11.8.07

Noite dos Mascarados
Chico Buarque/1966

Ele: Quem é você?
Ela:Adivinha se gosta de mim
Os Dois: Hoje os dois mascarados
procuram os seus namorados
perguntando assim:
Ele: Quem é você,
Ela: Diga logo que eu quero saber o seu jogo
Ele: Que eu quero morrer no seu bloco
Ela: que eu quero me arder no seu fogo
Ele: Eu sou seresteiro,
poeta e cantor
Ela: O meu tempo inteiro só zombo do amor
Ele: Eu tenho um pandeiro,
Ela: Só quero um violão
Ele: Eu nado em dinheiro,
Ela: Não tenho um tostão
Fui porta-estandarte,
não sei mais dançar
Ele: Eu, modéstia à parte,
nasci prá sambar
Ela: Eu sou tão menina,
Ele: Meu tempo passou
Ela: Eu sou colombina,
Ele: Eu sou pierrô
Os Dois: Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal,
deixa a festa acabar,deixa o barco correr
Deixa o dia raiar que hoje eu sou da maneira que
você me quer
O que você pedir eu lhe dou,
seja você quem for
Seja o Deus quiser

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento