13.10.08

Deixa...



‘Deixa eu brincar de ser feliz. Deixa eu pintar o meu nariz...’. Me deixa aqui quieto. Me deixa aqui com meu eu. Com minha infelicidade. Me deixa aqui jogado neste canto. Me deixa remoendo meus próprios sentimentos e sentidos. Me deixa aqui quieto sentindo o vento bater na janela. Me deixa aqui sentindo o vento frio que entra pela janela entre aberta. Simplesmente me deixa.

*******************************************************************************************************************

"Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis."
(Caio F. Abreu)

Ia te deixar um recado. Recado romântico, recado poético. Até quem sabe um recado musicado. Mas não estou afim. Deixo apenas um recado para dizer que deixei um recado não estando a fim de deixar.


Elisandro Rodrigues
Céu cinzento de Porto Alegre em um dia de outubro
Fotos de Beatriz Ferreira - Bigatrice - http://www.flickr.com/photos/bigatrice

Nenhum comentário:

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento