25.6.06

Sobre a vida e outras loucuras...

P.S: Sobre a fácil arte de se acomodar, a difícil luta pela descoberta da raiz dos problemas e as
perguntas que não tem resposta, e como a máquina funciona bem.
P.S: Há! de como apareceu Ruah!


Diante da dura realidade em que vivemos nos últimos tempos, vivo me castigando mentalmente tentando solucionar o grande quebra-cabeça da existência humana e o grande buraco branco-negro em que a sociedade está se consumindo. Só me castigando mesmo, pois nada de respostas ou soluções aparecem.
Estava caminhando noite adentro contemplando a lua cheia do mês de julho perdido entre devaneios e pensamentos lúcidos quando ouço uma voz:
- Ei meu!!? Olha por onde anda! Por pouco não me esmaga com este pé de mostro.
Perdido entre a realidade e a obscuridão não achei de onde vinha tal questionamento. Quando ouço novamente.
- Oh seu Ser-Humano-Racional-Mamífero-Ignorante! To aqui em baixo.
Para minha surpresa me deparo com uma ratazana, mas bem menor do que todas as ratazanas que já vi. Olhando percebi que cabe na ponta do meu menor dedo.
Pelo que percebi o animal leu os meus pensamentos e me atacou vociferando:
- Pra começo de conversa não sou um rato, sou muito mais que um rato. Sou um Musaranho.
Perguntei a ele:
- O que é isso, para mim você é um rato em miniminiatura.
E por mais que olhasse e tentasse identificar parecia um rato, era peludo, orelhudo, tinha rabo, e um narigão.
O Musaranho me respondeu:
- Sou o menor de todos os mamíferos, sou muito valente e se me incomodam muito fico agressivo demais. Mas meu nome mesmo é Ruah, e o seu?
- Muito prazer! – respondi e completei – meu nome é Leon Eno, mas pode me chama...
- Tá deixamos as formalidades para lá e me ergue que quero ficar mais perto da lua.
Fiz o que ele pediu e assim ficamos calados contemplando a lua cheia. Ela estava redonda como uma bola e estava meio laranjada-envermelhada, coisa de fascinar.
Mas logo voltei as minhas divagações, nem percebi que a ratazana, opa Musaranho, estava no meu ombro. Quando comecei a caminhar ele gritou no meu ouvido:
- Pára de se sacolejar tanto quando anda. Assim você vai me derrubar.- Percebi que ele ainda estava em meu ombro.
Não me incomodei e continuei a caminhar, pensando que logo-logo ele iria se cansar e me deixar em paz, mas pelo contrário.
-E aí – Ruah falou – para onde vamos?
- Como assim? Para onde vamos? Eu vou para minha casa. Você não sei!
- Bom, já que não quer que eu ajude com suas indagações tudo bem! Posso ajudar outros por aí...
Disse isso e começou a descer por meu ombro, braços até a minha mão. Fiquei pensando no que ele disse. "Como ele sabe com que eu estou preocupado". Perguntei a ele então:
- O que você sabe sobre minhas indagações?
- Ixi! Sei muito!
- O que significa muito para você que é tão pequeno?
- Não vem criar complexo de inferioridade em mim não! Senta ai que eu lhe direi algumas coisas sobre como é fácil nos acomodar e como é difícil a gente organizar o povo...
Sentei. Ele começou então com a sua oratória que durou um bom tempo...
-Sabe, já passei e morei em vários países e cidades. Vivi muito. Os caminhos da história são tão grandes, mas as portas dela são muito pequenas e que para a gente passar precisa ser menor que elas. Sei muita coisa por passar por estas portas.
Na história de nosso povo, se formos analisar bem, encontramos diversas razões para se criar uma sociedade acomodada. Entre alguns fatores está a miséria que leva milhões a pedir, catar, roubar ..., há muitos que vendo a necessidade destes primeiros começam a dar,"doar", assim as primeiras se acostumam em só receber. Outro fator que traz o comodismo é um caixinha preta que sai imagens de dentro, dizem que até é enfeitiçada. Quem senta na frente começa a perder a sua inteligência. E se fica muito tempo diante desta tela a sua mente se atrofia, daí não tem mais saída.
E na história devemos perceber os fatos que levaram ao comodismo. E isto é longo. È longo, pois não é de agora. O fato da juventude, por exemplo, ou do povo em geral estar acomodado vem desde que o homem começou a pensar, criar consciência, quando vocês descobriram que poderiam fabricar instrumentos para reduzir o trabalho, começou o comodismo. Pode contestar a minha teoria se quiser, mas é a verdade da acomodação.
Fiquei pensando um instante enquanto Ruah se preparava para prosseguir com suas teorias. Pó tem um "q" de verdade nisso tudo. Ruah continuo:
- Depois tivemos a dita "evolução do homem" até chegar ao que vocês são hoje: seres acomodados-ignorantes- velados. Esse ser velado que vocês são leva-os a não ver onde está o verdadeiro problema, onde está a raiz. Isso não incomoda os acomodados, mas os que já despertaram para a realidade sentem-se muito impotentes por não achar onde a problemática está.
Mas é difícil achar as raízes do problema, do neoliberalismo do capitalismo...
Pode ser difícil, eu sei, achar a raiz do que nós faz sofrer, mas é preciso que mais pessoas se desvelem. São poucas ainda as pessoas que se despertaram. Precisamos de mais Seres pensantes.
Precisamos que olhem e vejam a realidade e comecem a se mexer. Mas para isso é necessário jogar alguns baldes de água fria, e dar alguns chaqualhões.
É a acomodação se resolve na desacomodação – Falei. Ruah completou:
Precisamos desensinar o povo a só ficar esperando e receber as coisas de mão beijada. Este é um processo que leva tempo, mas temos que continuar o que já está começado. Pois já começou com alguns que pensam e tentam organizar o povo.
Pensei um pouco. Estabelece-se um silencio entre nós. Então perguntei:
- Mas quais são as ferramentas que desacomodarão o povo?
- Seu acomodado, vá procurar a resposta! Agora me leve para casa, pois estou cansado e aqui na rua está muito frio.
Levei-o para casa. Fomos em silêncio. Eu pensando o que ele me falou e o Ruah pelo que percebi dormindo.
Cheguei em casa. Coloquei Ruah em um canto do quarto, em cima de umas almofadas e fui dormir. Sonhei.
Sonhei que estava construindo uma maquina de destruir corruptos e gente que atrapalha o processo de desacomodação, ela foi construída com ética, com responsabilidade, luta, compromisso e outros valores. Uma máquina simples de ser construída. Pegaria esses valores, juntaria a uma espécie de aspirador de pó gigante. A parte mais difícil seria a programação, para isso tive que achar pessoas competentes na área, pois qualquer erro na programação nem imagino o que poderia resultar.
Bom, construída a máquina colocamo-la em funcionamento: A máquina deixou vivas as pessoas mais amáveis e boas de todo o tempo, pessoas que ajudam ou ajudaram no processo de conscientização e desacomodação. Sobraram as seguintes pessoas vivas logo após o termino da operação: Bush, ACM, Collor, PC, Severino, Delubio, Silvio, dirigentes do PFL, PP, PTB ....e toda a elite mundial que controla a mídia e a vida de bilhões de seres humanos.

Uma nota perdida:
Muitas coisas dão prazer, alegria e gosto de viver. Algumas dessas coisas são: você passar o dia na companhia da pessoa que você gosta, do seu amor, da sua companheira ou do seu companheiro; passar a manhã com sua família e a tarde com seus amigos – tomando um vinho e comendo um chocolate chileno, e um pisco (um tipo de cachaça chilena) – e por fim ir com seus amigos e seu amor a um espetáculo teatral, a arte e a cultura é algo que nos fascina os nossos olhos e nossos corações. Este foi um dos meus domingo. Pois é...viver é preciso!


...Do Louco e tudo um pouco Elisandro Rodrigues.
Julho/05 – muito frio...

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento