26.10.08

Na saudade.


‘É na saudade que o amor cresce’, ele pensou. Havia lido aquilo há alguns anos atrás em um livro chamado Cantos do Pássaro Encantado, de Rubem Alves. Lembrava de outra passagem que havia chamado a atenção por falar da saudade: A saudade é o sentimento que mais se aproxima da paixão. Por que a paixão é o amor quando tocado pela morte. O amor tocado pela morte se inflama pelo medo da perda. Ela havia dito adeus e espera pela resposta dele.
“Eu fico aqui” disse olhando para seus pés, “Você sabe onde me encontrar”. Foi tudo o que ele disse. Levantou-se e começou a caminhar, olhando para as pedras, caminhando devagar. Sem olhar o horizonte ele ia andado. Assim que andarei de hoje em diante, olhando para o chão cuidando para não tropeçar. Acendeu um cigarro e continuou a caminhar, na mente uma música tocava “To fumando o cigarro da saudade e a fumaça escrevendo o nome dela.”

Ela o olhou afastar aos poucos. Acendeu um cigarro e caminhou na direção oposta.


Elisandro Rodrigues
Final de outubro.

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento