13.7.09

t(amo)


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Os corpos dos dois formavam um só. Ela o abraçava apertando o seu corpo contra o dele. Ele a envolvia num abraço forte e seguro. No seu ouvido ela sussurrava que não queria perde-lo, que não era para ele a largar daquele abraço. Ele em resposta a dizia que não a largaria que a amava e que era todo dela de corpo e alma. O sexo dos dois era um amor ao mesmo tempo bonito e triste. O gozo aconteceu ao mesmo tempo e os dois permaneceram abraçados. O abraço forte de ambos deixava a respiração entrecortada.

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Kaus olhava as crianças brincarem na festa junina. Estava sentado em uma mesa no canto do salão. Um copo de quentão esquentava sua mão e corava suas bochechas. Na pista de dança montada no meio do salão as crianças brincavam, pulavam, dançavam e faziam estripulias com as luzes e as bolinhas de sabão que saiam das maquinas. Observava as crianças e pensava nos seus futuros filhos. Como seriam? Por quem puxariam? Como seria sua vida como pai? Seria um bom pai? Afastava esses pensamentos de pre-o-cupação da cabeça com um gole de quentão e mais um pinhão quente, o mais importante é vivenciar e experimentar o momento que ainda está por vir. Lá fora a noite se fazia fria e Kaus pensava nela.

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Ravini estava sentada na cadeira de balanço de sua vó perto do fogão a lenha. Um xale cobria o seu corpo e a aquecia do frio que fazia na noite. A casa da sua vó era um lugar aconchegante. No meio do nada e no meio das flores. A casa era cercada pelas mais diversas flores o que fazia Ravini espirar um pouco, o pólen irritava seu nariz, mas mesmo assim ela gostava da tranqüilidade que aquela casa tinha. Lá fora o silêncio reinava, podia escutar o barulho das cigarras e grilos, das galinhas e dos bezerros. O fogão a lenha aquecia ainda mais seu corpo e no embalo gostoso da cadeira de balanço ela ia entre as histórias de sua vó e de seu pai sobre as infâncias e vinha entre seus sonhos com os futuros filhos. Sem querer no balanço dos sonhos acariciava sua barriga acarinhando aquele que logo viria. Com ternura afagava um futuro de alegria e felicidade.

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Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento