1.9.07

A dúvida sobre o que escrever
"As paixões são misteriosas, e as das crianças não são menos que as dos adultos. As pessoas que as experimentaram não as sabem explicar, e as que nunca as viveram não as podem compreender. Há pessoas que arriscam a vida para atingir o cume de uma montanha. Ninguém é capaz de explicar por quê, nem mesmo elas. Outras arruínam-se para conquistar o coração de um determinada pessoa que nem quer saber delas. Outras, ainda, destroem-se a si mesmas porque não são capazes de resistir aos prazeres da mesa - ou da garrafa. Outras há que arriscam tudo o que possuem num jogo do azar, ou sacrificam tudo a uma idéia fixa que nunca se pode realizar. Algumas pensam que só podem ser felizes em outro lugar que não naquele onde estão e vagueiam pelo mundo durante toda a vida. Há ainda as que não descansam enquanto não conquistam o poder. Em suma, as paixões são tão diferentes quanto o são as pessoas" Michael Ende - A história sem fim.
Não sabia sobre o que escrever, faz uma semana que venho pensando em que escrever neste POST NÚMERO 100. Chegar a ele não foi fácil, cerca de 90% dos textos neste blog são meus, os outros de amigos, algumas noticias, frases soltas ao vento. Faz algum tempo que já venho postando neste endereço, quase dois anos de escrita, de expressar os pensamentos e as idéias.
Hoje em dia todo mundo escreve, e isso é bom, mas ainda poucas pessoas lêem. Não sei se as pessoas lêem o que escrevo, alguns sim, muitos não. Mas muitas vezes não escrevo para as pessoas, escrevo para mim mesmo. Mas este texto escrevo para as outras pessoas. Escrevo para dizer que cheguei ao post número 100. Muito blogeiros (está correto está palavra –depois procuro) já ultrapassaram isso com textos seus a muito tempo e muito mais rápido do que eu. Mas pensando nestas coisas, acabei refletindo na ousadia de escrever, na ousadia de se expressar. Poucos fazem isso. Como disse acima faço isso para mim. Mas é importante que as pessoas escrevam, que as pessoas lêem, me lembro da decisão e começar a escrever mais seguido, isso foi no dia 15 de novembro de 2004, não sou escrito, gostaria de ser, mas o que vale é a tentativa e a forma de se expressar. Fico feliz comigo mesmo, e com as pessoas que me lêem. Feliz comigo pois sou uma pessoa comum, como a maioria, estudo, trabalho, tenho as muitas crises – quase diárias, mas continuo a escrever, as vezes com sentido e muitas vezes sem sentido, mas estou fazendo isso por paixão.
Estou terminando de ler o livro do Michael Ende, A história sem fim, do qual muitos já devem ter assistido o filme, e nas primeiras páginas ele escreve o que transcrevi acima. As nossas paixões são as mais diferentes possíveis. Considero minha escrita uma paixão. Considero minhas leituras uma paixão. E considero os que me lêem com paixão.
Continuem se apaixonando por coisas, por pessoas, por livros, por textos...pois assim a vida continua a rodar feito roda gigante.
Elisandro Rodrigues
Setembro de 2007
Sentado na roda gigante e vendo as crianças a correr lá embaixo...

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento