22.7.07

Tudo é outro(a)
(ou do aprender com o outro(a))


“Tudo é outro, o outro, que vem romper o sonho sem dar verdadeira companhia, ou, dando-a pela metade; ama, guardiã, vigia, imposição do estar desperto, quando se estava dormindo tão bem. É o sobressalto que todas as manhãs experimenta aquele que tem que despertar e sair, mesmo que saiba para onde. Sempre há que sair em busca do outro. A maravilha é sair com o outro. Então, não há alteridade, mas conjunção, síntese, o êxtase necessário que a liberta da ausência e da presença do outro”. Maria Zanbrano


Que maravilha é acordarmos e sentirmos a presença de nossa companheira (o) ao nosso lado, no sono das Deusas (es), mas, que tristeza é quando acostumamos com esta presença ao nosso lado e em uma manhã qualquer acordamos sem sentir esta presença. O vazio habita nosso ser, a solidão se começa a fixar residência, a saudade começa a aparecer, e o coração bate forte por uma paixão perdida.
Existe uma grande necessidade do outro (a), de buscar este outro se instala em nosso corpo. Falta. Sentimos tanta falta deste outro (a). Sabemos que não podemos viver sem estar acompanhado, que sem alguém estamos sozinhos, queremos a conjunção, a síntese, o estar junto. O abraço e o aconchego do colo.
Por mais que exista esta necessidade, muitas vezes nos tornamos sós, por quê? Medo? Desistimos dos outros(as), perdemos a esperança na alteridade. Zanbrano diz que “Se continuarmos assim, substituindo realidades por conceitos, podemos assenhorear-nos de tudo, mas esse tudo carecerá de...realidade”, queria ou não precisamos do contato com o outro (a), do dialogo, do carinho, do afago, do abraço, da briga. Não podemos ser, sem o outro (a).
Fico pensando as vezes, em como nos afastamos das pessoas, como perdemos o contato com os amigos e amigas. Como deixamos o outro(a) perder sentido em nossa vida. Está certo que algumas pessoas passam, que são pontes de relação para outras que ficam. Todo mundo já deve ter passado por um momento destes: Quando encontramos uma pessoa que gostamos, que está em nosso coração, mas que por algum motivo; preguiça, acomodação, não mantemos contato, o êxtase do encontro, do abraço, do ver o outro(a). Sentimos uma euforia sem descrição.
Ficaríamos felizes se pudéssemos ter todas as pessoas que gostamos perto de nós. Mas a realidade precede de algumas ausências. Tudo em nossa vida depende do outro(a). Para nascermos precisamos de duas pessoas. Para aprendermos precisamos de outra(o) pessoa. Para sobreviver precisamos do outro (a), mesmo que neguemos isso, precisamos de companhia, de afago, de construir relações.
Deleuze, filósofo francês diz que “...nunca se sabe de antemão como alguém chegará a aprender – através de que amores se chega a ser bom em latim, por intermédio de que encontros se chega a ser filósofo, em que dicionários aprende a pensar (...) Não há um método para encontrar tesouros e tampouco há um método de aprender, a não ser um traçado violento, um cultivo da Paidéia que percorre o individuo em sua totalidade. (...) A cultura é o movimento do aprender, a aventura do involuntário que encadeia uma sensibilidade, uma memória e logo pensamento”.
Tudo é outro(a). Tudo é aprender com o outro(a). Nos fazemos no movimento de relação, movimento de fazer cultura, no movimento de Ser....

Elisandro Rodrigues
Aprendendo a ter o outro(a) por perto.
22 de Julho de 2007

Um comentário:

Luisa, disse...

Discordo que precisamos dos outros pra tudo, pra aprender, por exemplo, não precisamos. Pra chorar eu não preciso(e não falo de pessoas que me fazem chorar, e sim de outras coisas) e nem pra sorrir.

Claro que somos dependentes, mas não total, não assim. Tudo é o outro? Não sei, tenho minhas dúvidas.

Mas gostei do texto, faz pensar.
:]

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento