26.9.08

Texto Inútil - imagens úteis






Dia inútil. Produção zero. Não conseguia compreender o por quê do mundo ser do jeito que é. Das pessoas terem que se matar trabalhando. De não Ter tempo para si mesmo. Tempo para o seu tempo. Pensava isso no final da tarde de Sexta. Em cima de sua mesa vários projetos e documentos a serem encaminhados. Não fizera nada ainda. E o dia estava terminando. Sua mente pairava em outros lugares, em outros mundos. Durante o dia leu diversos blogs, diversas hq´s, tirinhas. Navegava sem rumo na internet. Pulando de página em página. Lendo coisas inúteis e poucas úteis. Se bem que sua compreensão estava além de distinguir a utilidade da não utilidade. Largou o que estava fazendo e saio. Lá fora o sol estava forte, o vento de primavera levantava as folhas de árvores e os papéis do chão. Alguns passarinhos cantavam ali perto. Saio caminhando em direção ao pôr-do-sol. Sentou-se na grama de frente para o rio e ficou lá. Permaneceu lá até a noite chegar. Com a noite o frio aumentou. Mas permaneceu lá sentado. Ainda hoje ele está sentado lá. Não o vemos, mas ele ainda está lá.




Elisandro Rodrigues

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Imagem do Flick da Bigatrice http://www.flickr.com/photos/bigatrice/

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento