24.1.09

Dizem os antigos...


Dizem os antigos anciões que quando os ventos sopram forte é sinal de virada do tempo. É sinal de que uma tempestade se anuncia, principalmente depois de dias difíceis de sol, onde tudo seca, tudo se decompõe. Mas após a tempestade, após os ventos fortes, o aguaceiro que cai do céu, as flores voltam a florir e as arvores a verdejar. Portanto dizem esses anciões que tudo se transforma, como as lagartas que depois de entrarem nos casulos voltam transformadas em borboletas. Assim somos nós, dizem eles, somos ferramentas de transformação do tempo, ferramentas onde depois das mazelas, do sol, do casulo desabrochamos em boniteza.

'Tudo passa, até uva passa...'


Elisandro Rodrigues

P.S: Já são sete as flores nascidas....

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento