31.7.06

Santa Loucura – Almoçando


Natasha aproximou-se da janela, vindo do pátio, abriu-a de par em par, para que o ar entre mais livremente em minha sala. Vejo a faixa de grama bem verde junto ao muro e o céu azul e claro acima dele, o sol por toda a parte. A vida é bela. Que as gerações futuras eliminem dela todo o mal, opressão e violência, gozando-a plenamente.
(Leon Trotsky)

Cheguei em casa logo depois do meio dia, ainda não havia almoçado e me pus a preparar algo, pois o estomago já estava reclamando por comida, e como diz o ditado “saco vazio não para de pé” fui ao serviço. Nisso me chega Ruah (ultimamente ele anda estranho). Ficou ali parado ao meu lado só observando o que eu estava fazendo. Perguntei para ele o que estava acontecendo, ele nada disse. Saio e logo em seguida voltou e me disse:
“Pó que foda é a vida”. Nem tive tempo de pergunta ro por quê e ele foi logo completando o que queria dizer. “Eu to aqui, um intelectual, viajante do mundo, com mil coisas para discutir, política, educação, meio-ambiente...tanta coisa a escrever e comunicar ao mundo o que eu ando percebendo. Mas em vez de estar escrevendo e falando sobre isso, o que estou pensando é no amor...” Quando ele terminou senti um cheiro estranho, era o meu arroz queimando...
Depois de recuperar o que se podia do arroz, Ruah e eu voltamos a conversar. Falei para ele da grandeza do amor, ele me falou das pequenas coisas que estão escondida no amor. Conversamos sobre como é bonito amar, e também triste. Conversamos sobre os nossos amores (descobri ai que Ruah não falava sobre os seus amores, por achar perda de tempo, por pensar que discutindo economia iria mudar o mundo e o amor sempre ficava para segundo plano). Depois de tanta conversa me deparei com uma questão interessante, mas foi Ruah que falou.
“Já percebeu que há vários ‘amor’, há diferentes tipos de amar e demonstrar o amor”, “é sabia” falei. Mas fiquei ainda com isso na cabeça, diferentes tipos de amor. Comecei a me perguntar e a refletir sobre os meus tipos de amor. Já havíamos almoçado e Ruah estava se dirigindo para seu cochilo diário, e antes de entrar em seus aposentos falou para mim, “mas na minha opinião, pequena opinião o amor é assim: O amor é como um pássaro que voa livre pelo céu sem se preocupar com comida, moradia, sem se preocupar com o vento, para que lado sopra ou não, sem se preocupar com a chuva. Há pessoas que pensam assim, mas existe outras que pensam que o amor é para ser guardado, que é só seu, e assim colocam o pássaro dentro de uma gaiola, engaiolam o amor...”.
Terminou de falar isso e se retirou.
É sinceramente o amor é perigoso. Me lembrei de uma passagem bíblica muito famosa, muito cantada e que fala entre linhas que o amor é como o pássaro livre, que voa pelos céus. Não sei onde esta escrito, nestes aspectos não sou muito cristão, mas diz mais ou menos assim:
“O amor é paciente, o amor é prestativo. Não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regojiza com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá. Pois o nosso conhecimento é limitado, limitado também é a nossa profecia. Mas quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado....”
O amor é perfeito? Deve ser, mas nós não somos, somos seres inconclusos.
O amor jamais passará, pois ele não é limitado.
Depois de tanto pensar fui tirar meu cochilo. E ao dormir sonhei. Sonhei que éramos como dois pássaros a voar pelo céu azul do verão...

...do Seu Mais e do Seu Querer mais...
Elisandro Rodrigues
P.S: O ato de escrever e cozinhar ao mesmo tempo até que da certo.
Março de 2006

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento