9.1.09

Pontos

(do livro Casulos de André Neves)

Pontos...

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Por que será que uma caixa de sapato pode fazer alguém feliz?

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Um pouco de possível, senão sufoco..

(Peter Pál Pelbart).

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Hoje pela manhã vi um beija flor no meio da chuva!

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Tudo se compõe e se decompõe.(Moska)

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...mas aos que alguma vez desconfiaram que essa vida norma e tola que nos é oferecida e alardeada como a única possível, desejável e saudável esconde outras tantas. Cuja beleza e tentação cabe reinventar.

(Peter Pál Pelbart)

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eu direi tu
(Tijuqueira)

o direito a uma semana com luz
direi tu que sabes o que que é bom,
sangue de rei
tu tens as previsões de onde eu irei
e onde vou parar
repare, repare no sol
depare, depare com o sol
fazer força dói
fazer tudo dói
abrir o olho dói
vou me sentar aqui
vou imitar caubói
quero ser herói
voar e amanhã vou existir
se eu serei um caso normal
de sucesso da tua voz
sobre o meu peito
eu direi
que está tudo normal
não sentirei falta nem de uma cor
te acho linda nem sei porque
acho que é porque tu me deste
tudo que eu tenho hoje aqui
não vou deixar tu ir embora
não vou jogar tudo que eu tenho fora
sou egoísta
desenhista
ilusionista
até artista
talvez, talvez, talvez

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a noite vai te trazer estrelas
o riso vai te deixar mais linda.

(Tijuqueira)

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"que o tempo te traga a calma
que a calma te faça sentir
que o sentir te una a mim
se não sabes quem tu és
saiba que isto és tu
saiba que eu sou tu
e, sempre que pensares em mim,
serás eu, dentro de tua alma"

(Tijuqueira)

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o meu compromisso
com a minha natureza
de não ser igual
nasci no meio
de milhares de pinheiros
mas eu saquei que sou uma goiabeira
na geometria desse mundo
me disseram que eu sou quadrado
mas eu sou triangular
ou, quem sabe, circular
o alecrim e o hortelã me confundem
o alecrim, o alecrim, o alecrim...

(Tijuqueira)

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento