6.1.09

Plantando flores...


Elli estava sentado no cordão da calçada esperando o filme começar. Faltava meia hora para entrar na sala e ver 'A casa de Alice'. Sentado ali ruminava seu dia desde a noite passada onde fora egoísta com Ella. Pensando rezava e rezando pensava. A memória agia rápida ligando e interligando sinapses formando conceitos e palavras. Ruminava e entendia o que se passava, entendia como o processo acontecia, como na noite anterior onde plantará a flor. Para fazer isso foi preciso de um tempo, de um preparo da terra, da semeadura da flor. E até que ela floresça iria levar alguns dias, nada floresce do dia para a noite, as coisas levavam tempo, tem que se cuidar, tem que regar. Sendo assim nada mais justo do que respeitar o tempo. Sentia-se melhor, mais feliz por dentro por compreender um pouco mais a dinâmica da vida. Tudo para nascer dói, e para nascer precisa tempo – lembrou-se que havia lido esta frase em um livro ‘Satolep’. Sentia-se mais calmo, mais decidido na opção de esperar – uma espera produtiva, de criação, tempo de espera para deixar a boniteza da vida florescer. Assim entrou na sala e saio dela. E assim continuou convicto de sua opção, convicto do respeito por Ella, do tempo que ela precisava. E assim ficou.

Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento