11.11.07


Parando para parar


"Nasci no meio de milhares de pinheiros, mas eu saquei que sou uma goiabeira..." (Tijuqueira)



Cada vez que eu vou escrever um texto sempre digo a mim mesmo, e as vezes escrevo, “faz tempo que eu não escrevo”. Na verdade ando escrevendo bastante. Trabalhos para a faculdade. Artigos para a pesquisa. Artigos para as cadeiras da faculdade. Textos de teatro. Na verdade ando escrevendo bastante. O que não ando escrevendo é coisas que as vezes queremos mesmo escrever.
Gosto de ficar as vezes no final de semana em casa sem fazer nada, jogado no tapete da sala, assistindo televisão, ou lendo algum livro a esmo. Gosto de fazer coisas que as vezes “são nada a ver”. E também gosto de escrever coisas que penso, que para alguns, é nada a ver. Estava pensando estas coisas hoje, e pensando em quanto tempo que eu não escrevo. Fiquei pensando em quanto tempo não fazemos uma porção de coisas que gostamos. Ir tomar um chimarrão em uma praça qualquer num dia de semana. Matar uma aula para ir no cinema. Ir em um teatro no final de semana. Sair para uma festa só para se divertir e curtir com os amigos.
Existe uma porção de coisas que não fazemos por estarmos muito ocupados ou não termos tempo. Na verdade não tirarmos tempo para estas coisas. Está certo que na maioria das vezes nossa vida é uma corrida. Corremos de casa para o trabalho, do trabalho para comer alguma algo correndo, do comer algo correndo para o trabalho, do trabalho para a faculdade ou escola. Estamos sempre correndo.
Não curtimos mais o ócio. O tempo livre. Não nos curtimos mais. Não paramos por parar. Não paramos para contemplar um pôr-do-sol, ou uma lua cheia. Não temos tempo para parar. Sem termos tempo para estas coisas nos mecanizamos, viramos uma máquina de produzir. Uma maquina de competição, onde se não chegar primeiro, ou fazer no melhor tempo não serve. Viramos frutos da sociedade moderna, neoliberal e capitalista.
Por isso hoje resolvi parar. Resolvi escrever o que estou escrevendo para ir contra está maré. Por que? Sei lá! Para ir contra. Para não me acomodar. Resolvi escrever o que gosto de escrever. Gosto de escrever sobre educação. Gosto de colocar minhas idéias no papel tentando refletir sobre um tema dos estudos da faculdade. Mas gosto principalmente de sentar e jogar as palavras na folha branca sem se preocupar em ganhar nota, em ser avaliado, em ser criticado, nas pessoas gostarem ou não do que escrevo. Escrevo por prazer de escrever. Por prazer de poetizar do meu jeito. De falar coisas que penso. Se fizéssemos isso mais seguido, se parássemos mais seguido, acredito que as coisas seriam um pouco diferente para todo mundo que vive nesta correria.
Paro por aqui, pois vou caminhar no sol, aquecendo o corpo e desenferrujando-o. Vou escutar uma boa música, ou ir em um teatro, ou simplesmente sentar numa mesa de bar sem ter pretensão de sair da companhia dos amigos e amigos. Vou parar um pouco para me sentir mais humano e fora desta realidade em que vivemos.

Elisandro Rodrigues
Novembro de 2007.
(Desenho de Picasso - old man)

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento