21.4.09

Aquilo que não procurava.


Aquele um dia e meio estava acabando. Ela acabava de ir embora, deitado em sua barraca ele recordava esse tempo fora do tempo que vivera.
Escutara sua voz numa noite onde o céu era um tapete de veludo estrelar. A voz dela vinha de dentro da lagoa- dentro d’água dentro. A lua dava um sorriso amarelo e o seu alinhamento na água deixava transparecer a harmonia daquele momento. Uma estrela cadente riscava o céu enquanto ele a ouvia. Uma noite de banho de lua e estrelas.
Na manhã silenciosa e nublada viu seu sorriso. Numa tarde de ventos percebeu seu olhar. Na tarde fria a escutou mais perto do seu ouvido, e do seu coração, em frases repetidas várias vezes– minha boca me derrama..
E no final do dia e meio sentiu seus lábios. Aquilo que ele não procurava encontrará em um beijo.
Agora estava ali, deitado olhando as estrelas. Sentia o frio da noite chegar mais rápido, seus pensamentos voavam na velocidade do tempo e a conclusão que tinha era de que os dias demorariam a passar. O silêncio toma conta do espaço e ele por fim adormece pensando nela.

Elisandro Rodrigues

Um comentário:

Deh Borges disse...

Adoro dias fora do tempo...

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento