12.6.06

CARTA AO NOVO AMOR-AMIGO - parte II

Deves estar se perguntando: 'por que carta a um novo amor-amigo'. Bom, és um amor novo em meu coração, e também uma amiga nova. Se o amor passar, tanto para mim quanto para ti, ainda, acredito eu, que a amizade construída permanecerá, pois quando se constrói um amor, esta se construindo uma amizade também. Sabes, percebi hoje ao te ver novamente, que ainda não estas segura co minha presença. Fiquei pensativo em como desconstruir isso, não achei muitas respostas. Apenas um pensamento: 'deixar-me estar ao seu lado e ouvir'. Rubem Alves diz que " não amamos uma pessoa que fala bonito. Amamos uma pessoa que escuta bonito." Hoje deixei-me te escutar. Deixei-me te observar. Não quis lhe perturbar. Só fiquei. Havia dito na primeira carta que iria fazer isto. Estou a tentar. Descobri outra coisa hoje, que me deixou um pouco inseguro. Descobri que amar é ter um pássaro pousado no dedo. E quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que a qualquer momento ele pode voar. Tive medo que você voasse sem mim. Sei que fui egoísta neste pensamento, mas foi o que se passou quando tive razão do que é o amor, e do que pode acontecer. O amor não é passageiro, mas um dia ele pode voar. Mas o pássaro-amor pode voltar, esta é a liberdade que temos que ter. deixar o amor livre. Não podemos prender o pássaro. Isso me deixou com muito medo. Vai que o pássaro não volte. Seja capturado. Deixar se ficar ou voar para outros continentes e lugares mais bonitos. Sei que o amor é algo que não se tem nunca. Que é evento de graça. Pois ele aparece quando quer. Mas fico a esperar, fico a escutar o canto do pássaro. E a esperar que aos poucos ele se acostume comigo, como eu estou me acostumar com seu canto. E espero que ele pouse em meu dedo. Não quero ser egoísta. Te lembras: 'se é preciso ir vá. Mas saibas que estarei sempre aqui te esperando'. Descobri com este medo de lhe perder, que o amor é espera, é escuta, é sentir. Viu menina, tu me fazes pensar quase como um poeta. Também percebi hoje mais duas coisas. A primeira que amar é descobrir coisas novas, mundos novos,pensamentos novos. E, como diz Rubem Alves, "amar é brinacr. Não leva a nada. Não é para levar a nada. Quem brinca já chegou". Estou vivendo como um menino, descobrindo o amor e a magia brincando. Era isso, a pouco você me ligou, fiquei muito feliz. Contente que o meu amor-amigo esta aberto a brincar, a sonhar e a dançar nas noites de lua cheia e nos dias de sol com chuva.
Te Adoro.
Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento