11.9.08

Outros mundos...

(Imagem de Michel Carlos do blog www.michelcarlos.blogspot.com)

Outros mundos

Coisas estranhas acontecem, já diria Neil Gaiman que vivemos em um mundo estranho. Ele descia com esta idéia na cabeça. A noite estava fria, havia chovido o dia todo, mas aquela hora da noite o céu estava limpo novamente. Ele podia ver algumas estrelas e a lua. A lua estava bonita, crescente – as coisas que começam na lua crescente tendem sempre a crescer até pular para fora dos corpos e do mundo, gritou o menino dentro dele. Menino que às vezes era mago entendedor das bonitezas da vida. Caminhou vagarosamente para casa. Em sua alma e coração a paz e algumas palavras dentro do silêncio – Agora somos um.

O menino gritou novamente dentro dele – olha para cima. Ele olhou e viu o mesmo céu de antes, deu de ombro como quem não entendesse. Guri idiota, besta, olha com o olho dentro do olho – ralhou o menino. Ele olhou abriu mais o olho, deixou o ar entrar dentro dele com mais leveza, fechou os olhos. Quando abriu novamente depois de alguns milissegundos estava em outro lugar, outro mundo. Um mundo com cores, flores por todos os cantos. Em cada parede havia um poema. Em cada passo se escutava uma nova música. O aroma o levava para outros cantos. Cada cheiro trazia uma recordação gostosa. Cada cheiro dela – esse é o nosso cheiro, disse alguém do seu lado. Ele a olhou e viu um gato brincando com borboletas e flores, correndo de um lado para o outro, junto com o gato estava um menino e uma menina. Fora a menina que lhe falava a pouco. O menino parecia ser ele. Sim era ele. Ficou ali olhando aquelas crianças, aquele gato, as borboletas e as flores como se fosse um quadro pintado em movimentos. Fechou os olhos novamente.

Quando os abriu estava na porta de sua casa. Olhou mais uma vez para o céu e percebeu algo voando para longe. Ajeitou a gola da camisa o frio estava aumentando. Sentiu no ar um cheiro diferente. No seu corpo um gosto diferente. Era o gosto deles pensou. Fechou a porta e foi para debaixo das cobertas.


Elisandro Rodrigues

Setembro de 2008(11/09/08)

Um comentário:

Anna Rocha disse...

Esse menino e essa menina
vão ter muito por contar ainda
a aventura so começou
em dois mundos que se juntam
para formar um outro maior ainda.

Esse menino vê na menina uma beleza que ela mesma desconhecia.
Cada canto, cada cheiro
cada toque
ganham um sabor diferente
quando juntos estão.

cada silencio é mais cheio de palavras do que a gente mesmo pode imaginar.

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento