1.7.09

Amor em Movimento Revolucionário (ou o que passa em minha cabeça)


Eno está sentado em sua escrivaninha lembrando frases sobre o amor. Em uma folha de papel escreve com uma caneta azul – Che diz que o “verdadeiro revolucionário é movido por um verdadeiro sentimento de amor”. Abaixo dessa frase escreve outra de Paulo Freire “amor é como ato de valentia, não pode ser piegas; como ato de liberdade, não pode ser pretexto para a manipulação, senão gerador de outros atos de liberdade. A não ser assim, não é amor”. Após um breve momento de reflexão onde tenta compreender a frase escreve outra: “O amor é a coisa mais alegre, o amor é a coisa mais triste, o amor é a coisa que eu mais quero”. Pensa ele que Adelia Prado tem razão, sem dúvida amor é a coisa que ele mais quer naquele momento.

Deixa a caneta cair sobre o papel e fica observando o nada a sua frente, em sua cabeça giram perguntas, imagens e sons que se ligam e conectam como o despertar de dois lados da mesma janela do coração. Fica pensando naquele sentimento estranho que envolve seu coração. Sentimento de falta. Falta do abraço e do sorriso - Pensa que sabe que ela não é uma trilha segura a se seguir, mas está disposto a dar as mãos e caminhar nessa estrada de incertezas que é o amor. Se por ventura um buraco se abrir no chão e um deles cair? Deixar o outro ali? Segurar sua mão e cair junto? ou tentar ajudar a sair? Não abandonar, não deixar o outro sozinho, é isso que um companheiro deveria fazer. Deveria achar soluções, alternativas para a outra pessoa sair de dentro do buraco e continuar a caminhar rumo a um não ser e não saber mais incerto ainda. Nessa estrada que não é de tijolos amarelos mas sim de lírios de todas as cores e tamanhos.

Abre um arquivo em mp3 em seu computador e se perde nos versos da música Companheira de Zé Vicente:

Companheira me dá as tuas mão,
Eu necessito do amor que tu me dá.
Tua presença me anima a lutar
O teu abraço refresca o calor
Dessa jornada em busca do lugar
Onde seremos uma só nação.

Láia, láia, láia...

Companheiro te dou as minhas mãos,
Te dou meu peito em mim vem repousar
Vem ser a chama que acende o coração
O meu desejo à vida que virá,
Felicidade enfim vai florescer
E amaremos sobre o nosso chão.

Que venham as lutas, a dor e a solidão,
Os passos lentos do povo a caminhar.
O nosso amor é fonte no jardim,
Pra saciar a sede de quem vem
Pra perfumar a estrada de quem vai
Pra festejar o dia do amor.

O papel a sua frente está todo rabiscado, resolve se levantar e sai em direção a rua. Lá fora o sol brilha forte aquecendo ele do frio que o gela os pés. Na sua memória surge a imagem dos pés gelados dela - É estranha essa falta mesmo. Gostaria de dormir com ela essa noite e esquenta-lá, e quem sabe se perder entre os braços e abraços dela. Quem sabe contar aquela história ainda não contada sobre um Marinheiro e uma Sereia. Quem sabe ficar acordado toda a noite, pois, um pouco de sono na manhã seguinte não faz mal. Volta para o trabalho esperando uma visita a noite do seu amor em movimento revolucionário.

Elisandro Rodrigues
(Para saber mais sobre a imagem e a música abaixo acesse: http://nuvens.net)

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento