23.12.06

ÚLTIMO PEDIDO DO ANO: VAMOS ENGRAVIDAR!

“Ao deixar o recinto, Zacarias dá a impressão de ter sido queimado no altar dos incensos. Os fios de cabelo grudando-lhe na testa, a roupa está ensopada de suor, a respiração parece sufoca-lo, a ovelha que devia imolar encontra-se viva a seu lado. No entanto, tem o semblante rejuvenescido. Fiéis e sacerdotes estão intrigados. Querem saber por que tardara tanto e não oferecera o sacrifício da tarde. Ele acaricia o pescoço do animal e tenta explicar. Ao abrir a boca, nenhuma palavra soa. Com o dedo em riste, aponta para o céu. Todos compreendem que tivera uma visão. Procura falar-lhes por sinais; a mímica confusa induz um e outro a julgarem que, pela primeira vez, um homem ficará grávido. Zacarias desiste e, acompanhado pela ovelha, volta para casa.” (Do livro Entre todos os homens de Frei Betto)

Quase no final de sua vida, Zacarias recebe a visita de um anjo e fica sabendo que sua esposa iria ter um filho dele, filho tanto esperado, mas que por condições do tempo e da biologia humana, sua esposa não podia ficar grávida, mas uma chama de esperança se ascende quando Javé lhe concede esta graça tanto esperada. Logo depois disso, uma mulher, camponesa e pobre, recebe a visita de outro anjo, que lhe comunica que ela dará a luz a um menino, e que se chamará Jesus, Deus Liberta. Duas boas novas, duas notícias de esperança.
A vida sempre é tida como esperança, o nascimento sempre é acolhido com alegria, as crianças sempre são a manifestação da vida, do novo que está por vir.
Se eu pudesse fazer um pedido neste Natal, ao Papai Noel, ao Jesus Menino, a Javé, Oxalá, aos santos, e as pessoas, eu pediria que todos os homens e mulheres se engravidassem. Que todos ficassem grávidos de esperança e de loucura. E este vai ser meu pedido neste final de ano: Os Seres Humanos Grávidos de Esperança e Loucura.
Grávidos para todos sentirem a vida se criando, o novo que quer brotar, de esperança por um amanhã e um horizonte mais justo, mais igualitário, mais fraterno, e de loucura para não nos acomodarmos e lutarmos, brigarmos, gritarmos por esta esperança. Loucura para caminhar nas noites de vento e chuva forte, loucura para alegrar as pessoas, as crianças, sem motivos, loucura para sermos mais humanos no cuidar e no amar.
Mas a grande questão é como todos ficaram grávidos? Não sei se existe tantos anjos engravidantes por ai a espalhar loucura e esperança. Mas como Natal é tempo de Magia, acredito que isso possa acontecer. Ficarei mais feliz neste ano que se aproxima, e neste Natal, se isso acontecesse. É o meu único pedido ao transcendente que nos move e nos guia.

Elisandro Rodrigues
Simples mensagem de Natal e Ano Novo, e como diz o poeta, é das coisas simples que brota a magiaDezembro de 2006

24.11.06

Muito além do que se vê

Luz dos olhos – Cássia Eller (composição de Nando Reis)
Ponho os meus olhos em você se você está
Dona dos meus olhos é você, avião no ar
Dia pr'esses olhos sem te ver é como o chão do mar
Liga o rádio à pilha, a TV só pra você escutar...
A nova música que eu fiz agora
Lá fora a rua vazia chora
Os meus olhos vidram ao te ver, são dois fãs, um par
Pus nos olhos vidros pra poder melhor te enxergar
Luz dos olhos, para anoitecer é só você se afastar
Pinta os lábios para escrever a tua boca em mim...
Que a nossa música eu fiz agora
Lá fora a Lua irradia glória
E eu te chamo
Eu te peço vem
Diga que você me quer porque eu te quero também
Faço as pazes lembrando
Passo as tardes tentando lhe telefonar
Cartazes te procurando
Aeronaves seguem pousando sem você desembarcar
Pra eu te dar a mão nessa hora
Levar as malas pro fusca lá fora
E eu vou guiando
Eu te espero, vem
Siga aonde vão meus pés porque eu te sigo também
Eu te amo, oh
Eu peço vem
Diga que você me quer porque eu te quero também...


Um filosofo alemão, Nietzsche, diz que é as vezes é necessário fecharmos os olhos para ver. Vemos muitas coisas, mas será que este olhar por olhar é o bastante. Eu sempre quis as coisas primeiro pelo olhar. Sempre as contemplo primeiro pelo olhar. O olhar sempre foi o meu sentido primeiro. Mas quando a olhei, quando a vi, percebi que Ver bastava e não bastava.
Muito além do que se vê. Este foi o meu pensamento, deve existir muito mais além do que se vê, deve existir outros mundos, outras paisagens, outros olhares. Parafraseando Fernando Pessoa, fico pensando que seria possível a contemplação juntos, o ensino mutuo. O olhar juntos. 'A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas. Quando a gente as tem na mão, e olha devagar para elas.'
Parei para te olhar mais devagar. Quando a vi primeiro no olho dentro de uma câmera que captou seu olhar e seu sorriso. Acreditei neste momento que por trás desse olhar estava escondido sonhos e loucuras. Depois quando lhe vi, com os olhos meus dentro dos olhos teus, confirmei que aquele olhar contava mais histórias. Histórias de beleza, histórias de alegria e felicidade. Mas o muito além do que se vê fica só na imaginação, no pensamento tentando decifrar os códigos presentes no olhar, no falar, no rosto, nos gestos. Mas para que ficar só na contemplação e no pensamento.
Vemos mais quando paramos, quando olhamos mais devagar, neste parar para olhar podemos sentir não só o olhar, sentir os pensamentos que a outra pessoa tem. Partilhar a vida e as utopias. 'Do seu olhar largamente verde, a luz caía como uma água seca, em transparentes e profundos círculos de fresca força' (Neruda). Dentro do meu olhar caio uma estrela, um sonho e uma loucura.

Elisandro Rodrigues
Tentando escrever sobre um olhar que parou o meu.
Novembro de 2006

23.11.06

Sobre sonhos.....

Carta a Biblioteca Social Mundial.

Amigos e amigas do Mosaico de Livros e da BSM!

Quando falamos em sonhos, falamos como Paulo Freire, onde temos os sonhos na mão, sonho que se organizam, "Para que meu sonho não seja apenas utopia, eu preciso agir. Se o sonho se aproxima dos sonhadores é por que eles se organizaram, eles agiram com o sonho na mão".
Percebo que o sonho morreu, e a utopia também. Este e-mail que o Bello no mandou revela um pouco desta utopia, deste sonho que anda bem distante. O que acontece para um sonho ficar distante da realidade. A não ação com ele na mão, a não organização.
Muitos de nós pecamos na construção desse sonho, em todo o processo dele, uns mais, outros menos, mas pecamos. Mas por muitas vezes tentamos pegar este sonho na mão, e organizar-se com ele. ORGANIZAR-SE com ele, me lembra outro sonho, do AIJ, do FSM, onde a autogestão, ou o discurso sobre ela, as vezes não sai do papel, mas mesmo assim enfrentamos a DESORGANIZAÇÃO e lutamos com o sonho na mão.
Se as pessoas, o coletivo, não está mais sonhando com ele na mão, não está tentando se organizar para que o sonho não morra, existe um problema muito grave, que o Bello já o cita ai: a apropriação de um sonho. Se Marx tivesse vivido mais, derepente ele poderia falar disso também, mas podemos só imaginar se as pessoas se apropriam de bens, do lucro, se o capitalismo e o neoliberalismo se apropriam dos seres humanos, da mão de obra, bem pode-se também se apropriar de sonho.
Mas o que leva uma pessoa a se apropriar de um sonho que a princípio é coletivo?
Não sei. Mas de uma coisa estou certo: Se este sonho parece estar distante demais, proponho sonharmos outro sonho. Um sonho que seja mais utopico, mais organizado, que traga mais felicidade.
Meu amigo Bello, Fabricio e demais que comungam com um projeto de democracia, de igualdade, em um sonho gostoso de se sonhar e lutar. Vamos sonhar outro sonho.
"Eu estou propondo que o trabalho e a organização diminuam a distância entre o sonho e a concretez do sonho. O sonhador se junta a outro sonhador, e eles encurtam a distância entre sonho e a vida sonhada." Palavras de meu caro amigo e mestre Paulo Freire.

Elisandro Rodrigues
Nômade urbano, sonhador incansável
Um presidente legal, um presidente legítimo
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Tanto Felipe Calderón, da direita, quanto Andrés Manuel Lopez Obrador, apoiado por vários movimentos populares, se declaram chefes do Executivo mexicano
Pedro Carranode Curitiba (PR)
No confronto direto com a democracia representativa, a luta social
Leia maisAssembléias Populares são mecanismos de pressãono México teve no dia 20 de novembro mais uma data importante. Foi neste dia que Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO) tomou, como forma de protesto, a faixa presidencial e lançou os 20 pontos do seu chamado "governo legítimo". O programa pretende defender as classes sociais que sofrem diretamente o resultado das escolhas da classe política dominante mexicana: as privatizações e o tratado de livre comércio, para citar algumas.
O presidente "legal", ou seja, reconhecido pelas instituições do país, Felipe Calderón, representa a continuidade das políticas que beneficiam apenas os mais ricos. Os movimentos sociais mexicanos não reconhecem a vitória de Calderón nas eleições de julho, que consideram fraudulenta.
Os 20 pontos de Obrador definem diretrizes para diminuir o preço dos produtos de consumo das camadas populares, comprometer-se em não privatizar dois setores que ainda resistem - o elétrico e o petrolífero -, gerar melhores condições para a população, sobretudo no campo, para que as pessoas não tenham que ir trabalhar nos EUA. Entre outras reformas do Estado, ele propõe que o exército não atue mais nas questões sociais. Porém, a ambição mais ousada da proposta é fazer com que o governo "legítimo" tenha relações diretas e organizações de base em vários rincões do país.
Não por acaso o 20 de novembro também foi um momento de mobilização do movimento zapatista, em comemoração do aniversário da revolução mexicana, cujos primeiros anos, a partir de 1910, foram transformadores e deixaram marcas na luta popular, e em protesto à repressão ocorrida em Oaxaca. Neste dia, os zapatistas fecharam vias de acesso às principais cidades de Chiapas. As estradas ficavam até 45 minutos interrompidas, sendo abertas por 15 minutos. Houve atos de solidariedade em outras cidades do mundo e no Brasil aconteceu em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, entre outras.
No mesmo dia, em Oaxaca, houve confrontos entre a polícia federal preventiva mexicana e estudantes simpatizantes da Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO), deixando vários feridos e a denúncia de perseguição policial a jornalistas. Um contato que está no local contou para a reportagem do Brasil de Fato que a polícia ultimamente tem trocado os confrontos diretos pela estratégia de perseguir individualmente os membros do movimento.

Um governo concreto
Alejandro Buenrostro, idealizador do centro de informação zapatistaXojobil, faz questão de ressaltar que o "governo legítimo" de Obrador nada tem de simbólico. Na verdade, ele vai contar com representantes em todos os estados mexicanos e inclusive no Parlamento, com os políticos ligados a Frente Ampla Progressista - um dos braços de sustentação de Obrador.
O outro braço seria a Convenção Nacional Democrática(CND), uma entidade civil não permanente. Alejandro nos conta que ela teve o seu primeiro desenho em 1910, à época da Revolução Mexicana. Mais tarde, noutro momento histórico, teve presença em 1988, quando o candidato do Partido da Revolução Democrática (PRD), Cuauhtémoc Cárdenas Solórzano, foi impedido de chegar ao poder às custas de fraude nas eleições. Venceu o neoliberal Salinas de Gortari, do Partido Revolucionário Institucional (PRI).
E qual a razão de uma convocatória da CND? Para Alejandro, "ela tem o caráter de convocar lideranças populares para reestruturar a república, num determinado momento histórico", lembra. "Neste momento a CND já terminou e ficou decidido por todos aqueles que o apoiaram que Obrador é o presidente", comenta. Alejandro ainda faz o paralelo com a figura de Benito Juarez, que foi um presidente itinerante e popular no século dezenove, à margem do poder de Maximiliano, que era apoiado por uma elite conservadora.

Racha?
O PRD e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) eram aliados, nos anos 1990. Atualmente, há um rompimento entre eles.
A primeira reuniãopreparatória da Outra Campanha - convocada pelo EZLN na antológica Sexta Declaração da Selva Lacandona, em 2005, como forma de organizar a população mexicana de modo paralelo à institucionalidade - simbolizava uma postura inesperada: o subcomandante Marcos colocou que Obrador e o PRD igualam-se aos outros dois partidos de direita, o PRI e o PAN, ao ter votado contra os Acordos de San Andrés (pelos direitos indígenas), financiar grupos paramilitares em Chiapas e sinalizar para os jornais gringos que não mudaria a economia do país.
Naquele momento, a Outra Campanha dizia não ao tempo político, ao tempo do poder, e buscava um fazer político com os de "baixo". Corretamente apontava que os partidos eram apenas títeres de uma elite ligada ao setor financeiro. Porém, na atual circunstância, Alejandro pensa que os aderentes da Outra Campanha apóiamObrador, ainda quesigam por um outro caminho, pois existe uma resistência à chegada de Calderón ao poder. "A Outra Campanha não se manifestou por AMLO, mas sim as pessoas individualmente. A Outra Campanha é uma organização profunda e do povo, que tem um outro caminho e destino", diz. Alejandro defende que o próprio subcomandante Marcos reconheceu recentemente Obrador como uma liderança de força.

Vínculos sociais
É claro que os diferentes movimentos mexicanos (Outra Campanha, governo legítimo, APPO) estão de certo modo entremeados. Por isso, por exemplo, existem aderentes da Outra Campanha que reconhecem a fraude e querem Obrador no lugar de Felipe Calderón. Embora a única coisa certa seja o apoio incondicional à luta da APPO em Oaxaca.
A crítica zapatista contra Lopez Obrador, iniciada ainda nas primeiras reuniões da Outra Campanha, não comprometeria a credibilidade zapatista, risco que os próprios zapatistas reconheciam no texto da Sexta Declaração? Alejandro responde: "Não, pois o que os zapatistas estão falando é a verdade, todos sabem que a classe política está deteriorada. Eles apontaram as pessoas que estão perto de AMLO, que realmente são legisladores corruptos, que estiveram ligados a Salinas de Gortari".
Quem pode se dar mal em meio a esse apoio cidadão em torno de Obrador (e de outras experiência populares de organização) é justamente a classe política decadente, na sua busca de privilégios. Pois, Obrador, solitário e individualmente, mantém o seu carisma junto à população.

Retirado do site do Brasil de Fato. http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/internacional/news_item.2006-11-22.4952666901
Oaxaca resiste
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Num estado empobrecido do México, movimentos sociais enfrentam paramilitares e exército e propõem, como alternativa ao governador corrupto, um regime de assembléias populares
Anne Vigna
"Estamos diante da maior operação militar desde a operação contra o levante zapatista de 1994. Se trata de um desembarque por via aérea, terrestre e marítima." Esse comentário data do dia 3 de outubro, e é assinado pelo jornalista Hermann Bellinghausen no periódico mexicano La Jornada. Nesse dia, os comandos especiais da marinha desembarcavam em Huatulco e Salina Cruz, no estado de Oaxaca, apoiados pelo navio de guerra Usumacinta, 1500 marinheiros 20 helicópteros M-18 e M-17, aviões Hércules e C-12, além de vários tanques. Juntamente com as forças especiais do exército e da polícia federal preventiva (PFP), o dispositivo total contou com cerca de 20 mil homens. Helicópteros e aviões sobrevoam durante vários dias a capital do Estado, a "zona de combate", o centro histórico, as barricadas, os edifícios ocupados pelos "rebeldes". Embaixo, homens e mulheres gritam diversos insultos e os ameaçam de punho em riste.
Mais uma vez, é através do uso da força que o governo mexicano responde a um levante popular. E mais uma vez, a chegada massiva das forças armadas não calará uma população em revolta contra um governo considerado repressor, corrompido e eleito de forma fraudulenta em 2005: Ulises Ruiz, filiado ao Partido Revolucionário Institucional (PRI) que governou o México durante 71 anos.
O estado de Oaxaca e, em particular, sua capital – de mesmo nome - , vivem desde 22 de maio de 2006, um conflito social que se agravou após a repressão organizada, no dia 14 de junho, por Ruiz (saldo de 92 feridos) contra a seção do sindicato dos professores (SNTE), dissidente da direção nacional, que mobiliza cerca de 70 mil professores em greve. Desde então, a reivindicação principal desses "maestros" não mudará: "Volta às aulas, cinco dias depois da demissão do governador". Eles foram reunidos pela Assembléia Popular e Permanente de Oaxaca (APPO) – a quase totalidade das organizações sociais do estado. Um milhão e trezentos mil alunos estão sem aula há seis meses. Ocupação de prefeituras e edifícios públicos, de hotéis e do aeroporto, campanha de desobediência civil pacífica, radicalização...Apesar da união da população e um bloqueio completo das atividades do do estado, Ruiz se recusa a pedir afastamento do cargo.
Um pacto conservador ampara o governador corrupto Desde o início, o governo federal de Vicente Fox, do Partido da Ação Nacional (PAN, de direita liberal), mostrou-se incapaz de resolver a questão. O desenrolar dos fatos ocorre paralelamente ao conflito pós-eleições que ainda estremece o México, logo após a suspeita eleição de Felipe Calderón (PAN) no dia 2 de julho, para a presidência da república [1]. Proposto no dia 5 de outubro pelo Secretário de governo, Carlos Abascal, o primeiro plano de negociação ("Pacto pela governabilidade, pela paz e pelo desenvolvimento do estado de Oaxaca") recomenda uma nova constituição para o Estado, uma reforma do sistema judiciário, uma série de estímulos econômicas e um compromisso de respeitar os direitos humanos. Nada se fez com relação à reinvidicação principal: a demissão do governador.
Os interesses que impedem que o Fox "ofereça a cabeça" do governador não têm a ver com o conflito local. Estão ligados à eleição presidencial manipulada. A decisão dos juízes do Tribunal Federal Eleitoral a favor de Felipe Calderón desencadeou um amplo movimento popular, inédito na história do México e dirigido por Andrés Manuel Lopez Obrador, o candidato "derrotado" do Partido Revolucionário Democrático (PRD, de esquerda). Segunda maior força política do país, o PRD não reconhece o novo executivo [2]. Ou seja, o único apoio real do qual Calderón dispõe para seu governo (que terá início em 1º de dezembro deste ano) é a aliança selada no congresso em setembro passado entre o PAN e o PRI, primeira e terceira força política, respectivamente. "Calderón precisa do PRI para governar e fazer passar as ’reformas estruturais’ que Fox nunca conseguiu aprovar. Mas ele também precisa do PRI para tomar posse perante o congresso no dia 1º de dezembro", explica o analista Luis Javier Garrido. Um dos objetivos da resistência civil organizada é justamente o de impedir essa posse.
A investidura de Calderón acontecerá somente com o apoio parlamentar do PRI, que acabou reconhecendo a "vitória" do PAN. Em troca, o PRI defende com unhas e dentes um de seus bastiões mais tradicionais: Oaxaca. Mas pode pagar muito caro, em escala nacional, pela defesa do governante contestado. "Em dois anos Ulisses Ruiz ordenou o assassinato de 35 dirigente sociais, e prendeu mais de 200, acusa Florentino Lopez, um dos porta-vozes da APPO. Ele desviou milhões de pesos destinados a obras sociais para as campanhas eleitorais do PRI e para suas próprias empresas". O governador que o antecedeu, José Murta (PRI) mandou prender 60 dirigentes. Atribuem-se a ele também quatro mortes e 15 feridos a bala. Sessenta por cento dos membros do seus gabinete fazem parte da equipe de Ulisses Ruiz. Sob suas ordens, grupos paramilitares e a polícia local atacam todos os dias as cerca das 1.500 barricadas erguidas na capital (3 mil em todo o estado), os 80 prédio públicos e 12 estações de rádio e televisão ocupados pela população.
Em busca de um pretexto para liquidar a insurreição Desde junho, foram contabilizadas quatro mortes e o seqüestro de oito dirigentes, que reapareceram alguns dias depois na prisão. Todo o arsenal repressor foi montado há seis meses para dividir, aterrorizar e enfraquecer o movimento social. De acordo com o Raul Gatica, refugiado político no Canadá e porta-voz do Conselho Indígena Popular de Oaxaca – Ricardos Flores Magón (CIPO – RFM), "o governo procura destruir, em primeiro lugar, as barricadas, porque são espaços de orgnização e debate do movimento; o outro alvo são as rádios, por meio das quais nos comunicamos com a população".
Os atos de violência não desencadeiam nenhum tipo de investigação de amplitude federal. As duas grandes emissoras de televisão – a Televisa e a TV Azteca — "pintam" os militantes da APPO e da seção 22 do sindicato dos professores como fora-da-lei perigosos e armados. Ulisses Ruiz e o PRI querem o envio de forças policiais federais para "reestabelecer a ordem e punir os líderes". Em 3 de outubro, os militares "desembarcam" no estado... O presidente Fox declara que "a trangressão da lei deve sempre ser impedida e punida".
Diante de uma repressão que parece iminente, pois as negociações ainda não terminaram, Oaxaca se torna a Comuna de Oaxaca". No entanto, o fim da ofensiva parece próximo. Os militares não entram nas cidades. "Vicente Fox não pode terminar um mandato com essas graves violações dos direitos humanos, mas o objetivo era intimidar", estima o Onésimo Hidalgo, pesquisador do Centro de Investigações Econômicas e Políticas de Ação Comunitária (Ciepac) e autor de diversos livros sobre a militarização de Chiapas após a insurreição em 1994 [3].
No entanto, apenas 3000 fuzileiros da marinha retornaram, no dia 12 de outubro, às suas casas no norte do país. Os demais não deixarão tão cedo o local: a militarização do estado de Oaxaca se confirma, e os habitantes da zona rural coletam víveres para os grevistas. "A partir de agora, a estratégia é encontrar algum pretexto para que o exército se faça presente nas comunidades rurais, analisa Hidalgo. O pretexto pode ser um plano de urgência contra os furacões, a presença de grupos armados, ou a luta contra o narcotráfico e as migrações clandestinas. Eles nunca admitiram que se trata da militarização do território, mas é a mesma estratégia que a desenhada para controlar Chiapas".
Uma das regiões mais ricas (e empobrecidas...) do México De fato, Oaxaca assemelha-se em vários aspectos com o seu vizinho Chiapas, militarizado desde a insurreição zapatista. Um território altamente estratégico e rico em recursos naturais, uma forte presença indígena e um nível de pobreza entre os mais elevados do país. Os 16 povos indígenas (1,6 milhões de pessoas) que constituem mais da metade da população do estado (3,4 milhões) sempre souberam bem o que é a discriminação. Professores das zonas rurais marginalizadas, os integrantes da seção 22 estão entre os mais mal-pagos do país. Há 26 anos, lutam por salários e pela melhoria de suas escolas. Aproximadamente 460 dos 570 municípios do estado não possuem serviços de base (água, saneamento, eletricidade) e as atividades principais que mais ocupam ainda são a agricultura e a exploração das riquezas naturais.
Oaxaca dispõe da região mais rica em biodiversidade do México: florestas, costas, lagos, montanhas, plantas raras, vários tipos de milho. No subsolo, encontra-se petróleo, urânio, carvão, ferro, ouro, prata, chumbo e mercúrio. De 1540 até o começo do século 20, as minas de Oaxaca responderam por metade da produção nacional de outro e prata. Mesmo assim, durante esse período, a extração desses metais não chevaga a ultrapassar 10% do seu potencial estimado [4]. Por fim, Oaxaca possui água em abundância para a hidroeletricidade e é um dos locais mais favoráveis em todo o mundo para a energia eólica, ao sul do istmo de Tehuantepec [5]. A exploração desses recursos está programada desde 2001, como parte do Plano Puebla Panamá [6]. Esse plano "de desenvolvimento" de inspiração neo-liberal, amplamente contestado pelos movimentos sociais, pretende criar infraestruturas (estradas, portos, barragens, etc) para a implatação de atividades econômicas. Ele acaba de ser relançado por Calderón presidente eleito (e contestado), durante uma visita feita em outubro à América Central.
A importância geoestratégica do estado de Oaxaca complica de maneira singular a resolução do conflito atual. As populações indígenas e as comunidades rurais representadas pela APPO querem gerir seus próprios recursos naturais, pois têm instrumentos legais para tal. O direito a uma organização política própria é uma reivindicação constante, tanto no campo quanto na cidade. "Trata-se do direito à autodeterminação dos povos, ou seja, à administração política dos nossos territórios e à gestão de nossos recursos naturais, explica Carlos Beas, um dos porta-vozes da União das Comunidades Indígenas da Norte do Istmo (Ucizoni), membro da APPO.
Muitas experiências de organização comunitária Em Oaxaca, há muitas experiências em matéria de organização comunitária, social e política. O comércio equitativo espandiu-se fortemente na forma de cooperativas, que praticam uma forma de autonomia. As reivindicações são semelhantes às expressas en Chiapas dez anos atrás. Mas entram em conflito com a política que Calderón deseja implantar.
A militarização do estado de Oaxaca não é uma grande surpresa: ela confirma a posição agressiva do executivo frente aos movimentos socias que se multiplicam por todo o país. Recorrer às forças policiais é, com freqüência, a "resposta" do governo Fox, acompanhada de graves violações dos direitos humanos [7]. Se tomarmos como referência a experiência dos países latino-americanos e a história do México, caminhamos diretamente para um confronto crescente entre duas concepções políticas e econômicas distintas. "Trata-se de uma polarização entre os excluídos e uma classe privilegiada que concentra a riqueza e que influencia a vida política", avalia Neil Harvez, professor de ciências políticas da Universidade do Novo México. Cada vez mais, "Calderón irá satisfazer os meios econômicos que deram apoio à sua campanha". Oaxaca antecipa a ingovernabilidade pela qual o México poderia passar durante a presidência contestada pela oposição a Calderón. A aliança deste com o PRI e o mundo dos negócios pode provocar novos conflitos. As forçar armadas conseguirão, então, apagar o fogo das variadas rebeliões? (Le Monde Diplomatique)

Retirado do site do Brasil de Fato. http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/internacional/news_item.2006-11-17.7842140716
Tradução: Márcia Macedo marcinhamacedo@gmail.com

18.11.06

Carta a Chuva

Nem um dia
(Djavam)
Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide (bis)
Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores
Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você
E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris(bis)
Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo


Olá meu anjo!!!
Que chuvinha! Belo dia para ficar em casa, descansando. Como diria Mario Quintana, “Não tem nada melhor do que fazer nada e depois descansar”. Este é um dia destes, que merece o descanso, o ócio criativo. Mas como o mundo é um roda viva e não pará, nós não podemos ficar parados também.
Mas, mesmo assim, digo que hoje é um dia para ficar com quem gostamos. Deitados, ou sentados, enrolados em um cobertor falando da vida, dos sonhos, das esperanças, das lutas. Nada melhor que um clima destes para isso. Fico pensando em como seria bom e gostoso fazer isso com você. Ficar sentindo seu calor, seu afago, seu toque...Conversando com você...
Muito romântico isso! Mas muito simples também. Pena que são simples palavras e pensamentos. Gostaria mesmo era viver isso com você. Que bonito seria. Para isso um dia acontecer vou fazer o seguinte:
Vou pedir aos Deuses da chuva e do frio para que o dia em que, se por acaso, estivermos juntos, que caia uma agradável chuva, que a temperatura baixe, e aos poucos o frio venha se chegando. Prepararei oferendas para este dia, para os deuses e deusas do amor e do tempo. Rogarei ao deus do sonho para que estes pensamentos e sonhos meus permaneçam em seus domínios, para que sempre me lembre deles. E quem sabe um dia, com todos os meus pedidos, orações, oferendas e preces isso aconteça.
Por ora lhe digo que te gosto um montão, te quero um monte. Mas não como algo que se prende e não se tem liberdade, como muitos fazem, querem serem donos das pessoas. Te quero, e te gosto, como o mais lindo dos pássaros a voar e a cantar, que sempre sabe o caminho para os braços e os ouvidos de quem lhe acolhe. Te Te quero assim, livre como um pássaro, mas que sempre pode voltar.
Beijos querida.
Bom dia de chuva. Boa noite de sonhos....

Elisandro Rodrigues
Da escola que se faz educação. Do tempo dos desejos e loucuras. Em um momento de contemplação da chuva de frio, pensando alto no pássaro que voa.
17 de novembro – intervalo entre uma aula e outro. Tempo suficiente para pensar e criar!

Roda Viva – Chico Buarque
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo (etc.)
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo (etc.)
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo (etc.)

6.11.06

Retirado de, acessem para saber mais: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/11/364893.shtml?comment=on

Ato anti-ocultamento midiático e solidariedade à Luta de Oaxaca em PORTO ALEGRE!

Terça-feira, dia 7 de Novembro as 17:00 em frente a prefeitura velha de Porto Alegre!

ATO ANTI-OCULTAMENTO MIDIÁRICO EM SOLIDARIEDADE AO POVO E À LUTA DE OAXACA!!


Ato anti-ocultamento midiático em solidariedade à Oaxaca!

Ao redor do mundo são organizados atos de solidariedade, estes eventos são muito importantes e não podem parar agora, diante da falta de informação em quase todos os meios de mídia massiva do Brasil. Temos que mostrar ao governo mexicano que nós aqui em Porto Alegre também estamos atentos a todos seus excessos!

Não fique de braços cruzados, proteste contra os meios de mídia que mais não informam novamente acobertando atos de violência e opressão de um dito governo democrático!
Exerça sua liberdade de expressão!!

Este é um ato supra partidário, logo se você for de algum partido, traga suas amigas e amigos, seu instrumento musical ou seu cachorro, mas deixe a sua bandeira em casa. Afinal as eleições já acabaram.

4.11.06


Um dia de esperança e paixão

“Quando penso em minha Terra, penso sobretudo no sonho possível – mas nada fácil – da invenção democrática de nossa sociedade.”(Paulo Freire. À Sombra desta Mangueira, 1995.)

“O amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências que se respeitam. Cada um tem o outro como sujeito de seu amor. Não se trata de apropriar-se do outro.” (Paulo Freire. Educação e Mudança, 1979.)

Para falar em mudança, em transformação é necessário falar de duas coisas: esperança e paixão. Por isso trago duas frases de nosso grande Mestre Paulo Freire. A primeira sobre a esperança e a utopia necessária para nosso luta cotidiana e a segunda, também na mesma linha, mas falando do amor que temos que ter com o outro, a alteridade, o dialogo e a comunicação necessária nas relações. Por que falar destas coisas? Por que hoje foi um dia onde a esperança e a paixão se fizeram presentes: visita ao assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e filme sobre a ditadura militar Argentina, “La noche de los lápis”, e a paixão.
Sonhar o sonho possível é o que o MST vem construindo nestes 22 anos de luta, de persistência, de afirmação e de construção de um projeto onde o homem e a mulher sejam sujeitos da sua história. Ao longo destes anos eles vem tentando construir uma sociedade onde não haja desigualdade, onde a fraternidade reine com a justiça, onde todos sejam irmãos, companheiros e companheiras. Isso ficou perceptível no Assentamento Jair Antônio da Costa, onde desde as crianças até as pessoas mais idosas tem orgulho de dizer “Sou do MST”. Afirmar esta identidade é afirmar um projeto de utopia, de esperança. É afirmar uma luta que continua presente apesar da maquina do capitalismo e da sociedade neoliberal. Uma luta feita de corações que sonham.
Ver no rosto das crianças semterrinhas a paixão e a mística do projeto é perceber que nem tudo está perdido, que ainda resta no fundo de nossos corpos o grito por liberdade. É ver naquelas pessoas que vivem em uma “cidade de lona preta” que é possível sim construir um outro mundo, uma outra sociedade. Ver que todo o processo histórico de luta dos movimentos sociais e das pessoas ainda continua no coração e nos pés fincados no chão, e que é expandida para todos os que vivenciam a proposta e o projeto, e que saem destas vivencias convencidos que temos que destapar nossos potes e abraçar esta causa e esta luta. Perceber que os lápis ainda escrevem, que os corações ainda pulsam, que as vozes ainda cantam e gritam, que as mãos ainda bradam por esperança e por mais espaços de luta e de igualdade. E que apesar da escuridão ainda existe luz, é só abrirmos os olhos.
Essa é a intercomunicação do amor, da esperança e da luta...a paixão que nós move a todos e a todas a construção deste novo amanhã.
Paixão que vemos nos olhos de nossa companheira do lado este ardor por engajar-se neste projeto, paixão nos nossos olhos pela utopia contida nos olhos verdes, no abraço gostoso e no carinho da companheira que se faz presente na luta, na proposta e na opção de construir.

Axé, Aurelê.....

Elisandro Rodrigues
Acadêmico de Pedagogia, militante social e apaixonado pelo verde dos olhos e pela esperança
Novembro de 2006

26.10.06

Faz alguns dias que não produzo, ando na correria como sempre, as idéias vem, mas só na mente, não consiguo passar para o papel.Tempo?Vontade? Nâo sei.
Gosto de escrever.Gosto de escutar. Gosto de ler. Adoro imagens. E as vezes, este tempo é empregado em outras coisas.Andei olhando algumas coisas na internet, e achei algumas coisas legais, seguem os links, são bem legais.

http://www.sedentario.org/blog/?page_id=2699

Apesar de me considerar uma pessoa pouco emotiva, devo admitir que este vídeo me comoveu bastante.
Legal notar que o vídeo só ganha cor após Juan Mann receber o seu primeiro abraço.

Entenda toda a história:

“Há um ano atrás, Juan Mann era só um homem estranho que ficava parado no Pitt Street Mall em Sydney, Austrália oferecendo abraços de graça para as pessoas que passavam pelas ruas. Um certo dia, Mann ofereceu um abraço a Shimon Moore, o líder da banda Sick Puppies e, desde então se tornaram bons amigos. Um certo dia Moore decidiu gravar Mann fazendo sua campanha por “Free Hugs”. À medida que o Free Hugs atingiu proporções maiores, o conselho da cidade tentou banir a campanha . Então Mann e seus amigos fizeram uma petição com mais de 10.000 nomes apoiando a campanha do abraço de graça.

Quando a avó de Mann morreu, Moore decidiu mixar o vídeo que ele tinha feito do Free Hugs com a música All the Same, que ele havia gravado com a sua banda Sick Puppies.

Vale a pena conferir o vídeo. Um filme que apresenta uma verdadeira história que inspira humanidade e esperança.Algumas vezes um abraço é tudo que precisamos. Free Hugs é uma história real, sobre um homem que acreditava que sua missão era trazer alegria na vida das pessoas através de um abraço.”

Texto: Kumazawa

Dica deste post: Dhiego Feitosa

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http://www.sedentario.org/blog/?page_id=2692

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http://www.trintaemtranse.com.br/

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www.carpinejar.com.br/

21.10.06

Uma pedagogia do Contágio
Elisandro Rodrigues[1]

“-Eis meu segredo – disse a raposa.
-É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
-O essencial é invisível aos olhos – repetiu o principezinho, a fim de lembrar (...)
-Os homens esqueceram esta verdade – disse a raposa. – Mas tu não a deves esquecer.”[2]

Contágio, segundo o dicionário Aurélio é, transmissão de doença por contato imediato e mediato, e contagiar é transmitir por contágio; pegar doença por contágio. Hoffmann[3] quando aborda a Pedagogia do Contágio, acredito que quer dizer isso, fazer com que os professores e educadores fiquem doentes, que peguem a doença. Mas que doença?
A doença de uma educação que seja transformadora, humanizadora acima de tudo. Ao tratar deste tema referindo-se a avaliação e processos de avaliação fica claro que ela quer nos mostrar um outro viés de avaliação, a avaliação formativa e mediadora, que emancipa, e que está preocupa com o aprender: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a viver junto, a prender a ser. Avaliar respeitando os tempos e espaços do educando.
É necessário um contágio do prazer em ensinar, e do prazer em aprender, como ela diz citando Fernandez, “a tarefa do professor, para além de ensinar, é a de abrir espaços para aprender, onde se dêem, simultaneamente, a construção de conhecimentos e a construção de si mesmo, como sujeito criativo e pensante”. É preciso quebrar com a lógica que devemos aprender para ser melhor que o outro, ou simplesmente para passar de ano, de série. Avaliar esta aprendizagem, não quer ter por objetivo ver se os alunos aprenderam, mas sim se perguntar como criar aprendizagens que sejam prazerosas e se este aprendizado, que esta sendo ensinado, é construtor de emancipação do educando enquanto sujeito de direito.
O ato avaliativo deve ser humanizador, e não desumanizador, “Práticas avaliativas autoritárias são minas espalhadas por nossas escolas. Detonam a toda a hora e mutilam o desejo de aprender de crianças e jovens. Despertam sentimentos de opressão, de insegurança, de injustiça, de exclusão pelas sentenças de fracasso escolar. Não é este o sentido da avaliação. (...) No lugar de minas, que se enterrem esperanças1”
Este caminho de descobrir e de se contagiar não se faz sozinhos, já sabemos, como diz um dito popular, “andorinha sozinha não faz verão”, é necessário caminharmos com outros que pensam como nós, e devemos praticar essas ações pensadas, compartilhar prática, e compartilhar teoria também. Todos os processos de mudança que são significativos para a humanidade, acontecem em coletivos.
É preciso respeitar os espaços e tempos, é preciso avaliar com sensibilidade, com justiça, valorizando as diferenças de desejar e de aprender, os tempos de cada educando. É preciso ensinar com prazer, reapaixonar os alunos, reencantar a educação. E este processo depende muito dos atuais educadores, professores que estão em formação nos cursos superiores. O que será da nova geração de professores se não houver um reencantamento por uma educação libertadora e promotora da dignidade e da esperança em aprender a Ser-Humano no mundo e com o mundo.
A Raposa, no livro do Pequeno Príncipe, deixa claro que os homens, e as mulheres, esqueceram a verdade, que o essencial é invisível aos olhos, que só se vê bem com o coração. Os nossos corações vêem uma educação liberdadora, uma educação onde as práticas avaliativas e pedagógicas sejam fontes de prazer, de vida, de vontade de construir mundos. Práticas que fazem o sonho de uma escola diferente, de uma escola voltada aos espaços e tempos dos alunos e alunas. “Proponho, sobretudo, resgatar cada aluno e cada professor do coletivo da escola, transformando-os em indivíduos de direitos. Direito ao afeto, direito ao dialogo, direito a convivência, direito ao respeito de ser o que é no seu tempo de ser, sobretudo, de ter a oportunidade de aprender todos os dias enquanto viver.”(Hoffmann, 2005) Proponho também lembramos do que a raposa nos disse, “Mas tu não a deves esquecer”.
Vamos nos lembrar e adoecer outras mulheres e homens, contagiar com a proposta de uma educação transformadora e libertadora.

Referencias Bibliográficas:
HOFFMANN, Jussara. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2005.SOSA, Edgardo. O Essencial é invisível aos olhos: reflexões a partir do O Pequeno Príncipe, São Paulo: Paulinas, 2001.


[1] Elisandro Rodrigues, é acadêmico de Pedagogia, cursando o 4° semestre. Participa de um projeto de Pesquisa intitulado “Democratização na escola: construção do conhecimento e inclusão”, do Centro Universitário Metodista IPA.
[2] Ver Bibliografia utilizada.
[3] Este texto nasce a partir da leitura de alguns capítulos do livro de Jussara Hoffmann, “O jogo do Contrário em avaliação”, que motivou a escrever sobre avaliar, cuidar, e ver o que é invisível aos nossos olhos.

9.10.06

Tirando as carapaças

Já falei tantas vezesDo verde nos teus olhosTodos os sentimentos me tocam a almaAlegria ou tristezaSe espalhando no campo, no canto, no gestoNo sonho, na vidaMas agora é o balançoEssa dança nos tomaEsse som nos abraça, meu amor (você tem a mim)
(A festa – Maria Rita)

Hoje me acordei com uma historinha, que diz o seguinte: Havia um homem, que morava em um vilarejo distante, neste vilarejo todas as pessoas viviam em harmonia, este homem era amado por todos e por todas as pessoas,pois vivia ajudando, vivia ensinando coisas diferentes e mostrando a beleza da música e poesia. Mas certo dia ele se apaixonou por um linda mulher de sua comunidade. Essa paixão foi intensa, e reciproca. Ele nunca havia experimentado um amor tão verdadeiro, ele que falava, que cantava este amor, era a primeira vez que sentia esse amor. Os dois se amaram muito, viveram com muito ardor esta paixão, mas foi por pouco tempo, pois logo ela o deixou, e ele, desanimado e perdido, deixou a felicidade. Começou outro momento em sua vida, um momento de pura tristeza. Já não cantava a beleza. Vivia em dias de cinza. Deixou de lado tudo o que tinha, o que fazia parte de seu ser: a alegria, a felicidade e a poesia. Tratou de aprender com a tristeza armou-se, se fechou de tudo e de todos. Tornou a andar coberto de armaduras e escudos para se proteger das pessoas, e principalmente do amor.
Mas eis que uma forasteira aparece na vila e em sua vida. Ela tentou se aproximar dele, mas de nada bastou, pois ele estava fechado, resguardado. A forasteira começou a ficar triste, mas continuou sua vida. Com a certeza de que aquele homem era diferente, e que dentro dele existia a magia da felicidade, mas ela não podia ficar presa a ele, se ele a não quisesse. Mesmo se a quisesse ela sabia que as pessoas são livres como os pássaros que voltam quando sentem saudades de um lugar.
Um dia uma menina, que era uma das que mais se alegrava com a cantoria e as histórias deste homem, chegou perto deste dele e falou no jeito simples de criança: “Sabe por que as pessoas colocam armaduras para irem para as guerras? Por que elas querem imitar os caranguejos e as tartarugas, mas estes não precisam ir para a guerra. Esta carapaça que eles tem é para proteger de outras coisas, não de si mesmos, por isso que eles as vezes saem sem as carapaças, ou andam de cabeça para fora, coisa que os homens não fazem, eles se escondem de si mesmos, pois a guerra não é necessário, nem o se esconder de si mesmo. A guerra é feita para aprisionar os homens dentro de suas armaduras. Que pena que exista guerra, e que pena que as pessoas se escondem de si e dos outros. Sabe, um dia ainda vou descobrir por que as pessoas são assim”. Ela falou isso, nada mais perguntou, só olhou para o homem, sorrio e o abraçou forte. Saio a cantarolar e brincar com as flores do caminho.
O homem ficou perplexo com o dizer da menina, como podia uma criança falar coisas assim. Alevantou-se e foi para casa. Entrou em casa pegou seu violão e foi a primeira janela e porta aberta cantar. Começou a contar estorias para os passantes. Foi caminhando assim até encontrar a forasteira, que havia decidido ficar naquele lugar, estava ela a planta flores quando viu chegar saltitante e com um sorriso no lábios e a cantar:
“As curvas no caminho,
meus olhos tão distantes,
Eu quero te mostrar os lugares que encontrei
Como o céu pode mudar de cor quando encontra o mar
Um sonho no horizonte, uma estrela na manhã
De repente a vida pode ser uma viagem
E o mundo todo vai caber nesta canção
Vou te pegar na sua casa, deixa tudo arrumado
Vou te levar comigo pra longe
Tanta coisa nos espera, me espera na janela
Vou te levar comigo
Eu quero te contar as histórias que ouvi
E nas diferenças vou te encontrar
O amor vai sempre ser amor em qualquer lugar
Vou te pegar na sua casa, deixa tudo arrumado
Vou te levar comigo pra longe
Tanta coisa nos espera, me espera na janela
Vou te levar comigo”
(Vou te levar comigo- Biquini Cavadão)
E assim é a história. De um homem que desaprendeu a arte de amar e ser feliz e que encontrou nos olhos de uma criança, de uma mulher apaixonada, e nos seus próprios olhos ao se olhar e perceber que a felicidade está contida em nós. Como aprendemos a nos proteger, aprendemos também a viver livre, a doar-se, a amar.

Elisandro Rodrigues
Voltando e desaprendendo a tirar as carapaças...
Outubro de 2006

18.9.06

Sobre Morangos e Feriado

Morangos à beira do Abismo
Um homem ia feliz pela floresta quando, de repente, ouviu um urro terrível. Era um leão. Ele teve muito medo e começou a correr. O medo era muito, a floresta era fechada. Ele não via por onde ia e caiu em um precipício. No desespero agarrou-se a uma raiz de arvore, que saia da terra. Ali ficou, dependurado sobre o abismo. De repente olhou para sua frente: na parede do precipício crescia um pezinho de morangos. Havia nele um moranguinho, gordo e vermelho, bem ao alcance de sua mão. Fascinado por aquele convite, por aquele momento, ele colheu carinhosamente o moranguinho, esquecido de tudo o mais. E o comeu. Estava delicioso! Sorriu, então, de que na vida houvesse morangos à beira do abismo. (Rubem aleves)

Depois de me despedir dela, sai caminhando, e este caminho de despedida o fiz chorando, pois neste momento havia percebido que estava apaixonado por ela. Comecei a contar para Ruah o meu final de semana. Ele havia passado o feriado e o final de semana em suas andanças pelo mundo. Estávamos sentado, como de costume, na escada de casa, olhando a lua cheia no céu estrelado e sentindo o frio da noite.
Continuei, Posso dizer que agora os meus ouvidos dos meus ouvidos acordam e agora os olhos dos meus olhos se abrem. Consegui perceber isso através do silêncio, do toque, do sentir, do dialogo, da alegria que é ela que eu quero. Quero construir um compromisso, um projeto e um caminho com ela. Quero andar de mãos dadas por todo o sempre. Curtir o pôr-do-sol do Gasômetro, e de outros lugares e cantos do mundo, mas sempre abraçados e curtindo o pulsar de nossos corações. Quero andar na chuva, correr nas calçadas, quero voltar a ser criança do lado dela. O que senti nestes dias foi um sentimento e uma experiência do sagrado. Sagrado que é Religare: que é ligar, unir, vincular, atar, fazer um compromisso.
Mas este sentimento tem um que de medo, medo do novo, da ruptura, do sentir e viver intensamente. Mas me sinto melhor quando ela me diz que me quer, e que está feliz por estar encontrando o “eu” dela que havia perdido. A felicidade, a alegria e a liberdade haviam deixado sua casa, e agora estão voltando. Fico contente por estar fazendo este processo, por estarmos fazendo este processo, juntos. Estamos nos-contruindo-juntos.
Parei um pouco de falar e fiquei em silencio olhando e contemplando a noite. Sabe, começou por sua vez o Ruah, muitas pessoas vivem dentro de uma caixa fechada, temos medo de sair de dentro desta caixa, ou as vezes fomos aprisionados ali quando nascemos e não conhecemos mais nada além do espaço de dentro da caixa. As pessoas tem medo de viver de forma diferente, mais intensamente, com mais prazer e perigo. Somos e fomos todos formatados e encaixotados. Que bom que vocês estão conseguindo romper com a caixa de vocês. Existem morangos à beira do abismo, e são morangos gostosos e deliciosos, mas temos que perder o medo e aproveitar os momentos que a gente vive, temos que enfrentar o perigo, e não desistir.
É, voltei a falar, todas as cosias profundas são simples. Acho que devemos caminhar por ai: pela simplicidade. Nosso relacionamento caminha para um que de ternura e mistério, junto com a coragem de enfrentar os desafios. E isso faz nossas almas se comungarem, se unirem com nossos corpos. Ela é, como diz a Cecília Meireles, “Assim-qualquer coisa serena, isenta, fiel. Flor que se cumple, sem pergunta...” Nosso amor vai ser assim: eu para ela e ela para mim. Sendo um: na liberdade, no dialogo, na ternura, no construir juntos.
Calei-me de novo, Ruah começou a me dizer que estava cansado e com sono, que iria dormir, mas antes, me disse, vou-lhe dizer uma coisa que li do Rubem Alves, citando o poeta Fernando Pessoa:
“Amamos sempre no que temos. O que não temos quando amamos. O barco pára, largo os remos, e, um ao outro, as mãos nos damos. A quem dou as mãos? ‘A você’. Teus beijos são de mel de boca, são o que sempre sonhei dar. E agora a minha boca toca, a boca que eu sonhei beijar...Assim vai. Mas chega um tempo em que nos cansamos de dar as mãos, nos cansamos de olhar, nos cansamos de beijar. E dizemos: ‘Vamos Brincar’” Que vocês tenham a simplicidade de dizer um para o outro quando se cansarem, vamos brincar! Pois além do dialogo, do sentir, o brincar e o se cuidar é importante para que os casais construam o seu jeito de ser feliz. Bom agora me vou dormir, to cansado.
Ruah foi para sua cama, e eu permaneci mais um pouco ali. Pensando sobre as coisas da vida. Pensando no meu anjo de olhos verdes....

Elisandro Rodrigues
Setembro de 2005“Quem disse que tudo está perdido? Venho oferecer meu coração.”Fito Paez

Sobre Botecos, Bodegas e Educação



Hoje fui almoçar em um boteco, ou bodega, como queiram. Pois é um boteco mesmo. Não sei se vocês costumam frequentar estes estabelecimentos, ou se lembram de algum assim, boteco? Hoje são poucos as pessoas que comem, e que frequentam um lugar destes, preferem os “shopcenter”, “Mcdonald´s”, em restaurantes de seis estrelas. Eu prefiro ainda os botecos!

Tava lá esperando meu almoço, um prato feito, e olhando o local. A primeira coisa, de muitas que me chamou a atenção, foi as conservas, típicas conservas de bodegas e botecos: ovo, ovo de codorna, pepino, cebola, pimenta, etc...E as cachaças então, tinha cachaça com: butiá, com guapo, com hortelã, com gengibre, de jabuticaba, e por ai se ia.

Não é pelas cachaças que gosto dos botequins. Gosto pelo sentido que eles me trazem. Que sentido? Me sinto como se estivesse voltando no tempo, alguns anos, as vezes alguns séculos. No tempo em que as coisas eram mais simples. No tempo em que as pessoas se encontravam nas bodegas e por ai ficavam conversando e proseando. Em alguns lugares ainda é assim, principalmente nos interiores, boteco e bodega para mim é sinonimo de partilha de vida. Vem na minha memória a idéia de gente se reunindo, bebendo, dando risada. Homens e mulheres partilhando a vida, jogando conversa fora. Tem algo mais gostoso do que jogar conversa fora?

Acredito que as escolas poderiam ser assim, os professores ensinando jogando conversa fora, falando da vida e das coisas da vida, ensinando a partir da realidade e do cotidiano das crianças. Escola-Boteco-Bodega, sem a cachaça, mas com a cachaça da vida, como diria um professor meu, “a vida é uma cachaça e a temos que desfrutas aos poucos, sentindo o gosto dela”. Escola-Boteco-Bodega, lugar de partilha, de aprendizado verdadeiro, de se prazeriar, e não as escolas que temos hoje, que metem medo, que ensinam o individualismo.

Fui almoçando e pensando nestas coisas simples. Estou dando aula em uma escola do município de Porto Alegre, Professor-Estagiário, ou simplesmente estagiário. Venho percebendo por experiência que a educação está sucateada, foi deixada de lado, abandonada. Vemos que a escola e a educação perderam seu sentido, os professores andam sem sentido.

Me pergunto como resgatar este sentido, como não transformar a educação em mercadoria. Existem poucos botecos e bodegas como os de antigamente, com o sentido que eles tinham, de lugar de encontro e de prosa. Nas escolas já não existe o prazer por educar. São poucos os educadores-professores e poucas as escolas que fazem a diferença. Fico almoçando e com a idéia de que necessitamos dar significado novamente para a educação, para o Ser Professor, o Ser Educador, e assim construir uma educação que seja Prática da Liberdade e que construa a emancipação das pessoas. Temos que construir um nova educação, não como fizeram com os botecos e bodegas que transformaram em “Mcdonald´s”, mas transformar a educação, as escolas em lugar de simplicidade e de prazer, e os professores e educadores tem que ser estes botiquineiros.


Elisandro Rodrigues

Setembro de 2006

Só que nem soca de cana. Se cortar eu nasço sempre”

A libertação, por isto, é um parto. E um parto doloroso. O homem, a mulher, que nasce deste parto é um Ser Humano novo que só é viável na e pela superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos. A superação da contradição é o povo que traz ao mundo este homem, esta mulher, nova não são mais opressores, não mais oprimidos, mas homem e mulher libertando-se” (Paulo Freire – Pedagogia do Oprimido)


Um menino gostava de outra menina, só que a menina não compreendia o por que gostava do menino. Os dois se gostavam e se queriam muito, mas nenhum deles conseguia dizer ao outro o sentimento que existia em seus corações. Certo dia o menino resolveu sair e gritar aos quatro cantos do mundo que QUERIA A MENINA, QUE A GOSTAVA MUITO. E assim o fez, explessou este sentimento através da fala, da musica, da poesia, da arte. Mas mesmo assim a menina não conseguiu entender o que ele sentia por ela. Desanimado e desmotivado o menino começou a perder a esperança deste amor que seria tão lindo. Começou a não mais se espressar, foi ai que a menina percebeu a falta que ele a fazia. E assim descobriu o sentimento que pensava não ter por ele. E os dois começaram então a se expressarem juntos, dizendo e gritando ao mundo QUE SE GOSTAVAM, QUE SE QUERIAM E QUE IRIAM CONSTRUIR UM LINDO CAMINHO E PROCESSO JUNTOS, DE MÃOS DADAS CURTINDO O PÔR-DO-SOL E A FELICIDADE DAS MANHÃS DE CHUVA.

15.9.06



Sexta-Feira, manhã chuvosa, isso pede uma boa leitura, começei a ler algumas coisas do Pedagogia do Oprimido, do Paulo Freire, e por isso sugiro a todas e todos que leam ele também. Segue o Link para download e duas pequenas frases para inspirar a busca e a leitura deste livro super importante para a compreensão do mundo, do sujeito e da educação:

"Ao povo cabe dizer a palavra de comando no processo histórico-cultural. Se a direção racional de tal processo já é política, então conscientizar é politizar. E a cultura popular se traduz por política popular; não há cultura do Povo, sem política do Povo."

"Em regime de denominação de consciências, em que os que mais trabalham menos podem dizer a sua palavra e em que multidões imensas nem sequer têm condições para trabalhar, os dominadores mantêm o monopólio da palavra, com que mistificam, massificam e dominam. Nessasituação, os dominados, para dizerem a sua palavra, tem que lutar para tomá-la. Aprender a tomá-la dos que a detêm e a recusam aos demais é um difícil, mas imprescindível aprendizado - é a 'pedagogia do oprimido' ."

O link: www.bibli.fae.unicamp.br/pub/pedoprim.pdf

Pois é amigos e amigas, tentei e tentei mas não consegui colocar os links ai do lado onde diz links, queria colocar alguns de meus amigos e uns blogs interessantes. Mas segue agora uma pequena lista de uns blogs que vale a pena dar uma olhada:

http://celeuma.blogdrive.com

http://apranchetadoguerreiro.blogspot.com

http://www.odiluvio.com.br

http://www.contraofensiva.blogspot.com

http://nuestrovino.blogspot.com

Boa Leitura a todas e todos

9.9.06

E o poeta me falou: Depois de me despedir dela, sai caminhando, e neste caminho o fiz chorando, pois havia percebido que estava apaixonado por ela.

2.9.06







Amigos e amigas...!!!!
A escrita se faz com palavras, mas se faz com imagens, tava dando uma olhada em algumas coisas e achei algumas fotos e imagens legais...
Abraços a todas e todos!!!!

29.8.06

Anjo dos olhos verdes

“A voz de um anjo sussurrou em meu ouvido, eu não duvido eu já escuto teus sinais...”

Tem um escritor, Neil Gaiman, no seu livro “Os filhos de Ananci”, fala que “...Coisas. Elas surgiam. É o que as coisas fazem, Elas surgem...” Com esta frase tento escrever sobre um anjo de olhos verdes. Olhos que falam, que contam histórias, que espalham ternura, que dizem que a vida deve ser vivenciada e desfrutada com extrema intensidade. E que faz surgir coisas...coisas boas.
Há muitas pessoas que tem uma visão e olhos perfeitos mas nada vêem, seus olhos, ao contrario, são instrumentos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo e com os olhos da outra pessoa. Nos seus olhos eu vi este prazer.
Seu abraço, traz afago, carinho, proteção, aconchego, nós da chamego. O tato acontece quando a pele e, portanto, o meu corpo, é tocado por algo de fora (ou por ele mesmo)...Nisso está a sua delicia ! Nisso está seu perigo. Seu toque é perigoso! Suas mãos que afagam, seu corpo que traz calor e proteção.
Este anjo de olhos verdes trago em meu corpo. Tem um filosofo que diz que o que não passa pelo corpo não trasforma, não traz mudanças. Deve ser por isso que me cativaste tanto, você passou e esta no meu corpo. Meu anjo me sussurrou para nunca esquece-la, mas como esquecer a experiência que vivenciamos, experiência que fez-se transcendência. Sabes, aquilo que a memória, o corpo, a boca, as mãos amaram, isso fica eterno.
Esta coisa que surgiu, quando nossos olhos se encontraram, não sei meu anjo o que és!Mas sei que és. Devo estar louco!Primeiro por querer um anjo, segundo este anjo ter olhos verdes, e que toca, beija, abraça, cheira. Terceiro por querer entender a lógica dos sentimentos e desta coisa. Os sentimentos a gente não traduz com palavras, a gente sente simplesmente.
Mesmo sabendo que meu corpo não te esquecerá, reforço minha memória com a sua fala e utiliza da poesia e da música para lembrar de você, para me alimentar mais de você, do seu jeito simples e encantadora de ser...anjo de olhos verdes...anjo simples de pureza e ternura...simplesmente anjo...
“Tudo bem quando termina bem
E os seus olhos (e os seus olhos)
Não estãorasos d’água
Mas eu sei que no coração
Ficaram muitas palavras
Um vocábulo interno de ilusão (e de paixão)
Tudo que viceja, também pode agonizar
E perder o seu brilho em poucas semanas
E não podemos evitar que a vida
Trabalhe com seu relógio invisível
Tirando o tempo de tudo o que é perecível
É impossível, é impossível esquecer você
É impossível esquecer o que senti
(...)
mas antes que eu me esqueça
antes que tudo se acabe
Eu preciso, eu preciso dizer a verdade
É impossível esquecer você
É impossível esquecer o que senti
É impossível esquecer o que vivi”
(Biquíni Cavadão – É impossível)

Anjos sempre estão presentes, mesmo não os vendo sabemos que estão ao nossa lado, você está ao meu lado para me abraçar e dentro de mim para amar...em meu corpo...e assim sempre o será...

Elisandro Rodrigues
Para não perder o brilho e para sempre lembrar que a distância mantém os corpos, os olho, as mãos longe, mas deixa as almas mais livre para voar e se encontrarem construindo assim o que quiserem...

28.8.06

Deusa do Sentir

Estava parado e pensando, no meio do barulho ao redor que o mundo produz, ainda perplexo com o que tinha acontecido me lembrei de um texto do Jorge Larrosa que diz o seguinte:
“A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça, ou toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o autonomismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar nos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço”.
Calado o pensamento veio trazendo imagens e associando a este texto, imagens da qual fazes parte, a primeira que saltou da memória e se abriu na minha frente foi a de uma platéia após vivenciar um momento de intervenção cênica fica calada com a força, a dureza, a ternura e o profetismo que os atores passaram ao encenar. Platéia calada, muda, perturbada, pensando e refletindo sobre o que foi dito e encenado, depois de um longo silêncio que a platéia percebeu que havia terminado a intervenção. Os gestos, as palavras, fazem pensar.
A segunda imagem que vem é a do pôr-do-sol e o silêncio que se segue quando ele esta caindo por detrás das árvores e da água. Silêncio que precede do dia dando lugar a noite, a luz dando lugar a escuridão. A magia requer penumbra e mistério, já lhe havia dito que havia me encantado, e neste momento acho que me encantaste mais com a magia e o mistério de um pôr-do-sol e do começo da noite.
A seguinte imagem é de nós caminhando em silêncio. Se calando e ouvindo um o silêncio do outro. Interrupção de comunicação, mas ligação de almas e de ser. E por fim a última imagem que me traz a mente com este texto é do beijo no meio da multidão. Beijo que desestabilizou, que fez sentir mais devagar, que fez-nós demorar nos detalhes. Que calou e fez pensar...
Deusa da fortaleza, bem disses suas ações e seus gestos. Mas considero-a Deusa do Pensar, pois é assim que fico após te ver, de falar com você. E também agora Deusa do Sentir, do fazer sentir-me nas nuvens, elevando a transcendência, coisa difícil no meio do barulho e de um mar de gente chegando e saindo.
Farei minhas oferendas a partir de hoje a estas Deusa que são uma só. Pedirei fortaleza, rogarei pela ternura de seus olhos, que desestabiliza e cala, pela boca que faz transcender e faz sentir afago, chamego e aconchego com seu abraço...

Elisandro Rodrigues

18.8.06


Irá Chegar o dia

“Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido

Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta”
(O Teatro Mágico – A Pedra mais alta)

Irá chegar um dia, em que você vai chegar, radiante, exuberante espalhando ternura e amor por todos os lados.
Irá chegar um dia que olharás em meus olhos com seus olhos cor de mel e dentro do seu olho dentro irei me ver e te ver juntos, abraçados e caminhando na mesma direção.
Irá chegar o dia em que te vendo me quebrarei em mil pedaços, mas você com sua calma irá me juntar e me colar cuidando de mim.
Neste dia, me sentirei o Ser-Humano mais Feliz do mundo, mas me pergunto quando este dia vai chegar?
Quando poderei olhar em seus olhos e beijar sua boca? Quando poderei sentir sua pele tocando a minha?
Quero este sonho visível, quero esta realidade acontecendo, mas por onde seguir, que trilhas andar para realizar isso?
Vou virar borboleta para ir até você. E brincar com seus cabelos.
Vou virar vento para arrepiar e tocar sua pele.
Vou virar flor para perfumar seus caminhos.
Vou ser anjo para lhe acompanhar lado a lado e não deixa-la se machucar ou se precipitar para o perigo.
Irá chegar o dia em que serei tudo isso e muito mais.
Irá chegar o dia em que serás para mim água para refrescar, aconchego para descansar, chamego para acalmar...
Mas, até este dia chegar e até eu virar e ser tudo isso para você,
Serei eu e você será você
Serei eu aqui longe de você, e você será assim exatamente como és longe de mim.
E com certeza e convicção diremos em nossos lugares: Chegará mais cedo ou mais tarde o dia em que descansaremos nossos olhos um no ombro do outro e sossegaremos nossas bocas com o gosto do mel de nossas bocas....


Elisandro Rodrigues
Agosto de 2006
Tentando fazer poesia, e apaixonado pela maresia e brisa...
Texto escrito por encomenda, hehe, para o aniversário de uma amiga muito especial...

Sem muita frescura, mas com todo o carinho e ternura....

Exatamente assim

Como escrever sobre algo que não se sabe? Como escrever sobre o mistério? Só escrevemos sobre o que sabemos, até podemos escrever sobre o que não se sabe, mas esta escrita será vazia de conhecimentos e de argumentos. Palavras jogadas ao acaso em uma folha de papel não significam nada para quem vai ler, as palavras jogadas só fazem sentido quando o que esta sendo escrito faz sentido para quem esta lendo. O escritor pode dar um sentido ao que está escrevendo, e o leitor pode dar outro sentido....nossa vida é feita de relações e sentido, significados que damos as coisas.
O que escrever ou falar então de uma pessoa que não conhecemos, que não sabemos o que esta pessoa pensa ou faz da vida. Podemos arriscar, a vida também é feita de riscos e rabiscos. Arrisco aqui a falar de você, a escrever para você.
Poderia dizer muita coisa de você ou para você, mas o que dizer se dizes tu ser exatamente assim, sendo exatamente assim como saberei como és? Será que sabem as pessoas ao teu redor? Dizes que é assim, e o és de propósito. Podemos imaginar teu jeito de ser, podemos sonhar, até mesmo nos alucinar com teu jeito de ser. Se imaginarmos suas unhas vermelhas passando e raspando em meu braço, poderia enlouquecer sonhando com sua boca sussurrando qualquer palavra em meu ouvido, ou endoidecer de vez simplesmente com o olhar dentro do teu olho dentro.
Mas não sei se me arriscaria a chegar perto de você, preferiria ficar ao longe admirando a ternura e a beleza, até por que, se chegar perto poderei me queimar, ou poderias entrar em erupção e me deixar coberto de lava, lava de beleza e sensualidade, escondidos por trás de sua ternura e seu jeito de ser. A beleza é um mistério, assim como a vida. E a magia requer penumbra e mistério. Por isso deves gostar tanto da noite, pois é na noite que a magia fica mais forte, é na noite que sua beleza e o seu ser deslumbram. Sendo assim, gostaria de ser uma coruja, só para ver este seu mistério, e tentar descobrir esse exatamente que és.
Sendo coruja poderia voar e não me queimar com a lava do vulcão, me aqueceria, e isso seria bom, pois me animaria mais a te olhar. Contemplaria o entardecer perto de você, veria o dia se transformando em noite, eu veria mais a partir do entardecer, e junto com você olharia a lua cheia e a magia que ela tem nas pessoas, a beleza que és a noite em lua cheia, mas me impressionaria em perceber que estava mais encantado com a sua beleza e os raios de luz que seus rosto transmite do que com a lua em sua perfeição.
Sendo coruja seria um companheiro para a noite onde se transformaria em um bicho da noite e sairia comigo a olhar as festas e as procissões, os choros e a alegrias que estão escondidos no escuro da noite. Gritaríamos nas ruas palavras de liberdade e de vida, de luta e revolução. Profetizaríamos dos espaços escuros da noite de lua cheia uma vida nova para as pessoas, com direitos e longe da opressão. Cantaríamos a liberdade ao amanhecer.
Já na manhã teria a certeza de que queria ser seu companheiro e mesmo indo para o inferno saberias que as vezes daria um pulo lá para saudar as companhias, quando se enjoasse do clima agradável do céu. Até por que és um ser assim assim, que não se cansa e que sempre esta nas primeiras filas das marchas.
Quem sabe assim conseguiria dizer que és exatamente assim, é não és de propósito, és por que és, és pois este é teu jeito sonhador e revolucionário de viver. Me sentiria feliz e alegre, pois serias o que tinha pensado e o que tinham me comentado, voltaria para minha terra, para meu lugar contente de saber que não és um ser qualquer perdido no mundo, és um Ser Único, que espalha ternura e beleza por onde passa, que cria nos corações das pessoas sonhos e utopias, que alimenta a vontade do povo de querer se organizar e lutar por uma vida digna.
Assim és, um mistério ainda...mas um mistério que gera vida, alegria e felicidades aos que estão ao seu lado, e longe de você....
São palavras sem sentido o que escrevi, peço que dês o sentido....sentido da vida e da utopia, da loucura e do profetismo.

Elisandro Rodrigues
Agosto de 2006
Para o aniversário da pessoa que se diz ser exatamente assim, e de propósito....

11.8.06

Sobre criar sentimentos

P.S: Mais uma conversa com Ruah e um pouco da história dele. Sobre como as pessoas criam sentimentos e o medo existente em deixar-se cativar...
Sobre os sinos e o mar de Neruda e sobre o cativar da raposa...

Engraçado, Ruah (meu amigo musaranho) sempre vem conversar comigo em noites de lua cheia, não sei se é mais inspiradora estas noites. Hoje foi um desses dias, Ele veio se aproximando e querendo conversar, ficamos jogando papo fora e num desses papos Ruah me contou a seguinte história, sobre a vida dele e um de seus amores.
“Sabe, tive um amor uma vez que foi diferente e estranho. Ela era linda, encantadora, tinha uma magia muito forte que fazia qualquer um ficar de queixo caído quando a via. Mas eu a vi poucas vezes, a conhecia de longe, nem me lembro se chegamos a trocar muitas palavras antes da primeira conversa. Nesta primeira conversa fui logo abrindo meu coração e dizendo o que eu sentia por ela. Ela no seu jeito simples e tenro de ser me disse o seguinte: ‘Como posso querer-te e gostar de você se ainda não criei sentimentos por ti’.
Com esta frase ela me acabou, fiquei pensando em que disser, mas anda vinha a minha cabeça. Este foi o meu amor, gostei dela por muito tempo, mas não consegui achar uma maneira dela criar sentimentos por mim. Mas hoje estava pensando no que ela falou. Criar sentimentos. O que é criar sentimentos?
No livro do Saint Exupéry “O Pequeno Príncipe”, ele tenta explicar o criar sentimentos através do dialogo do Pequeno Príncipe e a Raposa. O menino estava em busca de amigos, mas a raposa disse que isso era um processo, de criar laços, mas que a muito estava esquecida. O dialogo é mais ou menos assim: ‘Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas’.”
Ruah parou um pouco e ficou a pensar, depois continuou. “É a raposa estava certa, hoje as pessoas esqueceram o que é o cativar, o que é criar sentimentos, e o processo que se deve ter para isso. Será que hoje estamos dispostos a nos deixar cativar? Eu tive muito medo de deixar-me cativar e não soube cativar as pessoas por muito tempo. Mas quando parei para pensar o por que disso vi que temos medo da ilusão, do engano, do sofrimento que o deixar-se cativar e deixar-se criar sentimentos trazem. Não nós permitimos sentir, não nós deixamos sentir. Esta ai o erro. Como queremos cativar e criar sentimentos se não nós permitimos isso? É complicado...mas também é simples...é só nos permitirmos...”
Dito isso Ruah se retirou e me deixou sozinho contemplando a Lua. Peguei um livro que estava perto de mim, e nele estavam marcados duas paginas, li o que estava escrito e percebi o por que das idéias de Ruah, as vezes palavras, frases, musicas nos fazem lembrar de coisas passadas. As passagens são de um livro do Pablo Neruda “últimos poemas – o Mar e os Sinos”. As passagens dizem isso: “Se cada dia cai dentro de cada noite, há um poço onde a claridade está presa. Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída com paciência.”
O criar sentimentos dever ser isso, sentar-se na beira do poço e pescar luz com paciência. Só assim, quem sabe, perdemos o medo de deixar-nos...de permitir-nos sentir de verdade a profundidade das relações.
Ta ficando tarde, parece que a noite vai chorar, as nuvens começam a tapar a lua e se aprontar para chorar por não se permitir a sentir. Sinto a lua mais uma vez, sinto o vento de noite de chuva, e vou para a cama dormir, recitando mais um poema do Neruda.
“Quero saber se você vem comigo a não andar e não falar, quero saber se ao fim alcançaremos a incomunicação; por fim ir com alguém a ver o ar puro, a luz listrada do mar de cada dia ou um objeto terrestre e não ter nada que tocar, por fim, não introduzir mercadorias como o faziam os colonizadores trocando baralhinhos por silêncio. De acordo, eu te dou o meu com uma condição:não nos compreender.”

Elisandro Rodrigues
Agosto de 2006
Faz um friozinho e cai uma chuva fina, um bom dia para deixar-se criar sentimentos....

9.8.06

Esta música me lembra de olhares e de sorrisos...


As Coisas mais lindas - Cassia Eller

Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem - vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela, então eu me vi
Está em cima com o céu e o luar
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar
Água- marinha põe estrelas no mar
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar
E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Hoje você está
Onde você está
As coisas são mais lindas
Por que você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas
Em meio as coisas do mundo

Em meio a palavras como: revolução, Socialismo, anarquismo, Comunismo, Construção, Igualdade. Em meio a imagens que mostram a violência, a ternura, a força e a luta. Nada disso permaneceu. Nem palavras, nem imagens. A única coisa que permanece é seu sorriso. Fixou-se a imagem dele em minha mente. Não existe em minhas recordações outra imagem mais bela do que o seu simples sorriso.
A idéia sua ficará e permanecerá. Poeta me tornarei, pois com a beleza e o brilho que tens criarei poesias e canções e encantarei a todas e todos pelos caminhos. Profeta serei a profetizar uma nova terra onde todos sejam iguais, onde a liberdade e a vida em abundância prevaleçam. Louco....
Louco sou de me encantar e apaixonar por um sorriso...louco sou de em vez de me encantar com a beleza da lua cheia, me encantei com seu sorriso...sou louco a ponto de gritar as palavras de Ítalo Rovere para todo o mundo me escutar:
“Tudo isso foi no escuro da noite
Para que refletores?
Vamos fazer nossa própria luz...

Teu calor
Teu Jeito
Concentrado
Disfarçado
Chamou-me a Atenção

Fui embora
e nem te disse
que fui embora
eu fui embora
Por quê?
Não sei!

Não quero pensar que fui embora
Prefiro pensar em te encontrar nova(mente)
Ler-te
Falar contigo
Como se tu
Me conhecesses
De antes
De beijar minha boca
E ao meu ouvido tivesse dito
O Meu olhar viu o Teu
Eu te vi
Tu me vistes
Tu me fazes ver
Tu és o amor
ADEUS – A eus – As – Eu – Deus – A Deus

Estou partindo em mil pedaços
Por que não sei quem tu és
Eu te via
Tu me vias?
Eu não sei
Senti-me visto por ti

Coloquei a mascara da minha nudez
estava com os pés em cima do risco
Tu és a Pureza
Tu és a Beleza
M
A
G
I
A
Teu tato vai ficar gravado
Feito grámatica
Sei lá
Foi só um
Relâmpago
Em uma noite
Perdida no tempo
No meio da multidão
absorvida pelo barulho
das vozes e dos sons

Subi no céu sozinho
Por que não vens até aqui
No meu coração?
Eu te sinto

O teu tato é amarelo
assim como o sol
Se for falar do teu brilho
então nem pensar
por que não teria fim
TE vendo
Não há por que saber teu nome
É teu olhar que olha para o meu?
No meu coração tua existencia faz-me feliz
mesmo sem falares comigo
e sem saberes meu nome
vou continuar a ver-te
Como foi bom ver-te tão leve
Pensei que fosses me levar...

Qual é a tua cor?
Quero saber de ti...

Tua face estava Lavada
tinha brilho
a tua pele
Reluzia
Luzia
Luz
ia
para onde ias?

Eu não te via
Eu te procurando
Vagava no teu mistério
TE vi
TE vi
TE vi

Esqueci de Mim
Ali
Ali
Ali

Te vi te
Vi te vi

Tu estás onde não te esqueci
Não quero te esquecer
Vou te guardar.”

Elisandro Rodrigues
Agosto de 2006- Teatros, Filmes e Rodoviária até que são inspiradoras, mas não ganham de você.

7.8.06

Ajudando os amigos, e já dizendo que é muito boa esta cachaça, já provei muitas.





CACHAÇA BIDESTILADA FLAVORIZADA CHICA
Cachaça de alambique curtida com frutas:
gengibre, figo, caroço de ameixa, maçãnela e ouro(6 anos).
Peça já as suas!
Melhor viver com Chica do que com tédio!

Butecanha Empreendimento de Economia Solidária

contatos: 92875319(c/fabricio) ou 84015860(c/guilherme)
ou
ungaretticoutinho@yahoo.com.br
guilhermecarlin@yahoo.com.br
butecanha@yahoo.com.br
Deixem-me olhar

“Deixem-me viver
Deixem-me falar
Deixem-me crescer
Deixem-me organizar...
Amores vão de novo florescer...
O povo organizado vai vencer.”
(Letra e música de Pe. Enoque Oliveira)

Deixem-me viver...
Na agitação e correria da vida não damos atenção ao que nos cerca. Não damos atenção a arte e a cultura, cultura que é a nossa vida e a transforma. Não percebemos a simplicidade dos fatos, dos encontros e dos desencontros. Da cultura que é intrínseca a nossa alma, pois somos seres sempre em construção, e o que construímos é cultura.
Quando vivemos nossa vida com cultura, com arte ela se transforma, se mostra diferente, percebemos o mundo com outros olhos. Muitas vezes estes olhos encontros outros. Os encontros de olhos no meio da multidão levam nos a pensar muitas coisas, imaginar muitas coisas. A pensar na dinâmica da vida e das relações, em como seria ou não seria estar com aqueles outros olhos.
Deixem-me falar...
Muitas relações se dão por meios virtuais, outras tantas se dão simplesmente no estar junto com as pessoas, existem diferentes formas de se relacionar com alguém, tanto mais afetivamente chegando a gerar um amor, ou uma afetividade que cria uma amizade muito grande. O grande relacionamento, esta neste pequeno, que muitas vezes não se nota, esta nos olhos.
Olhos que quando se encontram brilham e contam histórias. Ao se encontrar os olhos olham dentro do olho dentro e ficam se enamorando, muitas vezes os donos e donas desses olhos não percebem este momento, mas ele existe. Nós não deixamos que os momentos aconteçam, que surjam, que cresçam. O medo, a preocupação, ou sei lá o que faz com que estes momentos fiquem só nos “pensamentos’ dos nossos olhos.
Por que não deixar que os olhos falem e que a boca se cale. A comunhão perfeita se dá no silêncio dos olhares, na fala que se estabelece, no grito, no beijo que os olhos dão.
Deixem-me crescer...deixem-me organizar...
Se não regamos uma flor, uma arvore, uma planta, ela não cresce. Se não regamos a cultura com cultura, a vida com vida, o amor com amor, o olhar com outros olhares nada cresce. Nada de organiza. Como somos seres de cultura somos seres que criam e recriam toda a hora, perceber estes momentos, e criar com eles é o que nos faz crescer. Quando um olho olha o outro temos que regar este olhar com ternura, para que os olhos permaneçam um pouco mais a se mirar.
Amores vão de novo florescer...
Com tudo isso que sabe se os amores não vão de novo florescer, e nossa vida se alegrar...

Elisandro Rodrigues
Agosto de 2006
“É muito gostoso esse nosso aconchego este nosso chamego, essa nossa alegria de ser feliz.”

31.7.06


E o Rei Solipicismo perguntou ao bobotopia "Me diga do que vale viver?", "Viver, digo a você meu Rei, é ser feliz e amar tudo o que esta a volta.", O Rei volta a perguntar a seu criado "Mas o que importa ser feliz em uma sociedade onde a felicidade se compra e é virtual?", "Essa felicidade que vivemos não é a felicidade, ela esta escondida nas coisas mais simples, nos pequenos fatos, e não se compra, se conquista e se cria".
O Rei indignado com a contrariação de seu criado mandou-o para a forca, como exemplo de que a autoridade não pode ser desrespeitada.

Convite à glória

_ Juntos na poeira das encruzilhadas conquistaremos a glória.
_ E de que me serve?

_ Nossos nomes ressoarão
nos sinos de bronze da História.
_ E de que me serve?

_ Jamais alguém, nas cinco partidas do mundo,
será tão grande.
_ E de que me serve?

_ As mais inacessíveis princesas se curvarão
à nossa passagem.
_ E de que me serve?

_ Pelo teu valor e pelo teu fervor
terás uma ilha de ouro e esmeralda.
_ Isto me serve.

(Drummond e Portinari:
Leituras do Quixote)

Soneto da loucura

A minha casa pobre é rica de quimera
e se vou sem destino a trovejar espantos,
meu nome há de romper as mais nevoentas eras
tal qual Pentapolim, o rei dos Garamantas.

Rola em minha cabeça o tropel de batalhas
jamais vistas no chão ou no mar ou no inferno.
Se da escura cozinha escapa o cheiro de alho,
o que nele recolho é o olor da glória eterna.

Donzelas a salvar, há milhares na Terra
e eu parto e meu rocim, corisco, espada, grito,
torto endireitando, herói de seda e ferro,

E não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens,
na férvida obsessão de que enfim a bendita
Idade de Ouro e Sol baixe lá nas alturas.

(Drummond e Portinari:
Leituras do Quixote)
SOBRE O CAMINHO DA LOUCURA

Um velho entrou em um bar e perguntou:
"Alguém sabe onde encontrar o lugar do início ou do final do caminho da loucura?" Perguntou ele aos frequentadores do bar em que entrará. Todos ficaram quietos, alguns soltaram uma piadinha tipo "eu sei velho louco, na sua casa", mas a grande maioria permaneu em silêncio. O velho virou as costas e saio, a caminhar no seu caminho da loucura enquanto não achava outro.
Santa Loucura – Almoçando


Natasha aproximou-se da janela, vindo do pátio, abriu-a de par em par, para que o ar entre mais livremente em minha sala. Vejo a faixa de grama bem verde junto ao muro e o céu azul e claro acima dele, o sol por toda a parte. A vida é bela. Que as gerações futuras eliminem dela todo o mal, opressão e violência, gozando-a plenamente.
(Leon Trotsky)

Cheguei em casa logo depois do meio dia, ainda não havia almoçado e me pus a preparar algo, pois o estomago já estava reclamando por comida, e como diz o ditado “saco vazio não para de pé” fui ao serviço. Nisso me chega Ruah (ultimamente ele anda estranho). Ficou ali parado ao meu lado só observando o que eu estava fazendo. Perguntei para ele o que estava acontecendo, ele nada disse. Saio e logo em seguida voltou e me disse:
“Pó que foda é a vida”. Nem tive tempo de pergunta ro por quê e ele foi logo completando o que queria dizer. “Eu to aqui, um intelectual, viajante do mundo, com mil coisas para discutir, política, educação, meio-ambiente...tanta coisa a escrever e comunicar ao mundo o que eu ando percebendo. Mas em vez de estar escrevendo e falando sobre isso, o que estou pensando é no amor...” Quando ele terminou senti um cheiro estranho, era o meu arroz queimando...
Depois de recuperar o que se podia do arroz, Ruah e eu voltamos a conversar. Falei para ele da grandeza do amor, ele me falou das pequenas coisas que estão escondida no amor. Conversamos sobre como é bonito amar, e também triste. Conversamos sobre os nossos amores (descobri ai que Ruah não falava sobre os seus amores, por achar perda de tempo, por pensar que discutindo economia iria mudar o mundo e o amor sempre ficava para segundo plano). Depois de tanta conversa me deparei com uma questão interessante, mas foi Ruah que falou.
“Já percebeu que há vários ‘amor’, há diferentes tipos de amar e demonstrar o amor”, “é sabia” falei. Mas fiquei ainda com isso na cabeça, diferentes tipos de amor. Comecei a me perguntar e a refletir sobre os meus tipos de amor. Já havíamos almoçado e Ruah estava se dirigindo para seu cochilo diário, e antes de entrar em seus aposentos falou para mim, “mas na minha opinião, pequena opinião o amor é assim: O amor é como um pássaro que voa livre pelo céu sem se preocupar com comida, moradia, sem se preocupar com o vento, para que lado sopra ou não, sem se preocupar com a chuva. Há pessoas que pensam assim, mas existe outras que pensam que o amor é para ser guardado, que é só seu, e assim colocam o pássaro dentro de uma gaiola, engaiolam o amor...”.
Terminou de falar isso e se retirou.
É sinceramente o amor é perigoso. Me lembrei de uma passagem bíblica muito famosa, muito cantada e que fala entre linhas que o amor é como o pássaro livre, que voa pelos céus. Não sei onde esta escrito, nestes aspectos não sou muito cristão, mas diz mais ou menos assim:
“O amor é paciente, o amor é prestativo. Não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regojiza com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá. Pois o nosso conhecimento é limitado, limitado também é a nossa profecia. Mas quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado....”
O amor é perfeito? Deve ser, mas nós não somos, somos seres inconclusos.
O amor jamais passará, pois ele não é limitado.
Depois de tanto pensar fui tirar meu cochilo. E ao dormir sonhei. Sonhei que éramos como dois pássaros a voar pelo céu azul do verão...

...do Seu Mais e do Seu Querer mais...
Elisandro Rodrigues
P.S: O ato de escrever e cozinhar ao mesmo tempo até que da certo.
Março de 2006

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento