19.6.06

Coisas que não fazemos.


Meu Deus, o que será que tem nesses olhos teus. O que será que tem para me enfeitiçar? - eno
- Você não sabe? Meus olhos refletem os seus, buscam os seus, decifram os seus... – zete
- Então sejamos como o vento nas flores... - eno
- Sim, sejamos livres como o vento...- zete
- Então vem me beijar de uma vez, você pensa demais para decidir, vem e abre seu coração para o
meu, sua boca para a minha...- eno
- Não demoras tu a chegar, se não eu desisto...- zete
(dialogo de dois apaixonados)
.
Sabe de uma coisa pessoas, é difícil mesmo achar uma pessoa com quem podemos desfrutar totalmente do amor e da vida. E são vários os motivos que impedem um amor de encontrar o outro.
São empecilhos como a falta de tempo para sair caminhando sem rumo até nos batermos por acaso com o desconhecido; a cultura do prazer erotizado; a falta de dialogo entre as pessoas, de partilha, de procura. São muitos, infindáveis motivos para não se encontrar a pessoa certa para construir um relacionamento maduro , produtivo e prazeroso.
Mas quando pensamos que encontramos esta pessoa, não podemos largar logo na primeira dificuldade, persistência é a palavra chave do processo. E o processo não é fácil, é lento e doloroso, mas gostoso de trilhar com quem nos alegra e anima o passo.
Quando encontramos a pessoa que estávamos a procurar durante dias e anos, temos que ter bem claro que é preciso propiciar alguns procedimentos para o bom andamento deste relacionamento. O primeiro é o dialogo, sem ele nada anda, nada se constrói. A fonte do amor esta na conversa, seja ela produtiva ou não, mas tem que haver. O que adianta termos uma pessoa só para beijar se não podemos partilhar com ela nossas idéias, duvidas e loucuras? Dialogar é ser companheiro.
O segundo é a cumplicidade. É o dialogo que levará a isso, a ser cúmplice um do outro, a não esconder nada, falar o que se sente e o que se espera, o que se quer e o que não ser quer. Ser cúmplice é ser amigo.
A sinceridade é outro fator importante, que vem do processo do dialogo e da cumplicidade. Ser sincero é expressar a verdade dos pensamentos, é ser anjo para a outra pessoa. Anjos nos trazem o bem, amores também.
E por fim, o prazer. Mas não prazer ligado simplesmente à sexo, prazer de gostar, de amar, de gritar, de curtir, de beijar, de viver, de se doar, dedicar. Prazer de amante, de correr riscos pelo que se quer, pelo que sonhamos. Prazer de tesão pelo que fazemos.
São estas algumas das poucas que coisas que não fazemos e que devíamos fazer para nos dedicarmos de coração e mente a quem amamos. Simples pontos que não nos damos conta nesta agitada vida de consumo e individualismo. Por que não pararmos e pensarmos um pouco em como estamos caminhando com o nosso amor pelo outro, pela outra.
Sabem até o vento às vezes para, pensa, reflete e depois segue o seu caminho.
Por que não fazer isso também!
Meu olhar busca os sonhos, a poesia e o amor.
Busca isso nas terras e nas imagens mais distantes possíveis, aonde só o vento chega. Em um mundo onde só existe beleza e paixão. Onde só existe prazer. É um mundo distante para muitos, mas perto para outros, perto para os apaixonados e distante para os que não desfrutam da vida e do amor com total desprendimento.


Elisandro Rodrigues
Louco, poeta e profeta

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento