31.7.06


Convite à glória

_ Juntos na poeira das encruzilhadas conquistaremos a glória.
_ E de que me serve?

_ Nossos nomes ressoarão
nos sinos de bronze da História.
_ E de que me serve?

_ Jamais alguém, nas cinco partidas do mundo,
será tão grande.
_ E de que me serve?

_ As mais inacessíveis princesas se curvarão
à nossa passagem.
_ E de que me serve?

_ Pelo teu valor e pelo teu fervor
terás uma ilha de ouro e esmeralda.
_ Isto me serve.

(Drummond e Portinari:
Leituras do Quixote)

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento