7.7.09

Sentindo sua falta...

O vento lá fora assovia e faz as folhas das árvores dançarem no céu escuro da noite. Deitado na cama sentindo o frio que o vento traz do sul seu corpo exige o abraço dela. Sente-se sozinho e triste na cama grande e vazia. Seu corpo se encolhe espremendo-se na parede. A parede é gelada mas ele não se afasta dela. Espera que uma mão envolva seu corpo e o chame para mais perto saindo de perto da parede gelada. Essa mão, esse abraço não chega e o frio toma conta cada vez mais. Adormece assim colado na parede. Lá fora o vento forte esmurra as janelas querendo entrar. A janela do quarto dele está mal fechado, por entre uma fresta o vento entra e bate portas e janelas na casa toda. Ele dorme encostado na parede.

De sobressalto acorda suado e com o coração acelerado. Acorda com medo. Tivera um pesadelo. Procura ainda dormindo o corpo quente de sua amada, não o acha. A chuva lá fora molha os cachorros e moradores de rua. Ali dentro a chuva cai dos seus olhos molhando o travesseiro que agarra forte. Sente falta dela. Falta do abraço. Da presença. Sente-se perdido sem a presença aconchegante do abraço e do perfume que exala. As lágrimas escorrem pela sua face salgando seus lábios. Assim entre ventos e chuvas ele adormece novamente com a certeza de que no outro dia a teria.

Elisandro Rodrigues


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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento