18.8.06


Irá Chegar o dia

“Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido

Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta”
(O Teatro Mágico – A Pedra mais alta)

Irá chegar um dia, em que você vai chegar, radiante, exuberante espalhando ternura e amor por todos os lados.
Irá chegar um dia que olharás em meus olhos com seus olhos cor de mel e dentro do seu olho dentro irei me ver e te ver juntos, abraçados e caminhando na mesma direção.
Irá chegar o dia em que te vendo me quebrarei em mil pedaços, mas você com sua calma irá me juntar e me colar cuidando de mim.
Neste dia, me sentirei o Ser-Humano mais Feliz do mundo, mas me pergunto quando este dia vai chegar?
Quando poderei olhar em seus olhos e beijar sua boca? Quando poderei sentir sua pele tocando a minha?
Quero este sonho visível, quero esta realidade acontecendo, mas por onde seguir, que trilhas andar para realizar isso?
Vou virar borboleta para ir até você. E brincar com seus cabelos.
Vou virar vento para arrepiar e tocar sua pele.
Vou virar flor para perfumar seus caminhos.
Vou ser anjo para lhe acompanhar lado a lado e não deixa-la se machucar ou se precipitar para o perigo.
Irá chegar o dia em que serei tudo isso e muito mais.
Irá chegar o dia em que serás para mim água para refrescar, aconchego para descansar, chamego para acalmar...
Mas, até este dia chegar e até eu virar e ser tudo isso para você,
Serei eu e você será você
Serei eu aqui longe de você, e você será assim exatamente como és longe de mim.
E com certeza e convicção diremos em nossos lugares: Chegará mais cedo ou mais tarde o dia em que descansaremos nossos olhos um no ombro do outro e sossegaremos nossas bocas com o gosto do mel de nossas bocas....


Elisandro Rodrigues
Agosto de 2006
Tentando fazer poesia, e apaixonado pela maresia e brisa...

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento