21.8.07


Escutando histórias....


Esta estória que lhes conto agora, foi me contado em uma roda de conversas, a muito tempo atrás, na época em que existiam pessoas que sentavam em roda e contavam histórias na beira das fogueiras a luz do luar.
Foi um senhor de idade, um velho, que me contou. Não faço idéia da idade dele, mas pelo jeito passara dos cem anos. Eu estava em um momento muito reflexivo de minha vida e encontrei por acaso aquele grupo, pois estava perdido na noite e resolverá acampar em um local seguro para continuar minha peregrinação, no grupo ao redor da fogueira tinha umas seis pessoas, dentre elas este velho. Fiquei sabendo depois que este velho sempre ficava neste mesmo lugar, e noite após noite contava histórias aos viajantes.
Mas a história que ele me contou era assim: dizia ele que existiu um reino distante chamado Solidão. Disse também que neste reino se encontravam muitas pessoas que viviam sozinhas nesta cidade chamada Solidão. Esses habitantes eram sós. Nunca conversavam com ninguém, nunca se tocavam, nem um olhar nos olhos eles davam. Até mesmo os viajantes quando chegavam nesta cidade eram como que enfeitiçados, ou entendiam bem, e não falavam nada, compravam gesticulando, nunca olhando nos olhos, nunca falando, nunca dando atenção.
Mas eis que um fato neste lugar aconteceu, uma jovem, de olhos encantadores, despertou em um viajante o fogo da paixão. Este andarilho fez de tudo para e aproximar desta moça. Mas como neste lugar o chegar perto mais de uma vez sem um motivo claro, era uma ofensa grave aos costumes, e este andarilho apaixonado foi exilado no lugar mais distante deste reino. Muito tempo ficou lá. Tempo que nem mesmo os calendários suportaram contar.
Quando este jovem foi solto de sua prisão, sai logo a procura da moça que o encantara. Mas não achou ela na cidade. Decidiu sair a procura dela por todos os reinos que conhecia e desconhecia. Ele escutou, que as autoridades haviam matado ela por desobedecer às regras estabelecidas pelos sábios da solidão, foi acusada de olhar nos olhos do viajante e lançar-lhe sorrisos. Por isso teria sido morta. Mas o jovem, de coração apaixonado não acreditou e lançou-se em sua jornada. Não sabia ele, e o velho disse que ele ainda não sabe, que ela fora exilada em reinos muito distantes, mas que havia escapado e estava também a procura dele, mas como nenhum dos dois soube informação do outro, ainda estão um a procura do outro.
Depois que o velho contou isso, fiquei um pouco a me esquentar na fogueira pensando na história e logo adormeci. Na manhã seguinte quando fui procura-lo para saber mais detalhes deste reino e destes jovens apaixonados, não o encontrei. Continuei meu caminho...a procura de um olhar e de um sorriso.


"A solidão é fera, a solidão devora, é amiga das horas, prima irmã do tempo e faz nossos relógios caminharem lentos causando um descompasso no meu coração...”(Ana Marques)


Elisandro Rodrigues
Agosto de 2007.Caminhando por reinos a procura de um olhar, de um sorriso e de um abraço...

(Foto de Ana Marques)

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento