10.1.07

Amigas e amigos, depois de tentar engravidar todo mundo, no bom snetido é claro, não havia escrito mais nada, então tentei me puxar neste inicio de ano, mas também não rendeu nada. Mas ai está um texto que fiz para uma charla na Semana Social Mundial, promovida pela revista Diluvio. Abraços para quem é de abraço e beijo para quem é de beijo.


Um olhar sobre o FSM e o AIJ: A construção de novos paradigmas na perspectiva de um Louco, de um Poeta e um Profeta

Antes de iniciar a explanação queria dizer três coisas. A primeira é esta atividade promovida pela revista Dilúvio é muito importante para estarmos em sintonia com o FSM e também para continuarmos no clima de UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL. Segundo, tem gente aqui que tem muita mais experiência do que eu para falar sobre o AIJ, então vou tentar ser bem simples na minha fala para depois essas pessoas poderem também dar uma charlada conosco, e também para não demorar muito né, par anão ser como as reuniões do AIJ. E por fim, resolvi nesta fala sobre um olhar sobre o FSM e o AIJ, em vez de um olhar, resolvi entrevistar três pessoas e ter três olhares, então veremos aqui os olhares de Um Louco, Um Poeta e Um Profeta. Sabemos que o processo do Acampamento Intercontinental da Juventude teve vários problemas e várias em sua organização, mas não quero levantar estes temas, por isso resolvi fazer uma abordagem no viés de uma perspectiva que nos ajude a pensar este outro mundo possível através da luta e da construção coletiva, não do individualismo e de uma desconstrução, como muitos são acostumados a fazer. Buenas vamos lá então.

Olhar de um louco sobre o Processo do AIJ e a importância que o acampamento teve para a organização Juvenil

Nesta primeira entrevista que fiz, encontrei um louco a caminhar pelas ruas de Porto Alegre, então comecei a falar com ele e pedi se ele havia participado dos acampamentos do FSM, a resposta dele foi afirmativa, então começou a me falar algumas coisas sobre o seu olhar de louco.
Disse para mim que o Acampamento da Juventude constitui-se como um ambiente de dialogo entre a diversidade de indivíduos, movimentos e organização que participaram de sua construção, e que teve uma grande importância pois a partir do 1° AIJ começou-se a pensar em um movimento dos movimentos.
Falou-me que como a juventude estava impossibilitada de incluir-se nas atividades do FSM (em 2001), permitiam somente a participação de representantes de entidades, a juventude ocupou o Parque da Harmonia , e no Acampamento Intercontinental da Juventude, criou sua própria forma de inserção e debateu suas pautas especificas. Este protagonismo exercido por alguns setores de juventude organizado representou uma vitória pois do descrédito de uma juventude que não sabia se organizar, percebeu-se que não era assim.
O AIJ passou a ser elaborado como espaço de práticas alternativas as impostas pelo modelo hegemônico de sociedade. Isso levou a participação além de local, da cidade de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, para uma organização maior em vários comitês de mobilização em diversos estados.
Com isso o AIJ converteu-se no espaço de vivencia do FSM (2002). Foram feitas aqui as primeiras articulações para construir uma rede mundial de movimentos e organizações. (Calos Giuliane)
Em 2003 a organização do Fórum reconhece integralmente o Acampamento como espaço legitimo do FSM. O AIJ passa a nomear-se Cidade das Cidades. Experiências de organização horizontal baseiam a proposta de gestão. Como um laboratório de práticas que desafia permanentemente seus cidadãos a enfrentarem seus problemas cotidianos, compartilhando responsabilidades coletivas para a melhor organização.
O 4° AIJ em Munbay na índia, apontou uma das muitas diferenças entreo Ocidente e o Oriente. (2004)
O FSM sai do espaço privado e vai para o publico (2005)
Por fim, este louco me falou que o AIJ inaugurou uma perspectiva para a reinvenção das relações políticas e da vida da sociedade, tornando-se um laboratório de praticas socialmente transformadoras.

Um olhar Poeta sobre o AIJ
Seguindo o meu caminho de entrevistas, achei em ali no gasômetro um Poeta, com seu violão a cantalorar poesias e musicas de liberdade e esperança. Antes de eu chegar a ele me cantou:
Para a terra mais pobre e dura
leva-me vento, nas tuas asas,
assim como levas, às vezes,
sementes de ervas más e rasas
Elas precisam rincões úmidos,
Sulcos abertos, elas querem
Crescer como todas as ervas:
Eu só quero que tu me leves!
Neruda
Continuou dizendo: Me leves para um lugar onde eu possa sonhar coletivamente, onde eu possa me preocupar pelo outro que esta do meu lado. Que semente me faça, para a partir de mim semear ternura, liberdade e igualdade por onde eu passar.
Em um modo simples de dizer, falou-me que o AIJ tinha lhe feito ver outro lado da luta: A luta por um sonho em comum, o de Um outro mundo possível na prática coletiva e solidária.
Por fim disse que:
Somos cada vez maior o numero e mais organizados,
temos cada vez mais rostos, cores, línguas e idéias.
Não estamos mais buscando uma utopia:
Estamos construindo cidades,
Deixando pontes,
Criando laços,
Montando redes.
Só cabemos no mundo!
E no mundo para o mundo mudar!
(Manifesto do 3° AIJ)

Palavras de um Profeta
Já encantado com as palavras deste poeta se apresentou a mim um profeta e esbravejando começou a gritar:
“O valor de mercado é o que passa a mover a humanidade, numa lógica de exploração nunca vista em nossa história. Os povos são controlados pela fome ou por alguma guerra inconseqüente, e essas guerras são promovidas pelos países que regulam a ordem econômica.”
Subiu em uma pedra e em uma voz mansa, de ternura e coragem continuou:
“Chegou a hora de gritar basta! Não somos mercadoria, nossa dignidade não pode ser medida por um punhado de celulose e níquel! O que descobrimos em nossas praticas, e no AIJ, tem que nos levar a promover uma turbulência social, cortar as grades que nos aprisionam. Criar um curto-circuito nas velhas representações políticas. Ser mais uma vez um laboratório da nova militância política que quer fazer da resistência um ato de criação, promover uma forma de contra poder. Gritar em milhares de vozes: “não queremos seu modelo”. Soltar o que está preso na garganta após séculos de exploração. Nosso grito é nossa representação, sem instancias, sem organismos externos, vem da nossa resignação e da nossa esperança. Esperança de todos os movimentos e indivíduos que participam da suas construção e que acreditam que é possível um outro mundo, sem guerras e onde o valor humano não seja medido pelo mercado. Grite o quanto puder, não tenha vergonha de expressar sua indignação, quando gritamos juntos o mundo todo conseguirá ouvir.”

Então, junto com o Profeta, cantado pelo poeta e resignificado pelo Louco gritei: UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL, VAMOS FAZER!!!
Elisandro Rodrigues
Janeiro de 2007
(Texto produzido para uma fala na Semana Social Mundial da revista Dilúvio sobre “Olhares sobre o FSM”)

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento