7.8.06

Deixem-me olhar

“Deixem-me viver
Deixem-me falar
Deixem-me crescer
Deixem-me organizar...
Amores vão de novo florescer...
O povo organizado vai vencer.”
(Letra e música de Pe. Enoque Oliveira)

Deixem-me viver...
Na agitação e correria da vida não damos atenção ao que nos cerca. Não damos atenção a arte e a cultura, cultura que é a nossa vida e a transforma. Não percebemos a simplicidade dos fatos, dos encontros e dos desencontros. Da cultura que é intrínseca a nossa alma, pois somos seres sempre em construção, e o que construímos é cultura.
Quando vivemos nossa vida com cultura, com arte ela se transforma, se mostra diferente, percebemos o mundo com outros olhos. Muitas vezes estes olhos encontros outros. Os encontros de olhos no meio da multidão levam nos a pensar muitas coisas, imaginar muitas coisas. A pensar na dinâmica da vida e das relações, em como seria ou não seria estar com aqueles outros olhos.
Deixem-me falar...
Muitas relações se dão por meios virtuais, outras tantas se dão simplesmente no estar junto com as pessoas, existem diferentes formas de se relacionar com alguém, tanto mais afetivamente chegando a gerar um amor, ou uma afetividade que cria uma amizade muito grande. O grande relacionamento, esta neste pequeno, que muitas vezes não se nota, esta nos olhos.
Olhos que quando se encontram brilham e contam histórias. Ao se encontrar os olhos olham dentro do olho dentro e ficam se enamorando, muitas vezes os donos e donas desses olhos não percebem este momento, mas ele existe. Nós não deixamos que os momentos aconteçam, que surjam, que cresçam. O medo, a preocupação, ou sei lá o que faz com que estes momentos fiquem só nos “pensamentos’ dos nossos olhos.
Por que não deixar que os olhos falem e que a boca se cale. A comunhão perfeita se dá no silêncio dos olhares, na fala que se estabelece, no grito, no beijo que os olhos dão.
Deixem-me crescer...deixem-me organizar...
Se não regamos uma flor, uma arvore, uma planta, ela não cresce. Se não regamos a cultura com cultura, a vida com vida, o amor com amor, o olhar com outros olhares nada cresce. Nada de organiza. Como somos seres de cultura somos seres que criam e recriam toda a hora, perceber estes momentos, e criar com eles é o que nos faz crescer. Quando um olho olha o outro temos que regar este olhar com ternura, para que os olhos permaneçam um pouco mais a se mirar.
Amores vão de novo florescer...
Com tudo isso que sabe se os amores não vão de novo florescer, e nossa vida se alegrar...

Elisandro Rodrigues
Agosto de 2006
“É muito gostoso esse nosso aconchego este nosso chamego, essa nossa alegria de ser feliz.”

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento