
Não sei onde eu estou neste universo de gente sem identidade. Só sei que perdi a minha identidade. Não sei onde. Não sei se foi na universidade, se foi na casa dos amigos e amigas. Se foi no passeio na Redenção ou no Gasômetro. Só sei que sou um homem sem identidade.
Um homem sem a Carteira de Identidade.

P.S: Depois de pensar e de escrever este texto, fui procurar minha carteira de identidade, acabei achando ela nos achados e perdidos da faculdade. Mas que existe muitas pessoas sem suas identidades, sem seu jeito, ou sem uma forma de Ser, isso temos bastante. Muita gente em crise e perdida.
Elisandro
Agosto de 2007.
Com a Carteira de identidade achada, mas a identidade, sei não...

19.8.07

Um "Findi" em POA!


Sábado. Dia inteiro em casa. Assistindo filmes no "PC" e no TeleCine aberto. Pôr a casa em ordem. Frio danado para sair a noite.Chuva para complicar. Quedas de luz constante. Queda do celular no vaso sanitário. Dia completo, as cobertas me esperam é a unica solução. Que dia do Cão!

Domingo.Sol aparencendo pela manhã para aquecer e alegrar o dia. Sem vontade para fazer a comida em casa. Solução: "Filar" a "boia" na casa de uma colega da "facu". Descer para a Redenção, aproveitar o sol para "lagartear". Tomar um "chimas". Encontrar amigos e amigas. "Prosear" um pouco. Ir para o Gasômetro. Passear com o cachorro da amiga, o Bola. Correr feito Louco com ele para escapar da chuva. Ir para a cidade baixa tomar uma "ceva" Uruguaia, a boa Patrícia. Voltar para o Gasômetro para assistir uma peça de teatro. Tomar um banho de chuva até chegar lá. Encontrar pessoas agradavéis. Terminar a noite com um bom abraço. Que dia dos bons!


"Eita" Final de Semana em Porto Alegre!

Elisandro Rodrigues
Mais da metade do mês de agosto de 2007.
Esperando o próximo "findi".

13.8.07

Sobre uma letra de música e um conto de fadas...


Uma letra de música!

dos ditos que há na terra não
não há nenhum que já declare
já lhe exprima
beleza incerta qualquer coisa singular
só lhe conhece o silêncio das retinas
atrai os loucos e os devora feito mulher
embora guarde em sua alma uma menina
o seu não sei, o que ela tem vai muito além
distante dessa minha pobre rima
dos ditos que há na terra não
não há nenhum
(Ditos – Tijuquera http://tijuquera.com.br/)


Um conto de Fadas!
Perco-me ao procurar o meu amor. O caminho se faz longo. A jornada árdua. Mas não desanimo. Continuo a trilhar o caminho da paixão. Navego mares bravos. Percorro pântanos. Passo por florestas amaldiçoadas. Luto contra soldados e bandidos. Contra leões e dragões. Até chegar ao castelo onde meu amor é prisioneira. Subo até o alto do castelo, para desvencilhar a princesa de sua prisão. Mas ao chegar no topo, ao olhar e contemplar o horizonte fico espantado. Sento-me e admiro a beleza do horizonte. Vejo meu Amor-Princesa-Deusa correr em minha direção a procura do meu abraço. Abraço-a e faço da sua prisão a libertação, faço do castelo nossa morada e do horizonte nossa inspiração.

Elisandro Rodrigues
Agosto de 2007.

Encantado com a vista do castelo.

11.8.07


Fragmentos de poesias e pensamentos...


Belo Horizonte – Flavio Ventutini
Como vai BH?
Ouve a voz da montanha
Como vai?
Sei de cor meu lugar
Belo horizonte
Quando cai a tarde em meu coração
Liberdade a praça das paixões
Se distante a saudade quer chegar
Quem feriu a linda serra do curral
Luz da lua apareceu
Como se fosse sonho meu
Como se fosse bom
Manacá como vai?
Dama da noite como vai?
Se de cor meu lugar
Salve a floresta
Vam andar no prado , Cidade Jardim
Hoje é festa
Na dor das capitais
Nas cinzas dos quintais
Se entreguei meu coração num dia assim
Li seu nome na palmeira imperial
Encantado descobri
Flor de Minas bem ou mal


Muitas das descobertas se dão ao acaso. Se dão pelo fato da curiosidade ser aguçada por pequenos detalhes. O amor pode nascer deste acaso, destes pequenos fragmentos semeados no meio das tempestades, onde pensa-se que não existe vida, só destruição. Quem sabe. Quem sabe onde a flor lançada no vento nascerá. Quem sabe o desfecho dos sonhos que se começam a sonhar. Nos olhos das crianças curiosas, das crianças que teimam em um determinado objetivo, que vão a lugares desconhecidos e misteriosos, que enfrentam em suas brincadeiras mares furiosos, feras sem iguais e penetram no desconhecido...por que não penetrar no seio da tempestade e colher as sementes que voam em seu ventre.


Ela: Oi
Ele: Oi
Tudo bem meu anjo?
Ela: Sim e você?
Ele: Eu também.
Ela: que bom... seus sonhos começaram a se tornar realidade?
Ele: bom, ainda não
mas de um dia para o outro é pouco tempo
mas senti o seu abraço..
Ela: esse tempo é relativo...
já é um começo
Ele: eu senti pelo menos
Ela: já desejar o abraço já é o começo...
Ele: sim, e desejo mais do que um abraço
Ela: que mais você deseja meu caro?
Ele: um afago
um aconchego
.
.
.
Ele: me diz uma coisa
se gosta
de flavio venturini
Ela: adoro!
Ele: to escutando
Ela: chico buarque?
Ele: sabe o que te peço "noites com sol"
não, flavio venturini, ou eu gosto de chico, se é , eu gosto muito
Ela: sim... se você gosta de chico.
estou escutando...
.
.
.
Ela: a companheira abrange todas essas mulheres...
Ele: sim, mas dá um sentido a mais
eu li um texto em que diz, que uma "namorada" ou "namorado" tem que ser: amiga, anjo, mulher, amante e companheira
Ela: isso...
quero ver
Ele: então
verás!
na pratica, pode ser
Ela: rs
antes disso você precisa conquistar 3 coisas...
Ele: o que
me diga cara, o que preciso conquistar para ser seu companheiro
Ela: minha cabeça...
meu corpo
e meu coração.
Ele: o mais dificil será conquistar seu corpo
mas me lançarei nesta cruzada
nesta caminhada
em busca da beleza, da boniteza
Ela: rs...
Ele: seu coração será minha poesia
sua cabeça a beleza e a boniteza
e seu corpo será o caminho sagrado, em busca do mel
dos seus lábios
do afago de suas mãos
do calor do seu ser
Ela: e além da matéria...
Ele: além da materia
a alma
na verdade minha jornada será em busca de seu coração, de sua razão e de sua alma
o corpo, este será o ultimo a receber meu toque
serás o ultimo para saciar a sede de quem vai, nesta jornada em busca de um só lugar
mas para tudo , preciso de três coisas também
Ela: sim...
Ele: preciso das palavras,
preciso da abertura ao novo
e por fim, preciso estar olhando os seus olhos
para completar a peregrinação, a jornada
.
.
.
Ela: se pudesse olhar nos meus olhos agora... o que faria?
Ele:eu adimiraria primeiro
Ela: são transparentes...
Ele: a beleza, a ternura, e a vida que eles contem
Ela:não veria apenas dois olhos claros.
Ele: para assim olhar sua alma
depois de olhar através dos olhos a sua alma
te conduziria, com os olhos fechados, através de palavras para a boniteza que é a poesia e a musica
para te encantar e cantar, e quem sabe de enfeitiçar
para depois abraçar-te, com força, com vontade
e com paixão
que faria se visse você, se visse seus olhos, se te visse neste momento
Ela: como não me vê... conquista meu coração primeiro...
imensamente.
Ele:mas para conquistar seu coração, me diga primeiro:
estás aberta a ser cativada com tamanha intensidade e incondicionalidade

Ela: sempre estive...


"Os outros podem jurar que me conhecem demais... quando acaso penso o mesmo, o demônio diz...há mais.”

Porque há luz por todo o túnel... basta abrirmos os olhos... porque mesmo no escuro há de se amar a beleza de seu horizonte.

"... porque o amor contém mais do que quatro letras ..."


Elisandro Rodrigues(Com a colaboração de M.A)
Agosto de 2007
No calor e no frio...nas sementes e tempestades...

Noite dos Mascarados
Chico Buarque/1966

Ele: Quem é você?
Ela:Adivinha se gosta de mim
Os Dois: Hoje os dois mascarados
procuram os seus namorados
perguntando assim:
Ele: Quem é você,
Ela: Diga logo que eu quero saber o seu jogo
Ele: Que eu quero morrer no seu bloco
Ela: que eu quero me arder no seu fogo
Ele: Eu sou seresteiro,
poeta e cantor
Ela: O meu tempo inteiro só zombo do amor
Ele: Eu tenho um pandeiro,
Ela: Só quero um violão
Ele: Eu nado em dinheiro,
Ela: Não tenho um tostão
Fui porta-estandarte,
não sei mais dançar
Ele: Eu, modéstia à parte,
nasci prá sambar
Ela: Eu sou tão menina,
Ele: Meu tempo passou
Ela: Eu sou colombina,
Ele: Eu sou pierrô
Os Dois: Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal,
deixa a festa acabar,deixa o barco correr
Deixa o dia raiar que hoje eu sou da maneira que
você me quer
O que você pedir eu lhe dou,
seja você quem for
Seja o Deus quiser

6.8.07






Na espera do abraço...






Não tem sol, nem solução



não tem tempero no meu dia



Não faz mal se a situação não traduz nossa alegria



Não ter festa dá a impressão de que o mundo ficou sério



não tem bala, belo, bola ou balão



não tem bula meu remédio...
Não tem mal, nem maldição



não tem sereno no meu dia



Não tem sombra e assombração



Não tem disputa por folia



Tem bola de capotão, capitão capture essa menina



tem saudade e saudaçãotem uma parte que não tinha...



(Uma parte que não tinha – O Teatro Mágico)






Dia triste. Céu fechado. Dia cinza. Poucas esperanças. Mas como diriam os mais sábios a esperança é a última que morre. Minha alma sai de casa a procura da parte que ainda não tem. Na procura desta parte sigo em frente, em um tempo curto que é o tempo da viajem que faço de uma parte da cidade a outra, vejo e esbarro os meus olhos em muitas coisas: jovens, idosos, miséria, pobreza, riqueza, alegria, felicidade...tudo junto, como se fosse cada coisa uma coisa só, mas ao mesmo tempo tudo separado e distante um do outro. Penso na distância de seu abraço...
Chego ao meu destino. Aqueço-me no sol a espera... Aqueço meu coração a espera...de um abraço!
O dia triste ainda está. Mas ao vê-la chegar o dia muda. O céu abre, e o sol aparece ao mesmo tempo em que vejo seu sorriso. O corpo aquece com o abraço recebido. Parece que tenho uma parte que eu não tinha.
O dia ainda continua frio, mas meu corpo não se importa com ele, está aquecido pelo abraço gostoso, pelo sorriso singelo e sincero. Enquanto caminhamos penso. Penso na beleza do encontro, na alegria do olhar. Vejo nos olhos seus o brilho. E no meus sinto a felicidade transbordado. O dia vai dando lugar à noite. A noite cede o lugar ao chocolate quente, a conversa agradabilíssima sobre a vida: musicas, filmes, idéias e pensamentos que temos.
Filme é isso que vamos ver. No escuro nossas mãos se procuram, se amam, se beijam, se tocam. Deixo minha cabeça descansar no seu ombro e meu corpo se aquecer junto ao seu.
Como tudo vem, e tudo vai. Com o dia cede lugar a noite, a noite chega ao fim. Me despeço. Te abraço forte para sentir-te mais perto. Meus olhos procuram os seus, e neles percebo uma faísca de que o impossível pode se tornar possível. Minha boca fica tentada a sentir o gosto de chocolate e mel de sua boca. Agüento a tentação a espera de outra oportunidade.
Vou para casa na espera de que outros dias como estes venham. Que outros abraços e outras conversas sejam possíveis.






Que o teu afeto me afetou é fato



Agora faça me um favor



Um favor... por favor



A razão é como uma equação



De matemática... tira a prática



De sermos... um pouco mais de nós!
(Fé Solúvel – O Teatro Mágico)

Elisandro Rodrigues
Inicio de agosto.


Na saudade e an espera dos abraços quentes.
Imagens retiradas do site http://fotolog.terra.com.br/zombando

22.7.07

Tudo é outro(a)
(ou do aprender com o outro(a))


“Tudo é outro, o outro, que vem romper o sonho sem dar verdadeira companhia, ou, dando-a pela metade; ama, guardiã, vigia, imposição do estar desperto, quando se estava dormindo tão bem. É o sobressalto que todas as manhãs experimenta aquele que tem que despertar e sair, mesmo que saiba para onde. Sempre há que sair em busca do outro. A maravilha é sair com o outro. Então, não há alteridade, mas conjunção, síntese, o êxtase necessário que a liberta da ausência e da presença do outro”. Maria Zanbrano


Que maravilha é acordarmos e sentirmos a presença de nossa companheira (o) ao nosso lado, no sono das Deusas (es), mas, que tristeza é quando acostumamos com esta presença ao nosso lado e em uma manhã qualquer acordamos sem sentir esta presença. O vazio habita nosso ser, a solidão se começa a fixar residência, a saudade começa a aparecer, e o coração bate forte por uma paixão perdida.
Existe uma grande necessidade do outro (a), de buscar este outro se instala em nosso corpo. Falta. Sentimos tanta falta deste outro (a). Sabemos que não podemos viver sem estar acompanhado, que sem alguém estamos sozinhos, queremos a conjunção, a síntese, o estar junto. O abraço e o aconchego do colo.
Por mais que exista esta necessidade, muitas vezes nos tornamos sós, por quê? Medo? Desistimos dos outros(as), perdemos a esperança na alteridade. Zanbrano diz que “Se continuarmos assim, substituindo realidades por conceitos, podemos assenhorear-nos de tudo, mas esse tudo carecerá de...realidade”, queria ou não precisamos do contato com o outro (a), do dialogo, do carinho, do afago, do abraço, da briga. Não podemos ser, sem o outro (a).
Fico pensando as vezes, em como nos afastamos das pessoas, como perdemos o contato com os amigos e amigas. Como deixamos o outro(a) perder sentido em nossa vida. Está certo que algumas pessoas passam, que são pontes de relação para outras que ficam. Todo mundo já deve ter passado por um momento destes: Quando encontramos uma pessoa que gostamos, que está em nosso coração, mas que por algum motivo; preguiça, acomodação, não mantemos contato, o êxtase do encontro, do abraço, do ver o outro(a). Sentimos uma euforia sem descrição.
Ficaríamos felizes se pudéssemos ter todas as pessoas que gostamos perto de nós. Mas a realidade precede de algumas ausências. Tudo em nossa vida depende do outro(a). Para nascermos precisamos de duas pessoas. Para aprendermos precisamos de outra(o) pessoa. Para sobreviver precisamos do outro (a), mesmo que neguemos isso, precisamos de companhia, de afago, de construir relações.
Deleuze, filósofo francês diz que “...nunca se sabe de antemão como alguém chegará a aprender – através de que amores se chega a ser bom em latim, por intermédio de que encontros se chega a ser filósofo, em que dicionários aprende a pensar (...) Não há um método para encontrar tesouros e tampouco há um método de aprender, a não ser um traçado violento, um cultivo da Paidéia que percorre o individuo em sua totalidade. (...) A cultura é o movimento do aprender, a aventura do involuntário que encadeia uma sensibilidade, uma memória e logo pensamento”.
Tudo é outro(a). Tudo é aprender com o outro(a). Nos fazemos no movimento de relação, movimento de fazer cultura, no movimento de Ser....

Elisandro Rodrigues
Aprendendo a ter o outro(a) por perto.
22 de Julho de 2007
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Disse uma criança para um velho: "Nós somos feitos do mesmo tecido que os sonhos são feitos". O velho ficou sem entender nada, e a criança continuou "Por isso, tudo o que sonhamos e desejamos podemos realizar, pois nós somos os sonhos, e os sonhos estão em nossas mãos, em nossos pés, em nosso corpo todo". Dizendo isso a criança se pôs a caminhar e a brincar com as borboletas e cachorros que a acompanhavam....

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Na varanda de sua casa, Eno via o vento brincando com as folhas caídas. Pensava ele em ser brisa nessas horas para junto com o vento brincar e correr por todos os cantos e lugares do mundo. Conhecer maravilhas e descobrir mundos.
“O sonho parece verdade quando a gente esquece de acordar, o dia parece metade quando a gente acorda e esquece de levantar”.
Este menino vivia a sonhar, mas sempre estava sozinho. Sonhava que era guerreiro, pirata, mocinho, astronauta...sonhava que descobria tesouros e desbravava territórios ainda desconhecidos. Tinha dias que inventava e desfazia mundos.
Mas sempre se sentia só, nunca tivera amigos para brincar e compartilhar a imaginação. Um coração vazio de amor era o seu, pois nunca conhecera algo que o fizesse pulsar.
“Há manhas que me trazem medo... Sei que aqui no mundo espero alguém. Alguém que me faça esperar pelo agora. Passaro canta, a flor floresce ao dia...”
Certo dia a correr sozinho pelos campos avistou uma menina sentada embaixo de uma arvore. A sua curiosidade o aguçou e ele foi até ela.
-Oi - disse Eno
-Olá - ela respondeu-me chamo Nina e você?
- Meu nome é Eno. O que você faz aí sozinha?
- O mesmo que você, brincando.- Disse isso e se levantou, começou a brincar com o vento e com as borboletas. O menino ficou observando ela. Seus olhos brilharam. Seu coração começou a bater, cada vez mais rápido. Se encantou com a leveza e a ternura daquela menina.

2.7.07



Sobre o amor e lutas


“O amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências que se respeitam. Cada um tem o outro como sujeito de seu amor. Não se trata de apropriar-se do outro.” (Paulo Freire. Educação e Mudança, 1979.)



Da realidade que vivemos. Das lutas que travamos.
Dos amores que temos. Do ato amoroso que desprendemos.
De um olho de hórus e o encantamento.


O amor não é uma apropriação. Quando se apropriamos de algo, este algo passa a ser um objeto qualquer. O amor é mais que isso, como diria Freire, é a intercomunicação, é o respeito, é o se fazer companheiros. Se comprarmos uma flor, ou arrancarmos ela do seu chão, logo veremos esta beleza murchar, e o perfume acabar. Mas se olharmos esta flor no campo, ela permanecerá lá, embelezando e perfumando os caminhos. Sempre a teremos. Sempre teremos seu perfume. O amor é isso, liberdade e diálogo.
Como diria Freire, “O diálogo é o encontro amoroso dos seres humanos...”, em um desses encontros amorosos, conversava sobre a esperança e os sonhos. Realista que sou, falava que a somos seres desesperançados, que nossos sonhos nos mantêm de olhos fechados para o mundo que está presente, para a realidade que aflige e castiga o mundo: a miséria, a fome, a violência, a desigualdade.
Mas minha interlocutora me dizia que não: somos seres da esperança, do amor, temos fé de que é possível mudar a realidade. Apesar de concordar, a discordava. Discordava para mostrar que não adianta simplesmente sonharmos, termos esperança e fé. Não adianta só amarmos. Temos que ser mais, fazer mais. A realidade grita isso. O amor também é assim, sempre precisa de algo mais. Correr riscos sempre é necessário. Fazer deste encontro amoroso um sonho concreto. E é aqui na concretude das ações que paramos.
Não nos apropriamos nem da realidade para muda-la e nem do amor para amarmos nos tornando sujeitos. Tanto na luta cotidiana por mais dignidade, quanto pela luta pelo amor de uma pessoa, devemos sonhar com os sonhos nas mãos. Lutar com os sonhos nas mãos. Se não fizermos isso, e ficarmos somente na retórica das palavras de que o amor deve ser encarado sem medo, e termos medo de nos aproximarmos, de nos doarmos, ficará só no sonho. Se a realidade que buscamos mudar não for encarada e nossos sonhos e palavras virarem práxis de nada servirá as intermináveis reuniões, os lindos projetos se não formos ao povo e os ajudarmos, não como quem quer transformar o mundo para eles, mas transformar o mundo com eles. “Amigo, se você veio aqui pensando que ia ensinar nós a derrubar o pau, nós tem de dizer a você que não é preciso. Nós já sabe derrubar o pau. O que nós quer saber é se você tá com nós na hora do tombo do pau”.
A mudança, a transformação se faz na luta prática e cotidiana. Assim quem sabe iremos mostrar que é possível mudar, mas se nossa prática não for concreta e ligada com a realidade, de nada adiantará dizer que queremos um outro mundo possível. Como já disse, isso serve para o amor também. O ato amoroso, a construção de uma intercomunicação, o tornar-se sujeito, isso se faz sem medo. Sem medo do que acontecerá, das dores, das frustrações, temos que estar abertos ao amor, receber e amar, respeitando é claro o tempo e o espaço de cada um.
Como é difícil construirmos a esperança, como é difícil ter fé, como é difícil mudar a realidade em que vivemos e como é difícil amar. Mas a esperança me conduz a construir sonhos com as mãos, o amor me dá forças a não cair no caminho e a fé me alimenta de utopias. Com isso minha loucura se faz presente no dia a dia de luta e de amor.

P.S: A propósito no dialogo amoroso que tive, teve outro elemento que se sobressaiu: o encantar, se é possível nos encantarmos novamente por uma pessoa que já fomos encantados. Disse na hora que não, mas olhos de hórus te digo que sim, pois as flores plantadas nos campos sempre serão belas. E o amor que damos, o carinho que conquistamos, o cativar que criamos, isso sempre permanecerá, eternamente.

Elisandro Rodrigues
Inicio de inverno de 2007.

1.7.07


Faz tempo que não escrevo. Não é que não tenha o que escrever, até tenho. Não é por que não estou encantado e apaixonado. Ainda estou. Não escrevo mais pois todas as palavras estão ditas nas poesias e nas músicas, nos olhares apaixonados, nas vidas vividas, nos recados de celulares, nos scraps, nas conversas no msn. Tudo o que queria escrever está sendo dito por muitos amantes neste momento. Não escrevo mais por isso: as pessoas escrevem suas vidas. E vivem as vidas. Alguns amam, outros são amados. Existe aquele, como eu, que não sabem se são amados, se são desprezados, mas sei que as pessoas me gostam. Isso basta?Não sei dizer. Só sei dizer que os lirios dos campos são mais bonitos, que o verde dos olhos encantam, que as flores perfuman....





Boneca de Pano

O Teatro Mágico


Que força é essa, linda flor?

Que se anuncia sem pudor

Que faz o mundo se inclinar

Só pra poder te admirar

Teu riso realçando a flor

Inebriante caminhar

A lua sobre o pobre mar

Debruça pra te admirar

Que prece é essa?

Que sonho é esse?

Que forma tão rara

Que olhar sincero

Que força é essa, linda flor...

Teu riso realçando a flor*

Inebriante equilibrar-se

Que faz o mundo se inclinar

Só pra poder te admirar

Que preca é essa?

Que sonho é esse?

Que forma tão rara

Que olhar sincero

Que força é essa, linda flor...

Rodopia

Boneca de pano

Rodopia

Boneca de pano

Que força é essa, linda flor...

16.6.07


A morada de um coração

“Quanta maldição, meu coração não quer dinheiro, quer poesia...” (Maldição – Zeca Baleiro)

Qual seria a melhor definição para se dar aos nossos sentimentos, alguns se atrevem a dizer que é a confusão. Confusão de sentimentos que habita nossos seres e nossos corações. Ainda mais quando se trata do sentimento “amor”. Que loucura se torna nossa vida quando começamos a senti-lo através da paixão, do suar frio, do tremer as pernas quando vemos a pessoa da qual gostamos.
Dizemos que o coração é o lugar onde mora e habita o amor. E que para adentrá-lo precisamos ser convidados. Mas quando não se convida alguém para entrar. Quando esse alguém chega de supetão, empurra as portas, quebra as janelas, e entra como um vendaval espalhando os arquivos e os sentimentos já organizados e acomodados. O que fazemos com este alguém?
Pedimos para ele sentar, se acomodar, tomar uma xícara de café. Ou oferecemos algo mais forte: uma cerveja, um vinho, uma cachaça? Quem sabe um chá para se aquecer? E se essa pessoa não quiser nada disso. Se ela quiser passear pelos cômodos de nosso coração, visitar nossos sonhos, e for perfumando com o encanto que carrega cada lugar que passa, deixando sua marca, seu cheiro. E se ela se cansar e quiser sair de nosso coração, do nosso território sagrado: deixamos? Impedimos? Trancamos as portas e fechamos as janelas? Ou simplesmente deixamos ir, com um convite de que volte sempre, mas que avise da próxima vez?
E se depois que esse alguém for embora, sentirmos nosso coração vazio, só com o perfume no ar, preenchendo cada canto de nós. O que fazemos: corremos atrás dessa pessoa, procuramos nos quatro cantos do mundo, nos ventos da liberdade, nas brisas de outono...aonde vamos procurar se não sabemos como encontra - lá? Encontrar pelo perfume? Pelo cheiro? Por fotos? E se não a acharmos e sua falta começar a se tornar uma saudade. Saudade essa que nos enchem de mais paixão, que arrebata nossos sentimentos tornando se angustia. Angustia por não ter essa pessoa, por não vê-la, não tocá-la, não senti-la.
Dizem que para o coração não existe razão, apenas aquele sentimento de será ou não, um motivo para ir além. E se quisermos ir além, e nesse além descobrirmos o coração dessa pessoa que adentrou o nosso. Voltamos correndo para o nosso e nos trancamos? Esperamos uma oportunidade para pedir permissão para entrar? Entramos como entrou no nosso? Deixamos ficar e perceber o que acontece com este coração misterioso.
E se ficarmos e notarmos que este coração trouxe algumas aspirações quando saio de dentro do nosso: as belezas, as poesias, os sonhos. Nem notamos que havia faltado alguma coisa, passamos tanto tempo organizando e se perguntando o que fazer, que não percebemos que esse alguém gostou de nosso amor, do nosso território, e que no seu está tentando construir algo parecido como o nosso. Ficamos ali parado? Voltamos para o nosso lugar, quentinho e aconchegante, ou adentramos na bagunça desse outro alguém.
E se de supetão invadimos o coração desse outro alguém, e sem pensar começamos a falar que está tudo errado, que isso não é aqui, que aquilo é lá. E se neste movimento sentirmos agarrados, abraçados, beijados por este alguém....e ficarmos assim, juntinhos, sentindo o chamego e o aconchego.
Sabemos que já estamos apaixonados, envolvido por este alguém. Nós que fomos tão ajustados na mesmice do nosso território, que sempre tivemos medo de mudar, de ousar, de lutar. O que fazemos?
Amamos, é isso que fazemos, e nisso permanecemos....Sem medo de bagunçar o já organizado coração. Com a loucura do amor ficamos e retribuímos os beijos e os abraços. Entregando assim a chave de nosso pobre coração, já arrebatado e conquistado.

Elisandro Rodrigues
Final de outono. Frio. Amando um coração bagunçado.
16 de junho de 2007.

*Texto escrito depois de uma conversa com a amiga, Pauline.


Com sentimentos de um amor dedicado a uma princesa, um flor que me encantou e me encanta com seus sorrisos e abraços.



13.5.07


Nos processo de vida nosso, nas nossas opções, sempre encontramos alguns referências teóricos e de testemunho prático. Na minha caminhada pastoral, um desses referências completa 70 anos já, trago um texto dele aqui, que mostra por que ele é um cara que merece nosso respeito, nossa admiração e nosso estudo.



70 SUPÕE 50...
CRÔNICA DE ANIVERSÁRIO

Dizem que ao chegar aos 70 começa a nascer a vontade de recordar. Não quero fugir dessa divina tendência. Fiquei pensando no que faria neste dia em que completo 70 anos de vida e festejo, com meus amigos e amigas, os 50 anos de vida religiosa e decidi: vou recordar! De forma abreviada, mas com algumas coisas que consigo sentir e agradecer nesta data. Meu dia de aniversário sempre tem uma forte concorrência: o dia das mães e é por isso que vou dedicar o que escrevo a esta mãe (nossa e minha). Nascer, em todos os sentidos, tem tudo a ver com a mãe. Que ela, lá do céu, abençoe a mim e a todos e todas, em todos os nossos sonhos e desajeitos.

Nas minhas confidências sempre digo que tive três vocações: a de ser padre, a de ser jesuíta e a de ser um padre dedicado à juventude. Onde me firmei mais foi na terceira, e não estou arrependido. A imagem pretensiosa que se levanta em mim, nos últimos meses, é a de Dom Quixote. Aliás, é a obra que estou relendo nestes dias de celebrações. Toda pessoa precisa ter uma “causa”, assim como o magro Quixote. Como Quixote, tive a ventura de voltar, nestes dias, à cidade do Rio de Janeiro onde os jovens plantaram, em mim, esta bandeira. Encontrei-me, para celebrar, com uns quantos deles – agora todos casados, lutando na vida e não deixando de me recontar os anos que entre eles vivi. São dessas coisas de matar...

E aí fico pensando na necessidade maluca que a “gurizada” tem de referenciais. Todos nós, aliás, precisamos de modelos. Não é por nada que o Nazareno disse que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Lendo certos recados no “orkut”, escritos por jovens e adolescentes, arrepio-me pensando como é importante encontrar gente que esteja de bem com a vida, mesmo no meio dos atropelos. Estou aprendendo que, para estar do lado dos jovens, não podemos trilhar o caminho da vaca, isto é, precisamos ter aspectos de “desviantes”. A gente, contudo, não é “desviante” porque decide se-lo mas porque a gente é, simplesmente, sem encontrar muitas fórmulas. Um dos aspectos do “desviante” é que ele sabe rir das coisas. Por isso que o jovem é o sacramento da alegria.

Nos 50 e 70 anos que vivi dei-me conta que larguei muita coisa. Larguei a família (que adoro), larguei casar (que adoro), larguei ter coisas (que adoro), larguei a literatura (que adoro), larguei a UNISINOS (que não adoro tanto), larguei o IPJ (que adoro e sofro com o que fizeram com ele. Um pecado!); enfim, larguei muita coisa para abraçar outro aspecto da causa. A causa do Reino traduziu-se, não sei como nem porquê, na causa pela juventude. Dizer isso até parece presunção mas é a utopia que não estou querendo largar. Na juventude, de repente, está tudo.
Outra coisa que vou verificando é que minha vida mudou em agosto de 1975 quando comecei a penetrar numa nova olhada para o mundo, a fé e tudo mais através daquilo que se chama “Teologia da Libertação”. É um estilo novo de vida onde tudo é o mesmo, mas não é o mesmo. Aprendi que a felicidade, a libertação, o conflito é a mesma, mas é diferente. Poderia dizer que aprendi a ter uma idéia fixa. Ter uma idéia fixa é ter um projeto de vida que seja pessoal, baseado no Evangelho, dando lugar preferencial aos empobrecidos. Tudo se veste de algumas mesmas cores, também a pedagogia, também a espiritualidade, também a Teologia. Tudo. E nisso o Quixote se revela como um eterno cavaleiro andante dando a vida por sua Dulcinéia... Aprendi que precisamos ter uma proposta, no seu todo e na sua tradução pedagógica. Por isso que me assanho, por exemplo, quando se fala de “opções pedagógicas” na evangelização da juventude.

Nos últimos tempos li um livreto de Hans Küng que me marcou profundamente. Ver esse velho e grande teólogo dizer o porquê do ainda ser cristão hoje me derrubou, isto é, levantou em mim a bandeira mais importante. No meio da globalização desbragada e no meio das loucas mudanças de paradigma podem aparecer miríades de tentações, mas tentação radical é largar o seguimento de Jesus Cristo e ser cristão por formalidade. Não vou dizer que sou um grande seguidor dEle, mas gostaria de se-lo porque é algo fundamental.

Olhando-me no que consigo ser destacaria três aspectos, como bom jesuíta: sem ser historiador sou um amante da memória histórica, também no trabalho com os jovens; sem ser teólogo, sou um batalhador neófito do divino que se encarna no jovem. O grande discurso, como Igreja, é sobre o jovem como realidade teológica; sem ser um pedagogo, quem deseja trabalhar com jovens deve ser um neotéfilo, um amante da juventude. Por isso que me agrada trabalhar com assessores e animadores de jovens. Enfim, nada mais do que agradecer. Sempre me lembro dos meus 18 anos lendo “Diário de um pároco de aldeia”, de Georges Bernanos. Aquele final do romance dizendo que “na vida tudo é graça” nunca me abandonou. Nem nos meus 70 anos. Por isso, nada mais divino do que dizer que “tudo é graça”. Amém.

P. Hilário Dick S.J. 12 de maio de 2007.

9.5.07



Em tempos de visita do Papa ao Brasil, de muitas polemicas referentes a redução da maioridade penal, da mobilização da juventude e do povo brasileiro, trago um artigo de um amigo, sobre nossas lutas, nossos sonhos e nossas expectativas enquanto juventude organizada nas Pastorais da Juventude.








Como Luto pela minha Causa?
Por Leonardo Dorneles*

Foi durante o I Acampamento da Juventude da Romaria do Trabalhador, em Cruz Alta que senti a necessidade de escrever algumas linhas aos meus amigos e minhas amigas, companheiros e companheiras de fé e caminhada, na luta pela melhoria da vida para o povo, ao lado da juventude. O momento foi oportuno para a instalação da crise que estou passando agora, afinal, discutir Trabalho e Educação durante dois dias e ainda celebrar isso tudo em Romaria, não passa pela gente sem deixar algum sinal, como diz a música. E assim aconteceu comigo, um jovem em meio a tantos outros tentando me situar na construção de uma idéia humanizadora de trabalho e educação sob o viés juvenil, pois nada muda, diria João Pedro Stédile, que não seja pelas mãos e força da organização da juventude.
Saindo de lá a pergunta acompanhava as batidas ritmadas do coração: Como luto pela minha causa? A causa não é estranha a ninguém, penso. É a causa do coletivo, autonomia, libertação, vida digna, dos direitos garantidos, do profetismo, da educação libertadora, do trabalho que gera vida. Mas como luto por isso? Como não fazer um momento ser apenas um momento? Como transformar experiências em lutas concretas e articuladas? Aliás, a Pastoral da Juventude está em sintonia com essa reflexão?
Depois, conversando com um amigo, fomos refletindo sobre as questões que envolvem a política, educação e o papel da juventude organizada nisso tudo. Na verdade, percebemos que há algumas saídas para que a crise não se instaure em todos os setores de esquerda e progressistas desse país (estaria instaurada se a esquerda estivesse no poder de partidos, mas como não está ainda temos força). Precisamos fazer com que a crise seja a formadora de soluções para os problemas e não para esmorecer deixando cair por terra os ideais que nos fazem lutar pela causa.
A crise que me refiro está ligada as perdas dos referencias políticos - ideológicos que durante quase trinta anos lutamos (ou lutaram) para que hoje estejam a frente desse país, pois acreditávamos que as mudanças necessárias para que o povo tivesse vez fossem implantadas. Imaginamos uma criança que foi violentada sexualmente pelo seu pai. Após o ato, em quem essa criança passa a confiar, se o seu grande modelo lhe corrompeu com o erro desse ato? A quem vai recorrer, sendo uma criança tão dependente do pai e colocando nele toda sua esperança e confiança? Lutamos tanto para eleger um presidente que veio do nosso meio, que lutou junto conosco nos momentos mais complicados, desde a ditadura militar, na organização de sindicatos, o processo de redemocratização do Brasil até concorrer a presidência desse país por quatro vezes, onde a força e organização dos movimentos e pastorais sociais o elegeram e “assumiram” com ele o poder. E o que passou na nossa cabeça naquele momento? É o inicio da revolução! O maior país da América latina agora é governado por um socialista que tem boas chances de abrir as lutas pela libertação dos povos latinos. A esperança dava um passo e isso estava visível em nossas palavras e atitudes. Quem não ficou feliz com a ida de milhares de brasileiros e brasileiras a Brasília “avermelhar” aquela cidade na primeira posse do presidente Lula? Eu tenho uma lembrança guardada de uns trabalhadores se banhando nos lagos em volta o palácio do planalto, mostrando que ali, naquele momento, era o povo que dava as rédeas do país e que ninguém mais poderia nos tirar isso. Pelo menos por quatro anos. Meu coração bate forte e as lágrimas caiam do rosto quando lembro daquela cena.
Passado os quatro anos de governo e analisando com cuidado o governo Lula, que sinais temos da revolução nesse país? Sendo bem pé-no-chão, não posso dizer que estou contemplado nos objetivos pelos quais não só votei, mas militei, carreguei bandeira, convenci pessoas que até hoje me cobram porque também esperavam uma postura diferente do governo. Eu queria mais. Eu queria rompimentos com órgão de fora que aqui ditam como o nosso povo deve viver. Eu não queria ver o Lula receber o Bush aqui. Eu queria ver o Brasil se posicionar contra a invasão do Iraque. Queria ver o presidente Lula ao lado do MST, como sempre disse que estava. Eu queria coerência com aquilo que me fez cativar pela proposta da esquerda, materializada naquele tempo pelo Partido dos Trabalhadores. Eu queria que o governo me ajudasse na concretização dos sonhos que tenho e da causa que luto. Eu queria tanta coisa. Mas fui traído por incoerências de pessoas que foram picadas pelas moscas azuis, e levadas pelas tentações decorrentes dessas mordidas, como diz Frei Betto.
Mas como Cristão, e dando importância para a ressurreição, não posso deixar morrer os sonhos que tenho e a causa pela qual luto e dedico a minha vida. Diante da decepção da traição e da dor que ela traz, não posso entregar os pontos de bandeja para aqueles que sempre quiseram me ver na mesmice da vida e inutilizando o ser humano que sou. Então, como lutar pela minha causa, se nem na política eu acredito mais? Logo eu que um dia acreditei que a política e a religião seriam as únicas coisas que poderiam mudar a nossa vida. Será que a política ainda tem estruturas confiáveis para praticar a mudança? Ou as estruturas estão prontas e corrompidas pela pratica da corrupção e nelas “habitam” as pessoas que ali melhor se encaixam? Como lutar pela minha causa se o governo que tinha a possibilidade de dar autonomia ao povo em oito anos criou mais dependência? ( [1] ). E agora, dependentes do assistencialismo social, fica impossível criar consciência de que ainda sofremos com as desigualdades e que precisamos vencê-las. Pois como será a postura do povo se os partidos azuis assumirem o poder? Pensemos em luta organizada para derrubá-los? Essa não virá, a alienação não acabou.
Hoje, lutar pela causa significa construir uma nova base onde possamos pisar e afirmar aquilo que acreditamos. Por muito tempo essa base foi a política de “esquerda”, identificada no PT e com apoio fortíssimo dos Movimentos e Pastorais Sociais. Hoje, após as decepções desse partido e da política, onde pisaremos? Não há possibilidade mais sólida que a organização do povo para pensar e lutar pelas questões que são do nosso interesse. Se do governo não podemos esperar mais nada, construiremos então a nossa proposta para esse país. E como se faz isso? Ou poderia perguntar: Como NÃO se faz isso? Não fazemos isso com fechamento das nossas organizações para o diálogo e comprometimento com outras que lutam pela mesma causa, com a falta de formação e conscientização popular, na auto-suficiência, sendo fundamentalistas, moralistas, na interpretação preconceituosa da opção de trabalho de cada organização (fato que aconteceu no acampamento da juventude por parte de membros da PJ contra a Pastoral da Juventude Marista e que depois, desconcertado, pedi desculpas), com a destruição de pautas comuns que visam integrar as lutas e potencializar a ação popular diante de atitudes do governo que não estão a nosso favor por causa de brigas e desentendimentos menores que a luta e a causa que nos une. Devemos aspirar antônimos a isso. A preocupação deve estar em criar o chão para pisar, o chão que é a esperança de algum dia ver nossos sonhos realizados e a nossa causa vencedora. O chão é o amor que temos por essa terra, pois dela somos filhos e fincando o pé não abrimos mão. O chão é a possibilidade de manter viva a chama do reino de Deus possível ainda em nosso tempo. O chão é o horizonte para Eduardo Galeano e a Utopia para nosso jovem genial Hilário Dick.
A Pastoral da Juventude tem missão nisso tudo. Afinal, nesse país, somos nós a maior organização de jovens. A capacidade de mobilização de nossos grupos em um único DNJ supera qualquer organização que a mídia já tentou fazer. Ninguém articula tão bem como nós, mesmo estando fragilizados. Por isso é o momento de fazer valer essa força e definir como lutamos pela nossa causa, em sintonia com aqueles que são companheiros e companheiras, na reconstrução de nossas bases, de nosso chão. Precisamos saber onde vamos pisar para dar seguimento a história desse país e garantir vida abundante para os que aqui estão e os que virão. Sem base firme, sólida, sem chão, sem referencias, ficaremos também sem trabalho que gera e sustenta a vida, sem educação libertadora e humanizadora, sem luta, sem causa, sem sonho.


*Leonardo Dorneles
Secretário Regional da Pastoral da Juventude do RS



Notas
[1]- Não sou totalmente contra o governo. Reconheço alguns avanços com relação ao governo anterior, inclusive no diálogo com o todo da sociedade, até mesmo com seus opositores. Porém, o que não posso acreditar é que a “revolução” inicie por programas sociais que não possibilitaram a inclusão massiva da grande maioria da população brasileira e a garantia de seus direitos. O governo Lula não conseguiu, na minha avaliação, equacionar as oportunidades entre ricos e pobres. Tampouco preparar o terreno para a sua sucessão, já que sempre esteve consciente que em oito anos as mudanças seriam mínimas. O que fez foi muito pouco se comparado ao avanço das correntes que lutam justamente pelo contrário. A desigualdade.

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento