12.9.08

instruções...

Você pega o ônibus na parada. Procura um lugar para sentar, se estiver cheio fica de pé. Quando passar a rótula com mosaicos, se conta duas paradas. Puxa a cordinha, ou aperta o botão se preferir. Desce na terceira. Uma depois do mercado, na frente dos correios. Atravessa a rua. Desce a primeira a esquerda. Caminha duas quadras. Dobra a esquerda novamente. Estarei te acompanhando minuto a minuto, segundo a segundo. Abre os pulmões me dá um grito, e se prepara, pois descerei com muitos beijos e abraços para lhe dar. Com muito tato, muito cheiro estarei. Depois....é só seguir a grámatica e a geografia do meu corpo.

Um comentário:

Anônimo disse...

ihh amor
aprendi o caminho da roça
no fim do caminho tu me encontra
pra junto a gente se perder sem se dar conta
e no fim
se achar um no outro.

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento