29.7.09

Bons ventos...


No alto da colina, a menina observava o mundo lá embaixo e se perguntava sobre as dores das pessoas. Todo dia ela subia lá em cima e ficava na sua quietude a sentir. Do alto ela enxergava a tudo e a todos suas emoções e seus sentimentos. Mas não conseguia olhar para ela. O vento batia em seu cabelo esvoaçando-os. Os cheiros e perfumes das flores e das pessoas chegavam até ela carregados pela brisa que a tocava no rosto. Os sons, melodias e músicas chegavam aos montes lá em cima da colina. Não eram sons de carros e máquinas, mas sons de corações, de risos, de felicidade, de crianças correndo na grama. Entre um som e outro um soluço e o barulho de uma lágrima caindo. “Como existem pessoas que caminham sozinhas no mundo” pensava ela do alto da colina. Sentindo-se observada ela olhou para cima e notou um menino com pequenas asas a olhar ela. “Quem és tu?” Perguntou ela ao menino de asas, “Que bons ventos te trazem aqui?”. “Não sei ao certo, estava passando e parei para te olhar, lamentavelmente eu sou assim sabe, me apego aos olhares dos outros” falando isso ele se aproximava da menina dos cabelos bagunçados pelo vento. “Seja o que for você podia me levar para passear? Estou cansada de ficar aqui apenas olhando. Queria sentir mais o vento. Você me leva?”, “Posso te levar sim pois seja o que for, seja o que me surge e que some mas seja o que me consome mais. Estou procurando uma companhia para voar junto comigo, e me cuidar as vezes”, “Por que te cuidar menino das asas pequenas?”, “É que as vezes eu caio e quando eu vou é quando eu acho que onde é que eu tô, me entende?”. Ela olhou para ele e estendeu a mão “Queria acompanhar alguém, andar com alguém do meu lado, mas acredito que voar seja melhor”. Pegando a mão dela os dois partiram levados pela suave melodia dos sons trazidos pelo vento.


Elisandro Rodrigues




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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento