25.9.07

Uma reflexão após abrir o Baú...


"O Contador de histórias africano começa assim: não queremos dizer, não queremos dizer que o que vamos contar agora é verdade. É apenas uma história, uma história; deixe-a ir e vir". (O Baú das Histórias - Gail Haley)

Quero começar este texto trazendo a reflexão que faço neste pôr de sol, que enxergo da janela de casa, sobre os sonhos que deixamos ir e vir. O que lhes conto é apenas uma história, mas é uma história que criou asas e voou. História que se faz presente nas pessoas e nas crianças. E como diz a letra da música da Bhia Tabert, composta para a peça “O Universo da Imaginação”: “Vou contar uma história que fala de brinquedo e brincadeira. Quem gosta de fantasia, conto de fadas e castelo assombrado vai gostar, então ouça que vamos começar.”
A história do Baú de Encantos está sendo contada neste blog, mas hoje queria lhes contar do que andamos fazendo, dos nossos sonhos que estão encantando e fazendo crianças sorrir, de uma forma embaralhada mas com os meus sentimentos.
Para um grupo que não tem um ano de vida ainda estamos muito avançados em nossos sonhos e nossas utopias se fazem na ação do olhar e do brincar. Não sei se isso se dá pelo desejo dos integrantes deste Baú de encantar ou o quê. Mas acredito que é na vontade que temos de construir algo novo que vamos caminhando e trilhando novos rumos.
Nestes últimos meses, de agosto e setembro, fiquei pensando em como estamos atarefados, é tanta coisa que às vezes não conseguimos nos organizar. É a peça da Família Pirata, que apresentamos em mais dois colégios de São Paulo e em uma atividade no Museu de Guaíba. É o Universo da Imaginação, que já apresentamos para mais de 300 crianças e uns 100 adultos (hoje apresentamos para crianças de 4 a 6 anos na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre). Tem também a peça que fala sobre “as lutas e os sonhos da juventude”.
Nosso mês de setembro e outubro está cheio com apresentações em escolas do Universo da Imaginação e de um novo projeto que se chama “Biblioteca Mágica” que apresentaremos em Santo Antônio da Patrulha. O que mais me fez ficar encantado nestes últimos dois meses foi em ver o sorriso estampado no rosto das crianças, daqui do Rio Grande do Sul e de São Paulo.
São reuniões e mais reuniões. Encontros para ensaio. Encontros para jogar conversa fora. Encontros para estudar. E tudo isso são momentos de vivência, de alegria, de sonhar com o novo. Deste sonhar o novo estamos com outros dois projetos, com outras apresentações marcadas, com muitas idéias que aos poucos vão enchendo o Baú de mais Encantos.
É esse sorriso que nos motiva a continuar com os projetos. No olhar dos jovens da FASE e das crianças dos Abrigos, com os quais começamos a trabalhar esta semana de setembro. Não são simples oficinas e simples apresentações. É esperança de que é possível por meio da arte transformarmos, modificarmos e sermos seres com dignidade.
São muitos os projetos, os sonhos, as aspirações que este povo do Baú de Encantos tem em seus corações, que a alegria de um contagia a tristeza de outro e leva a se encantar, se alegrar, ser feliz.
É de um jeito simples que construímos este Baú. É de um jeito simples que vivemos, que apresentamos. E é uma felicidade enorme que sentimos quando olhamos para as crianças e os jovens. Quando contamos a alguém o que estamos fazendo, e no olhar as pessoas contagiadas pela nossa proposta de trabalho, no olhar de gente nova se agregando ao grupo que continuamos a Encantar e juntar tralhas, bugigangas, novidades, sonhos e esperanças para dentro deste Baú.
Bom, o sol já se pôs e tenho que ir para a minha aula.
Abraços de encantos.

(Elisandro Rodrigues)
19 de setembro de 2007
"Contei minha história. Entrou por uma porta, saio pela outra. Quem quiser que conte outra."

1.9.07

A dúvida sobre o que escrever
"As paixões são misteriosas, e as das crianças não são menos que as dos adultos. As pessoas que as experimentaram não as sabem explicar, e as que nunca as viveram não as podem compreender. Há pessoas que arriscam a vida para atingir o cume de uma montanha. Ninguém é capaz de explicar por quê, nem mesmo elas. Outras arruínam-se para conquistar o coração de um determinada pessoa que nem quer saber delas. Outras, ainda, destroem-se a si mesmas porque não são capazes de resistir aos prazeres da mesa - ou da garrafa. Outras há que arriscam tudo o que possuem num jogo do azar, ou sacrificam tudo a uma idéia fixa que nunca se pode realizar. Algumas pensam que só podem ser felizes em outro lugar que não naquele onde estão e vagueiam pelo mundo durante toda a vida. Há ainda as que não descansam enquanto não conquistam o poder. Em suma, as paixões são tão diferentes quanto o são as pessoas" Michael Ende - A história sem fim.
Não sabia sobre o que escrever, faz uma semana que venho pensando em que escrever neste POST NÚMERO 100. Chegar a ele não foi fácil, cerca de 90% dos textos neste blog são meus, os outros de amigos, algumas noticias, frases soltas ao vento. Faz algum tempo que já venho postando neste endereço, quase dois anos de escrita, de expressar os pensamentos e as idéias.
Hoje em dia todo mundo escreve, e isso é bom, mas ainda poucas pessoas lêem. Não sei se as pessoas lêem o que escrevo, alguns sim, muitos não. Mas muitas vezes não escrevo para as pessoas, escrevo para mim mesmo. Mas este texto escrevo para as outras pessoas. Escrevo para dizer que cheguei ao post número 100. Muito blogeiros (está correto está palavra –depois procuro) já ultrapassaram isso com textos seus a muito tempo e muito mais rápido do que eu. Mas pensando nestas coisas, acabei refletindo na ousadia de escrever, na ousadia de se expressar. Poucos fazem isso. Como disse acima faço isso para mim. Mas é importante que as pessoas escrevam, que as pessoas lêem, me lembro da decisão e começar a escrever mais seguido, isso foi no dia 15 de novembro de 2004, não sou escrito, gostaria de ser, mas o que vale é a tentativa e a forma de se expressar. Fico feliz comigo mesmo, e com as pessoas que me lêem. Feliz comigo pois sou uma pessoa comum, como a maioria, estudo, trabalho, tenho as muitas crises – quase diárias, mas continuo a escrever, as vezes com sentido e muitas vezes sem sentido, mas estou fazendo isso por paixão.
Estou terminando de ler o livro do Michael Ende, A história sem fim, do qual muitos já devem ter assistido o filme, e nas primeiras páginas ele escreve o que transcrevi acima. As nossas paixões são as mais diferentes possíveis. Considero minha escrita uma paixão. Considero minhas leituras uma paixão. E considero os que me lêem com paixão.
Continuem se apaixonando por coisas, por pessoas, por livros, por textos...pois assim a vida continua a rodar feito roda gigante.
Elisandro Rodrigues
Setembro de 2007
Sentado na roda gigante e vendo as crianças a correr lá embaixo...

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento