27.11.07

Vai saber...
P.S: Sobre as coisas que não sabemos, uma música que não sai da cabeça, um pouco de viajem e também um texto confuso de se ler.
“O que quer que eu faça por você?” (Marcos Broc, OSFS)
Vocês sabem aquelas músicas que não saem da cabeça, você escuta uma vez e fica o resto do dia cantalorando aquele mesmo trecho. Muitas vezes são músicas muito ruins que ficam em nossa mente, ou por serem tocadas muitas, e muitas vezes. Horas nem é ruim a letra, mas pega de um jeito que é difícil esquecermos aquele refrão, aquela melodia, aquela estrofe. Estou com um trecho a dias em minha mente.
Este trecho acima, de uma música chamada “Pedagogia de Deus”, e também tema de ordenação Presbiterial do autor da música e amigo meu, Marcos Broc, me fez pensar nos ultimo dias sobre a doação, a oblação. Este reflãozinho está deste a ultima quinta feira indo e voltando. Para ver se ela saia de uma vez por toda tentei cantar, escutar a música toda, escutar outras músicas e nada, resolvi então escrever sobre este reflão, não sei se adiantará.
Esta frase “o que quer que eu faça por você?” é uma frase bíblica, quem vai nas celebrações, missas, quem já leu o novo testamento irá encontrar ela lá, em um dialogo do cego Bartimeu e Jesus (Não vou procurar a citação na integra pois não faço idéia aonde se encontra dentro da bíblia quem souber me diga). Este dialogo é um dialogo forte, onde a frase fica ainda mais marcante.
É difícil ouvirmos alguém perguntar: O que quer que eu faça por você? Quem sabe nos supermercados e nos bancos onde os atendentes usam algumas blusas escritas “posso ajudar?”, ou quando vêem que estamos com dificuldades para utilizar as ferramentas destes lugares. Além disso, onde ouvimos esta frase hoje em dia? Tento recordar, canso de pensar (e olha que estou pensando nisso a uns 5 dias), e não me lembro da ultima vez que alguém se reportou a mim dessa forma. Acho que nos últimos anos também não me recordo de nada nesta linha. Acredito que nem mesmo eu tenha feito está pergunta.
A ultima semana foi corrida, apresentação terça e quarta na escola Auxiliadora em Rio Pardo, onde foi muito legal trabalhar com as crianças, quinta a domingo em Frederico na ordenação e primeira missa do (Padre) Marcos Broc e visitar a minha família, coisa boa isso também, sentir-se em casa, tomar banho de sanga, de cachoeira, carnear porco, tratar dos animais. Mas todas estas atividades serviram para refletir sobre por que não nos doamos mais? O Padre Marcos é de uma congregação chamada Oblatos de São Francisco de Sales (OSFS), e oblato é quem se doa, a hóstia, eucaristia, que se coloca no altar para a doação.
Fazer um processo de despojamento, de doação nos dias que correm não é possível, as pessoas não se entendem, e não entendem mais umas as outras, não convivem como se fossem amigas, não existe relação. Os grupos de amigos são poucos, as relações verdadeiras menores ainda. O que acontece com o mundo. Em um trabalho da faculdade escrevíamos que o mundo está doente. Só pode estar mesmo. Doente de doação. Falta solidariedade e compaixão. Falta relacionamentos.
Acredito que estás coisas sejam obvias, que todos e todas já sabem disso. Mas se sabemos disso por que não mudar. Continuo não entendendo, e como diz um escritor de quadrinhos, Warren Ellis, em uma de suas hq´s chamada “Planetary”: Mundo estranho este.
E vai continuar estranho. Vai continuar as pessoas não se doando, não fazendo uma simples pergunta “O que quer que eu faça por você?”, você precisa de ajuda, de uma mãozinha, de uma força, de um “help”. Continuarei por ai, tentando achar pessoas que façam estas perguntas, e também tentando faze-las. A exemplo do Marcos, que se dou, e se doa, por uma causa que acredita.
Elisandro Rodrigues
Novembro de 2007Sobrando tantas perguntas.....

Sobra Tanta Falta
O Teatro Mágico
Falta tanta coisa na minha janela
Como uma praia
Falta tanta coisa na memória
Como o rosto dela
Falta tanto tempo no relógio
Quanto uma semana
Sobra tanta falta de paciência
Que me desespero
Sobram tantas meias-verdades
Que guardo pra mim mesmo
Sobram tantos medos
Que nem me protejo mais
Sobra tanto espaço
Dentro do abraço
Falta tanta coisa pra dizer
Que nunca consigo
Sei lá,
Se o que me deu foi dado
Sei lá,
Se o que me deu já é meu
Sei lá,
Se o que me deu foi dado ou se é seu
Sei lá... sei lá... sei lá....
Vai saber,
Se o que me deu , quem sabe?
Vai saber,
Quem souber me salve
Vai saber,
O que me deu, quem sabe?
Vai saber,
Quem souber me salve...

11.11.07


Parando para parar


"Nasci no meio de milhares de pinheiros, mas eu saquei que sou uma goiabeira..." (Tijuqueira)



Cada vez que eu vou escrever um texto sempre digo a mim mesmo, e as vezes escrevo, “faz tempo que eu não escrevo”. Na verdade ando escrevendo bastante. Trabalhos para a faculdade. Artigos para a pesquisa. Artigos para as cadeiras da faculdade. Textos de teatro. Na verdade ando escrevendo bastante. O que não ando escrevendo é coisas que as vezes queremos mesmo escrever.
Gosto de ficar as vezes no final de semana em casa sem fazer nada, jogado no tapete da sala, assistindo televisão, ou lendo algum livro a esmo. Gosto de fazer coisas que as vezes “são nada a ver”. E também gosto de escrever coisas que penso, que para alguns, é nada a ver. Estava pensando estas coisas hoje, e pensando em quanto tempo que eu não escrevo. Fiquei pensando em quanto tempo não fazemos uma porção de coisas que gostamos. Ir tomar um chimarrão em uma praça qualquer num dia de semana. Matar uma aula para ir no cinema. Ir em um teatro no final de semana. Sair para uma festa só para se divertir e curtir com os amigos.
Existe uma porção de coisas que não fazemos por estarmos muito ocupados ou não termos tempo. Na verdade não tirarmos tempo para estas coisas. Está certo que na maioria das vezes nossa vida é uma corrida. Corremos de casa para o trabalho, do trabalho para comer alguma algo correndo, do comer algo correndo para o trabalho, do trabalho para a faculdade ou escola. Estamos sempre correndo.
Não curtimos mais o ócio. O tempo livre. Não nos curtimos mais. Não paramos por parar. Não paramos para contemplar um pôr-do-sol, ou uma lua cheia. Não temos tempo para parar. Sem termos tempo para estas coisas nos mecanizamos, viramos uma máquina de produzir. Uma maquina de competição, onde se não chegar primeiro, ou fazer no melhor tempo não serve. Viramos frutos da sociedade moderna, neoliberal e capitalista.
Por isso hoje resolvi parar. Resolvi escrever o que estou escrevendo para ir contra está maré. Por que? Sei lá! Para ir contra. Para não me acomodar. Resolvi escrever o que gosto de escrever. Gosto de escrever sobre educação. Gosto de colocar minhas idéias no papel tentando refletir sobre um tema dos estudos da faculdade. Mas gosto principalmente de sentar e jogar as palavras na folha branca sem se preocupar em ganhar nota, em ser avaliado, em ser criticado, nas pessoas gostarem ou não do que escrevo. Escrevo por prazer de escrever. Por prazer de poetizar do meu jeito. De falar coisas que penso. Se fizéssemos isso mais seguido, se parássemos mais seguido, acredito que as coisas seriam um pouco diferente para todo mundo que vive nesta correria.
Paro por aqui, pois vou caminhar no sol, aquecendo o corpo e desenferrujando-o. Vou escutar uma boa música, ou ir em um teatro, ou simplesmente sentar numa mesa de bar sem ter pretensão de sair da companhia dos amigos e amigos. Vou parar um pouco para me sentir mais humano e fora desta realidade em que vivemos.

Elisandro Rodrigues
Novembro de 2007.
(Desenho de Picasso - old man)

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento