Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:
O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.
Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.
[...]
1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.
Um comentário:
Quando a gente
junta e se junta
sente um coração
conversando com o outro.
Uma conversa quente
com confidências trocadas
em desenhos feitos com giz.
Um café.
Um segredo.
Uma moldura.
É tudo que a gente tem.
A gente inventa
um outro mundo de loucura
de ternura,de frescura
so pra fazer rir.
Mas no fim a gente sabe,
como ja dizia a música
"Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho"
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