10.9.08

Brincando de esperar


O dia começou bonito, céu azul e sol. Com o passar da manhã o céu azul se tornou cinza e o sol deu lugar a chuva, ao vento e ao frio. Final da tarde custando a chegar. Ele estava lá no seu lugar de sempre, olhando o relógio do computador de minuto em minuto. As horas demorando a passar. O trabalho rendendo pouco. O pensamento dele estava nela. Num dia assim pensou ele 'Cê me inspira pra eu te respirar'. O final da tarde custa a chegar. O beijo custa a chegar. O abraço demora para fechar. Se faz pressa, mas a pressa não se faz.

O que virá com o final da tarde pensa ele. Sim, ela virá! Não o final da tarde, mas a menina que sopra peixes dentro de bolas de sabão. Que come algodão. Que brinca de se esconder embaixo dos cobertores. É isso que virá, e a pressa não se demorá a chegar. Ele fica a brincar, esperando o fim da tarde chegar. Brinca de soprar vento com palavras. Brinca de escrever no céu e soprar as palavras. Inventa brincadeiras com os pés e com as mãos. Mas a tarde custa a terminar.

Brinca de recordar, e assim recorda os momentos de brincadeira com a menina. Os momentos de se tirar o ar da boca e colocar dentro do outro, partilhando o mesmo ar que se respira. Brinca de visualizar o futuro. Uma noite fazendo casinha de cobertores. Um dia voando juntos. Um outro dia pulando e dançando ao som de dós, fás e sóis. E assim a tarde vai passando aproximando a noite. Aproximando ele do abraço e do beijo. Quando o fim da tarde chega, chega também o gosto e o aroma dela. Ele pega carona no elefante voador e vai concretizar a brincadeira que brincou.

Elisandro Rodrigues

Setembro de 2008 - 09/09/08

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento