Era sempre assim. Nunca conseguia ir até o final. As loucuras que a acompanhavam logo se cansavam de esperar, acabavam desistindo dela. Como conviver com o desejo da loucura, da desacomodação. Suas asas estavam atrofiadas. Desaprenderá a voar e a caminhar nos céus. O cotidiano a domesticou. Lembrava de quando era criança, das brincadeiras, dos sonhos, das corridas e ds tombos, da liberdade de sentir-se voado. Sempre foi a mesma. Mas aquilo não era ela. Nos seus sonhos ela podia se ver como era de verdade. Tinha asas e voava por todos os lados espalhando perfumes, encantando, brincando com gatos e flores. Brincando com meninos e meninas.
Não se lembra do que aconteceu a seguir. Lembra apenas de acordar em outro lugar, num campo de flores. Estava na frente da porta novamente, quando ia abrir a campainha toca. Ela para, larga a mochila no chão. Olha para o trinco. Dá um passo em direção contrária e sai correndo. Pulou a primeira janela aberta. Metamorfoseou. Não sabia o que tinha acontecido. Percebe suas asas, percebe seu sorriso, percebe seu coração batendo mais forte. Percebe o horizonte a sua frente. Teve vontade de sair correndo ao seu encontro, ou voar devagarinho. Percebe um medo que não tem mais, os medos foram embora, bateram asas e voaram. Ela também bateu asas e foi voar para brincar com um menino que soprava bolinhas de sabão.
Quando ela dorme em minha casa
O mundo acorda cantando
Quando ela dorme em minha casa
O mundo acorda cantando
Sonhos de lata e de rosas
Gritam no silêncio branco do muro
Com o futuro em suas asas
Ela se vai
Ela se foi
E esses versos são lamentos
Que eu deixo nas calçadas
Canções que inventam pedras sobre a fome
Aí escreverei teu nome
No azul do firmamento
Onde a dalva apareceu
19 de Setembro de 2008
(imagem do CD Transfiguração do Cordel de Fogo Encantado)
Um comentário:
MEU DÉSPOTA
Ele é tão fraco quanto um fraco pode ser.
Ele me açoita por dentro, me fadiga.
Exige espaço, silêncio, comida, comforto.
Noites bem dormidas, lazer, cócegas, duchas, prazer.
Meu corpo é tão mimado quanto um corpo pode ser.
Nicole Louise
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