26.8.07


"Ou o tempo é nada ou é invenção."
Bergson foi um filósofo francês que teve muita influência nos meados do século XX. Ganhou prêmio Nobel de Literatura em 1927, e é dele a frase com que inicio este texto e dá titulo ao que escrevo. Utilizo muito está passagem para inúmeras coisas que escrevo, a última vez que a utilizei foi para a gravação da minha mensagem de agradecimento para minha formatura, aliás todos estão convidados e convidadas, dia 19 de janeiro de 2008. Mas hoje utilizo esta frase com um sentido mais amplo, trazendo para o campo do teatro e do fazer arte.
O Grupo Baú de Encantos vem nestes últimos meses inventando o tempo, ou criando com o tempo. São muitas as atividades que já temos agendadas e alguns projetos que estão começando a aparecer, como por exemplo um projeto de contação de histórias e oficinas de teatro com crianças que moram em abrigos. Para um grupo que nasceu este ano já estamos bem, com muitas atividades, muitas apresentações e alguns espaços de articulação.
Todo este trabalho que estamos realizando é algo diferente, para nós, e acreditamos para o teatro e o tema de produção e geração de renda. Sabemos que no Brasil são muitos os grupos culturais que trabalham com Economia Popular e Solidária (Geração de Renda), mas são poucos os que estão ligados com a temática do teatro.
Como nos fala Spolin: “A partir do objeto da procura de autenticidade e verdade, o teatro torna-se a possibilidade de restauração da verdadeira produção humana (...) Longe de estar submisso a teorias, sistemas, técnicas, leis, o ator passa a ser artesão de sua própria educação, aquele que produz livremente a si mesmo (...) O Fazer artístico é concebido como uma relação de trabalho.” (Viola Spolin. Improvisação para o teatro. São Paulo: Editora Perspectiva. Pg 13 e 14). Podemos perceber que a relação de trabalho com a arte está muito ligada, e que com isso restauramos a produção humana e a educação. O que queremos com a proposta do Baú de Encantos é isso: produzir reflexão, educação e geração de renda através do trabalho com o teatro.
Queremos inventar de uma forma criativa e lúdica, onde possamos trazer temas polêmicos, como o da pirataria, temas de reflexão como o mundo da imaginação e de provocação trabalhando a temática da conformidade juvenil. Tudo isso de um jeito simples, quase que de leigos que querem produzir teatro, mas também de uma forma divertida onde possamos estabelecer na relação do teatro possibilidades de sermos mais humanos.
(Elisandro Rodrigues)
Texto escrito para o blog do Grupo Baú de Encantos: http://baudeencantos.spaces.live.com/

Nenhum comentário:

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento