6.7.09

Conversa sobre o possível!


- E ai meu! – Tipak alcançou uma cerveja enquanto cumprimentava Enoski. Continuou falando enquanto limpava o chão onde ia sentar – Pô meu, por que tu escolheu um lugar desses para a gente se encontrar.

Enoski tinha escolhido o Cais do Porto para realizar aquela conversa. Andava com a cabeça nas nuvens, quem sabe um lugar mais calmo, vendo um pôr-do-sol e tomando uma cerveja conseguiria colocar as idéias no lugar.

- Desembucha logo o que tu quer falar pois eu só trouxe quatro cervejas!

- Cara, sei lá....faz tempo que não me sinto assim tão desnorteado que nem barata tonta, que nem pernilongo quando recebe uma rajada de veneno nas ventas. Ando pensando nessa menina que estou.

- Hum...a Janaina!

- Isso! Estou com medo sabe.

- Medo por que meu velho!

- Por que ela está se doando totalmente a esta relação!

- Mas tchê, precisa ter medo disso? Você está com medo por que é sempre você que se lança de cabeça nas relações. Agora descobriu uma pessoa que quer viver um amor intenso, um amor verdadeiro. Você achou uma pessoa para ser sua e você ser dela, dois corpos se tornando um só.

Enoski vira o resto da cerveja na boca. Amassa a latinha e coloca dentro da sacola onde restam outros duas. Abre mais uma e dá dois goles longos.

- Pois é cara! Isso que tenho medo. Eu gosto dela um monte. Fico embriagado com o perfume dela, com o gosto dela. Tocar seu corpo é como tocar uma nuvem. Fico cheio de vento. Fico cheio de borboletas no estômago. Tenho medo pois nosso amor é verdadeiro.

- Cara, como dizem por ai relaxa e goza cara. Para de ter medo e se joga nessa relação de verdade. Seja feliz com essa relação. Te conheço a tempo meu e você sempre fica choramingando que as meninas não estão presentes inteiras com você. Aproveita a Jana, aproveita esse momento e faz ele durar até o impossível.

- Durar até o impossível...sinto que vai ser isso mesmo. – Enoski toma o resto da cerveja pega o telefone e começa a escrever uma mensagem:

“Oi amor! Sou 200% seu! Quero correr pelos céus levados pelo vento. Quero sentir teu corpo junto, ser um só no olhar e no respirar. Te amo.”

- Pronto meu! É isso, vou parar de ter medo e vivenciar essa relação. Obrigado cara!

- Obrigado o carralho, vamos tomar mais umas cevas no boteco ali da frente que minha bunda tá doendo de ficar sentada nessa pedra gelada...

- Borâ lá então!


“Foi no cabaré da Dera na Paraíba

Foi no cabaré da Dera na Paraíba

Foi no cabaré da Dera na Paraíba

Foi no cabaré da Dera na Paraíba

Quisera meu Deus quisera

Que pindaíba

A moça mais bela era

a Janaina

...

Olha os olhos de amêndoa de Janaina

Sob a saia de renda a cinta-liga

Olha os olhos de amêndoa de Janaina

Sob a saia de renda que coisa linda...”

(Cabaré da Dera - Composição coletiva ainda não gravada e divulgada da Rapper Kalyne e Fernando Anitelli junto com mais um povo durante o I Fórum do MPB - Músicpa para Baixar)


Elisandro Rodrigues


Nenhum comentário:

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento