23.6.06

Mundo Estranho Este...

Claras palavras
Minha vontade de joga-las
Ditas, cantadas
Não há tempo nem passo
Que possam alcança-las
O ato escrito
Um livro vivo, forma de passado
Perpetua nosso riso e nossa cor
Mesmo o quase nada
Sem efeito ainda viaja
Desde a boca esfomeada do cantor
Claras palavras...
(Tijuqueira)


Fui pegar o ônibus. Parada vazia. “Também, quem é o louco de ficar caminhando a estas horas da noite, sozinho, em plena Osvaldo Aranha!”. Estava voltando para casa, feliz da vida, olhei o relógio, eram quase três da manhã. Meu aniversário já havia acabado, já era dia 23 de junho. Estava me lembrando de todo o meu dia que estava chegando ao final, “longo dia” pensei. Ele começou na noite do dia 21 e estava terminando na madrugada do dia 23. Fiquei ai parado, me esqueci o que estava pensando, comecei a cantalorar uma música, não me lembrava de quem era, “Ando por aí querendo te encontrar. Em cada esquina paro em cada olhar. Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar. Que o nosso amor pra sempre viva, Minha dádiva. Quero poder jurar que essa paixão jamais será, Palavras apenas, Palavras pequenas , Palavras, momentos , Palavras, palavras ...Palavras, palavras ...Palavras ao vento”.
Pois é será que aqueles dois dias tinham sido palavras ao vento, acredito que não. Sinto uma esperança no ar, um cheiro de coisa nova, de momentos novos. Que coisa, a gente sempre anda por ai querendo encontrar os olhos para olhar no olho dentro e dizer “era você que eu estava esperando”. Mas isso não é certo, não precisamos caminhar ao encontro, o encontro sempre vem a nós.
Tava ficando frio, peguei outra blusa de minha mochila. Pô “quem mundo estranho este!”. As vezes as coisas acontecem sem esperarmos. Mistério mesmo. E elas são tão gostosas de se vivenciar. “Anjo! Ela só poder ser isso mesmo, tão...tão...nobre e tenra, louca e poetiza, bela e carinhosa. Sinceramente, fascinante!”
Lembrei de uma passagem de um livro do Neil Gaiman, Filhos de Ananci, ele fala , “Que mundo estranho não é? Coisas impossíveis acontecem. Quando acontecem, a maioria das pessoas simplesmente dá um jeito de lidar com elas. Hoje, como em todos os outros dias, mais ou menos 5 mil pessoas sobre a face da terra experimentarão uma dessas coisas que tem uma chance em um milhão de acontecer.” As vezes não damos bola para as coisas quando elas surgem, ficamos nos perguntando, “da onde veio, e porquê veio?”, mas as coisas, elas surgem, e é o que elas fazem, elas surgem. Engraçado, mas é isso. Temos que dar mais atenção a este mundo estranho.
O ônibus estava vindo, “circular”, também, tinha que ter imaginado que àquela hora não tinha mais ônibus. Entrei nele, só tinha gente bêbada dentro, todos voltando das festas, em plena quarta, sentei no fundo e continuei meus pensamentos. As coisas estranhas, às vezes, são maravilhosas. Conhecer uma pessoa, sem conhece-la, e em dois dias ela te proporcionar os melhores dias da sua vida, lhe deixar nas nuvens. É só pode ter algo de errado nisso tudo, mas será que tem, duvido, mundo estranho mesmo!
Sem palavras para o que me aconteceu, sei que gostei, muito, quero continuar a vivenciar isso. Perguntei para ela por que ela havia demorado tanto para aparecer em minha vida, ela me disse com seu jeito doce “por que não era a hora certa de aparecer”. Simples. A vida é simples nós a complicamos.
O ônibus estava chegando perto da minha parada, me levantei e puxei a cordinha. O ônibus parou. Desci. Comecei a caminhar para casa. Cheguei em casa e fui direto dormir. Cansado, mas feliz. Com o coração desejando que este “longo dia” não acabasse. “O que será que vai acontecer amanhã?Será que não estou sonhando...”. Dormi. Sonhei com ela. Sonho de encantos e de cantos.
Acordei-me no outro dia de manhã, esperançoso, mas com medo, será que este mundo estranho quando nos proporciona uma coisa ele nós tira logo, ou deixa a gente ficar com ele por um tempo? Não estava certo disso. Levantei de minha cama, e a primeira coisa que vejo é um beija-flor entrando pela janela. Mundo estranho este!



Elisandro Rodrigues
Mas velho e mais feliz neste mundo estranho!
23 de junho de 2006 – do friozinho para teu abraço quente.

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento