18.1.09

Aqui o tempo é outro


“Eu ando pelo mundo
Prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome...”


“ Eu vi, eu vi São Pedro brincar com as estrelas do céu, e uma delas caiu na aba do meu chapéu...”


Esta semana andei pelo mundo tentando prestar mais atenção nos pequenos detalhes que nos escapam aos olhos. Andei escutando com os olhos e olhando com os ouvidos. Visitei lugares que há tempos não visitava – o seminário onde realizei minha formação. Vi pessoas, amigos e amigas. Mas sobretudo permaneci no tempo – Não é inútil lembrar que o tempo da criação artística ou do pensamento também exige algo dessa ordem. Do dar tempo e paciência para que o tempo e a forma brotem a partir do informe e do indecidido (Peter Pál Pelbart).

Nas andanças pelo interior do estado, e do meu interior, escutei pessoas simples da roça falando de seus problemas, da falta de perspectivas. Percebi a abertura para conversar, para dialogar. Onde passava as pessoas contavam causos de sua vida, falavam de coisas de ordem do tempo. Do sofrimento, das saudades, dos sonhos, dos amores. Do possível a se fazer na educação e nas relações.

Escutei o meu tempo gritando dentro de mim. Escutei meus sonhos nos sonhos dos outros. O fato mais curioso que me aconteceu relato agora: Depois de realizar uma reunião de escuta tinha que me dirigir para outra cidade, mas para isso precisava atravessar um rio com uma barca. Enquanto esperava a barca para atravessar para o outro lado uma Pirilampa sentou no meu ombro. Não pude acreditar naquilo. Meu tempo pensou que era ela a me visitar. Acreditei que era. Pequenos detalhes que acontecem que pensamos que algo maior existe.

Ao chegar em casa depois dessa viajem percebi na flor plantada a uma semana o primeiro broto de vida. Símbolos de um pouco de possível. De que aqui o tempo é outro.


Elisandro Rodrigues

Um comentário:

Preta Lopes disse...

.. pra todas essas divindades, um acreditar!.. pra todo detalhe um existir, dentro e fora da gente!

Bjokas!

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento