3.4.09


Zó não entendi a vida das pessoas e como elas conseguiam SOBRE-VIVER sem cultura, sem lazer. Zó acordava cedo sentava-se na frente da sua casa e observava as pessoas indo para seus trabalhos. No final da tarde fazia a mesma coisa. Via as pessoas indo apresadas com sono e voltando cansadas sonolentas. Muitas imersas em seus mundos de fones de ouvido, falando no celular. Um dia Zó sentou na frente de sua casa com um placa. Nela estava escrita: BOM DIA/OI e uns desenhos seus. No final da tarde lá estava ele novamente: BOA NOITE/TCHAU. Algumas pessoas o cumprimentavam a maioria nem olhava. Em outra feita de Zó ele fez em casa a mão vários poemas e frases de textos sobre a vida, o lazer e a cultura e saio a distribuir para as pessoas nas ruas e nos ônibus pela manhã. Ninguém entendia Zó, mas Zó entendia as pessoas. Entendia o cansaço do trabalho diário de oito horas ou mais. Entendia a vida sem um pouco de lazer e descanso. Mas não entendia como ainda as coisas continuavam assim. Mas Zó continuava a fazer pequenas coisas que poucos entendiam sem entender pequenas coisas que movimentavam o mundo.

Elisandro Rodrigues

3 comentários:

Grazi disse...

Amei!

O que seriamos sem as pequenas coisas?

Precisamos de mais pessoas como Zó. :)

Anna rocha disse...

Gentileza gera gentileza

CLARIDÃO disse...

salve gentileza!

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento