22.4.12

De uma pequena história sem pé nem cabeça: Da menina que vive em estado gasoso




Certa vez em uma caminhada pelas nuvens encontrei pedaços de linhas voando livres pelos céus. Linhas coloridas, preto e branco, se fazendo notas, distraídas, com impressões sem impressões. Segui aquelas linhas para ver de onde vinha, ou para onde ia.
Encontrei uma menina no final de várias palavras soltas " a golpes [goles] de pequenas solidões". Menina estado gasoso, sempre liquefazendo-se entre nuvens, chão, ar, flores, desenhos. Nesse encontro, que vim a saber depois que é sempre desencontro, alguns ventos foram ventados. Ventos de Pormenores. De Afecção. De imagens em movimentos. De distração dos esquecimentos. Poucas foram as vezes que encontrei essa menina que vive em estado gasoso, os encontros se davam no desencontro, nunca entendi ao certo o por que disso, mas com as linhas soltas das conversas rendilhei outras linhas de possíveis.
Com o tempo deixei de encontrar essa menina que sempre vive em estado gasoso, acredito que por ela estar sempre vagando entre nuvens e linhas, entre chuvas e ventos, que a dificuldade do desencontro é maior.
Se alguém a avistar avise que um menino dos Pormenores precisa conversar com ela, para rendilhar alguma palavras, dobrar em outras linhas os escritos nos desencontros. Enquanto não a vejo sigo pulando de nuvem em nuvem.

Elisandro Rodrigues
[Da escrita de um e-mail]

4.4.12

Poesia citadina

A noite é estranha.
Vemos muitas cenas no adormecer dos olhos.
1) Um catador de papelão, sem camisa, com cara de cansado falando no celular "...tu podias fazer uma boia pra mim".
2) Gari varrendo a calçada fala para um passante "parece chiqueiro...".
3) Rapaz, de aproximadamente 35 anos, caminhando numa rua movimentada, em uma mão sacola de compras, a tiracolo uma bolsa, nos olhos lágrimas e no rosto expressão de dor, caminha lentamente desviando-se dos passantes.

Elisandro Rodrigues

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento