29.4.09

Sentimentos no corpo.

Ele estava sentado na mesa ao lado dos músicos. Observava atentamente o espaço ao redor: nas paredes de azulejos brancos vários quadros antigos de cervejas e chopp´s. Quadros que remetiam a certo tempo de nostalgia. Tempos passados em preto e branco. Perto dos músicos um mural com fotos antigas, de grandes músicos que passaram por aquele local. Na sua mesa um copo de chopp´s ainda pela metade, um cinzeiro com mais de dez tocos de cigarro, e umas quinze bolachinhas de se colocar o copo de chopp – a conta seria feita a partir delas. Aquele ambiente no meio do centro de Porto Alegre remetia-o para outros butecos de outros estados – Minas, Rio, Sampa...Acendeu um cigarro, e observou os músicos: uma senhora de uns cinqüenta anos tocando piano e um senhor de mais de setenta com seu acordeom. Fechou os olhos e deixou-se levar pela musica, sentiu ela passando por todo o seu corpo. Foi levado daquele buteco para outros mundos, no final da música sentiu uma perna do lado as sua – um calor agradável e gostoso, quase um chamego. Abriu os olhos e viu o sorriso dela ao seu lado. Bateu palmas para a maravilhosa musica tocada, pegou a mão da moça ao seu lado e a beijou. Fechou os olhos novamente e segurando a mão dela continuou a sentir a música no corpo, junto com o amor da moça de sorriso bonito.

Elisandro Rodrigues

25.4.09

Quando invade, invade.


“A terra gira para nós aproximar. Girou ao redor de si mesma e dentro de nós até que finalmente nós uniu nesse sonho” (Frase de um poeta Venezuelano)

- Não tem jeito mesmo, quando invade, invade. Não tem como cuidar nem fugir.
- Você está falando do que meu?
- Leo, to falando da paixão.
- Ah! Pensei que tava falando do MST.
- Te liga meu! Sou todo dela, poderia até cantar para ela – Abre aspas e me leva nos meus versos que são seus. Acho que vou caminhar um pouco Leo. Pensar nessa paixão e ver se a alimento ou não. Até mais.


Para meu coração teu peito basta,
para que sejas livre, minhas asas.
De minha boca chegará até o céu
o que era adormecido na tua alma.
Mora em ti a ilusão de cada dia
e chegas como o aljôfar às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência,
eternamente em fuga como as ondas.
Eu disse que cantavas entre vento
como os pinheiros cantam, e os mastros
Tu és como eles alta e taciturna.
Tens a pronta tristeza de uma viagem.
Acolhedora como um caminho antigo,
povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Despertei e por vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.

Pablo Neruda


Elisandro Rodrigues

24.4.09

Zó e o Devir Revolucionário

Lá estava Zó novamente – sentado na Esquina Democrática, observando os movimentos de esquerda e de direita protestarem. Fazia algumas semanas que ele estava nesse processo. Muitas pessoas passavam por ele e nem o notavam. Zó parecia mais um mendigo entre tantos outros a perambular pelo centro da cidade. Nas manifestações ele ficava observando os gritos e as palavras de ordem, anotava em um pedaço de papel palavras soltas que escutava. Não entendia muito daquelas manifestações, pessoas reinvidicando e gritando coisas que nem eles sabiam. Todos se achavam revolucionários, mas que revolução queriam? Revolução para suas barrigas e seus corpos? E os demais, os outros sujeitos oprimidos onde ficavam?


Zó pensava essas coisas e anotava em seus papeis soltos. Depois de cinco semanas observando ele decidiu criar o seu movimento, a sua bandeira, o seu grito. Caminhou lentamente até o meio da Esquina Democrática com dois pedaços de papelão nas mãos. Esses papelões eram pintados e desenhados, pareciam placas, e se juntavam com pedaços de fitas coloridas, eram vários quadrados formando dois painéis. No meio da esquina parou.

Se despiu lentamente ao olhar de curiosos que passavam e paravam. Amarrou os pedaços de placas no corpo e assim iniciou sua marcha, sua caminhada, sem gritos ou palavras de ordem apenas com seu corpo. Seu corpo reinvidicava cultura, lazer, tempo para os outros, utopias e esperanças. As placas se destacavam no seu corpo com palavras e imagens simples, tudo muito colorido. A que mais chamava a atenção dizia o seguinte: ‘De tempo para olhar nos olhos dos outros’. Esse foi o Devir Revolucionário de Zó, uma criação poética e estética, consciente de lutas verdadeiras e não simples gritos de ordem e passeatas sem sentido. E assim andou Zó pela cidade com suas palavras e seu corpo.


“Nietzsche dizia que nada importante ocorre sem uma ‘nuvem não-histórica’. E que a história compreende o acontecimento, é sua afetação em certos estados de coisas, mas o acontecimento em seu devir escapa a história. O devir não é história: a história marca somente o conjunto de condições. Dizemos que as revoluções têm um futuro sombrio. Mas estamos constantemente misturando duas coisas, o devir das revoluções na história e o devir revolucionário das pessoas. Não se trata das mesmas pessoas nos dois casos. A única chance dos homens está no devir revolucionário, o único movimento capaz de esconjurar a vergonha ou responder ao intolerável. É preciso subverter a palavra. Acreditar no mundo é o que mais nos falta; perdemos o mundo; ele nos foi tomado. Acreditar no mundo é também suscitar acontecimentos, mesmo que pequenos, que escapem do controle, ou então fazer novos espaços-tempos, mesmo de superfície e volume reduzidos. São necessários, ao mesmo tempo, criação e povo.”

Deleuze



Elisandro Rodrigues

Para minha amiga Dé e para o filme do Che que estréia amanhã.


21.4.09

Aquilo que não procurava.


Aquele um dia e meio estava acabando. Ela acabava de ir embora, deitado em sua barraca ele recordava esse tempo fora do tempo que vivera.
Escutara sua voz numa noite onde o céu era um tapete de veludo estrelar. A voz dela vinha de dentro da lagoa- dentro d’água dentro. A lua dava um sorriso amarelo e o seu alinhamento na água deixava transparecer a harmonia daquele momento. Uma estrela cadente riscava o céu enquanto ele a ouvia. Uma noite de banho de lua e estrelas.
Na manhã silenciosa e nublada viu seu sorriso. Numa tarde de ventos percebeu seu olhar. Na tarde fria a escutou mais perto do seu ouvido, e do seu coração, em frases repetidas várias vezes– minha boca me derrama..
E no final do dia e meio sentiu seus lábios. Aquilo que ele não procurava encontrará em um beijo.
Agora estava ali, deitado olhando as estrelas. Sentia o frio da noite chegar mais rápido, seus pensamentos voavam na velocidade do tempo e a conclusão que tinha era de que os dias demorariam a passar. O silêncio toma conta do espaço e ele por fim adormece pensando nela.

Elisandro Rodrigues

16.4.09

Me beija logo.


Vinicius estava sentado ao lado dela vendo o pôr do sol no gasômetro. Tinha passado à tarde com Martina. Almoço. Passear pelo brique. Chimarrão sentado na grama da Redenção. Teatro no meio da tarde e agora estavam ali sentados um ao lado do outro olhando o dia se despedir por trás das nuvens e do Guaíba. Na cabeça de Vinicius passavam-se muitas emoções e sentimentos, tentava ler os sinais mais não os enxergava claramente. Martina apenas admirava o dia acabando e as primeiras estrelas surgindo no horizonte. Ela gostava dele, mas não sabia se estava pronta para um relacionamento. Ele por sua vez estava convicto que ela fazia parte dele, não saia do pensamento dele há dias, tudo girava em torno de Martina. Permaneciam ali parados em silêncio sem falar nada um para o outro. Vinicius tomou coração, olhou para Martina e disse pegando seu rosto entre as mãos:


- Será que preciso te chacoalhar, te liga pinta sabe que gosto de você e que a gente vai dar certo, então para de ficar ai pensando que não está preparada e me beija logo....


Ele a beija ardentemente, ela......ela retribui. Os dois ficam abraçados em silêncio. Uma estrela caí mais adiante e os dois terminam o dia na casa dela entre lençóis suados e muito amor.


Elisandro Rodrigues

15.4.09

Por onde caminho

Sinto que meu Inconsciente vive Escrevendo Roteiros sem eu pedir. E nesses roteiros vivo Confabulando Imagens, sonhos e desejos por todos os lados e cantos onde passo. Sei que sou um Sujeito Simples, até meio Retro e vivo em constantes Vertigens mas tenho alguns Projetos Reticere e tal. Ando partilhando minha vida com O Solitário Jim, e escutando de minha amiga que Nunca Foi Moça Bem Comportada coisas que preciso escutar. Mas na verdade ando com saudades de buscar Flores No Asfalto e deitar na areia e ver a lua, de contar estrelas deitado no chão da varanda de seu apartamento. Mas meu Respeitável Público minha mente anda em desordem e num caos total deve ser por isso que surgem roteiros sem eu pedir e que vão Vivendo e Sonhando dentro de mim.

Elisandro Rodrigues

14.4.09

Curta.


Pedro chega correndo até o apartamento de Eduardo aperta o interfone e espera ansioso.

-Quem é?

- É o Pedro abre aí.

Sobre correndo as escadas até o segundo andar, a porta da casa de Eduardo já está aberta.

-Cara preciso te contar a idéia que tive...- Eduardo está sentado na janela fumando – Desembucha então Pedro.

-Cara escuta só, pensei em um curta hoje pela manhã quando acordei. Ele começa assim, a gente vê a cena abrindo dentro de um quarto, roupas atiradas, folhas no chão, bitucas de cigarro, latas de ceva, vários, mas vários livros pelo chão e vai indo até chegar na cama, que é um colchão no chão. Deitada está uma menina dormindo só de calcinha, do lado um ventilador ligado.

-Gostei dessa cena.

-Tá olha só daí toca o despertador do telefone, aquela música da Nô Stopa Leve, conhece?

- Não!

-Tá mas não faz mal, ela se vira na cama e acorda. Fecha a cena aproximando dos olhos dela. Abre de novo depois com ela entrando no busão, e é ai que está a jogada cara no ônibus. A gente vai fazer isso várias vezes e em cada vez ela entra no ônibus cada vez com um livro diferente. Em cada vez que ela entra no ônibus entra a narração em Off dela falando de uma parte do livro. Sabe coisa curta.

Eduardo apaga o cigarro e acende outro falando – Tá mas serão então várias tomadas, em vários dias diferentes, no mesmo horário e dentro do mesmo ônibus?

Pedro caminha para lá e para cá na sala, acende um cigarro também.

-Isso mesmo cara. A gente nem vai precisar de figurantes saca, os passageiros serão os figurantes. Olha só a gente vai filmar umas oito a dez tomadas assim em dias diferentes. Em um dos dias pensei que a narração em Off da personagem pode ser sobre os passageiros. Sabe a gente as vezes pega o mesmo ônibus todos os dias com as mesmas pessoas, isso é estranho e bizarro, imagine cinco dias por semana eu vejo a pessoa pelo menos uma vez, vinte vezes num mês.

Pedro para de falar e procura algo nos bolsos, Eduardo está sentado ainda na janela. Pedro tira uma seda e uma trouxinha de maconha, volta a falar enquanto esmorruga a maconha.

-Mas o clima tá chegando Du, olha a gente vai filmar ela no ônibus de pé, sentada, com o busão cheio, vazio, conforme o dia, mas ela sempre vai estar lendo. E a derradeira cena é a seguinte...ah pensei de filmar ela outras vezes acordando também, mas com musicas diferentes no despertador, sacou?

-Saquei,mas me conta do clímax, da curva dramática...

-Tá não ironiza também, mas assim, ela vai estar sentada lendo o livro 'Amor e Vexame' do Roberto Freire, vai sentar do lado dela um cara todo arrumadinho, bonitão, bem apessoado e vai ficar olhando para ela e tentando ver o que ela lê. Daí ele vai dizer o seguinte 'Sabe também curto esses livros de Auto Ajuda, mas esse autor ai eu não conheço?'. Sacou Du, livro de auto ajuda. Ela vai olhar para ele e vai dizer a frase celebre do Roberto Freire 'Por que eu te amo, tu não precisa de mim. Por que tu me amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários'. Ela dá uma pausa e completa 'Isso é Anarquismo não Auto Ajuda'. O cara não diz mais nada e entra outra música.

Pedro para de falar, termina de fechar o beck. Acende e logo passa para Eduardo.

-Cara o final seria isso, ela entrando no ônibus e várias pessoas com livros lendo. Me esqueci de um lance as pessoas do ônibus, a maioria sempre vai estar de fone de ouvido. Ela dá um sorriso e começa a tocar outra música da Nô Caramujo que é assim 'Agora ficou claro o que antes era escuro, agora que não precisava jurar eu juro, não ando mais jururu, eu juro...'....E ai o que achou?

Eduardo solta a fumaça e passa o beck para Pedro.

-Cara achei tri fodão, mas o seguinte a gente é historiador, por que merda a gente vai fazer um curta?

Elisandro Rodrigues


12.4.09

Projeto Magia 3: Problemas no percurso


O corredor era úmido e frio o que deixava Enoski com uma sensação estranha. Seguia Natthali na escuridão apenas escutando os seus passos. Aquilo ali parecia um conto do Neil Gaiman ou de um livro J.K Roling nada daquilo parecia ser real. Não acreditava que estava em outro mundo, com seres o perseguindo, ele um rapaz mediano que nunca fora percebido por ninguém, que se considerava normal até demais. Não entendia o porquê de ele estar naquela loucura toda. Beliscou-se mais uma vez para ver se não estava sonhando.

-Shhhh! Pare ai – Disse Natthali – alguém está ali na frente.

Ele não perguntou, mas como ela sabia que tinha alguém na frente se a escuridão era total e nenhum barulho se podia escutar, se um pingo de suor caísse poderia se escutar. Pensando nisso deu-se conta de que estava cansado, seu corpo doía e sentia fome. Não fazia idéia de quanto tempo estava nessa caminhada escorou na parede fria buscando um apoio em fez disso encontrou apenas o vazio e caio no chão. Os segundos que transcorreram não foram muitos mas a seqüência de eventos foi tão grande que não teve idéia do que estava acontecendo. Só escutava o ruído de corpos se chocando como se lutassem e algumas faíscas luminosas tão rápidas que não podia se ver nada com os clarões. Apenas escutou Natthali o mandando correr. Levantou-se rapidamente do chão mas não sabia se corria para frente ou para trás. Juntou sua mochila e pôs-se a correr para a direção em que caminhavam.

Passou por dois corpos lutando que imaginou ser Natthali. Correu por um tempo indeterminado até achar uma saída daquele corredor. A luz do dia o cegou demorou alguns segundos para acostumar com a claridade. Olhou ao redor não estava mais perto das casas estranhas e de má aparência o lugar era mais bonito. Existia um lago e um gramado verde junto de várias árvores que pareciam ser um pomar. Sem pensar muito ele correu para o lago estava com tanta sede e tanta fome que esqueceu o que acontecerá dentro do corredor. Por precaução subiu numa árvore e ficou comendo os frutos lá de cima, matando a fome e se escondendo ao mesmo tempo.

Esperou algum tempo escondido em cima da árvore. Pensou em como o tempo era estranho e diferente, tinha a impressão de que alguns dias já se passaram, mas não fazia idéia se isso era mesmo verdade ou não. Principalmente dentro daquele corredor. Pela fadiga do seu corpo a impressão era real. Viu que alguém saia de dentro do corredor, escondeu-se mais entre os galhos.

Era Natthali ao sair caio no chão. Enoski desceu da árvore e foi ao encontro dela. Estava inconsciente, seu pulso estava fraco e estava ferida sangrava de um dos braços. Enoski a carregou para junto das árvores e tratou de cuidar do ferimento dela. Ainda bem que tinha feito curso de primeiros socorros quando estava trabalhando de estagiário. Dentro de sua mochila havia uma camiseta que a rasgou para estancar e cobrir o ferimento. Desceu até o lago e trouxe água em uma cumbuca improvisada com folhas, teve que fazer esse percurso umas quatro vezes para limpar o ferimento e para dar água a ela. Aos poucos anoitecia era necessário acender uma fogueira por precaução do quer que tivesse ali por perto e para iluminar um pouco. Tratou de buscar pedaços de galhos e folhas secas para alimentar o fogo. Achou o seu isqueiro dentro da mochila junto com um maço de cigarro.

Acendida a fogueira, sentou-se perto de Natthali e acendeu um cigarro. Com toda aquela correria tinha até esquecido o maldito vicio que tinha. Anoiteceu rápido e com o cansaço do corpo Enoski adormeceu rápido. Acordou somente no outro dia. Olhou para o lado e não encontrou Natthali levantou-se de sobressalto e começou a olhar para todos os lados, será que tinham voltado e pegado ela enquanto ele dormia.

- Não se assuste garoto. Não sumi ainda não. E obrigado por me cuidar.

- Pensei que tinha fugido ou tinham voltado para te pegar. Com quem você estava lutando lá dentro?

- Com algumas pessoas que não querem que você chegue ao seu destino.

- Mas que destino é esse. Por quê eu?

- Já lhe disse tudo tem seu tempo, suas respostas serão respondidas quando chegarmos onde devemos chegar. Pela interferência que tivemos dentro do corredor tive que conjurar um feitiço que nos afastou de onde temos de estar. Então pegue suas coisas pois o caminho vai ser mais longo ainda...ah tem umas frutas para seu desjejum, deve estar com fome.

Sua cabeça doía de fome na verdade. Pegou sua mochila e algumas frutas e correu para alcançar Natthali que como sempre já estava bem longe dele. Não entendia como ela podia estar daquele jeito na noite anterior parecia muito ferida. Olhou suas roupas estava na hora de um banho e de trocar elas pensou. Colocou a mão no seu peito e sentiu seu Patuá, apalpou e sentiu certa segurança. Nunca acreditará nos versos da música “Quem não tem mandiga usa Patuá” mas naquele momento parecia verdade.

Elisandro Rodrigues

Estrela do mar.


Os dois estavam sentados na areia. As ondas no seu vai e vem tocavam os pés dos dois.


- Que filme maluco aquele né!

- Que filme? – retruca ela.

- Aquele da mulher que escreve as coisas da vida dela num blog...

- Ah! Nome Próprio.

- Isso!

- O que tem ele?

- Sei lá achei interessante sabe os sentimentos, as palavras, as loucuras da vida. O processo de ver a opressão que vivemos. O mundo é estranho sabe, as relações são estranhas. Alguns vivem tão intensamente e outros fingem viver. Me lembrei de uma passagem do filme, não duas um poema e uma frase que ela diz. “Nada me resta senão me perder em você, senão morrer um pouco, senão gozar sem saber do que se goza”. "Nada nunca dá certo de vez. Eu sei. Tudo termina sempre acabando. Só o fim permanece. O fim eterno de todas as coisas. Então, me dissolvo antes do fim. Eu me dissolvo”.

- Papo estranho esse o seu hoje, filosofando novamente. Vida injusta essa isso sim.

- Mas um dia ainda será justa.


Ela olha-o e entre um sorriso deixa escapar – Tomara heim!

Ficaram ali sentados na beira do mar, as mãos se tocando e água do mar se aproximando aos poucos deles. Numa das idas e vindas das ondas uma estrela do mar é trazida até eles e o por do sol movimenta o dia novamente.


Elisandro Rodrigues

Balão Verde.


Na hora do almoço ele observava as pessoas sentadas sozinhas [assim como ele]. Ficava pensando no motivo delas, [assim como nos motivos dele], estarem almoçando sozinhas num dia festivo e familiar como aquele da Páscoa. Pós modernidade, liquidez das relações humanas, só podia ser esse o fator de levar as pessoas a não terem com quem compartilhar um almoço. Como diria Barthes a vida é feita assim, de pequenas solidões". Sentia-se vazio e passante na vida dos outros. Passante como o sentido dessa data que reunia alguns para celebrar renascimentos e chocolates. O seu olhar estava perdido num senhor de uns 60 anos a sua frente, cigarro na boca e um copo de chopp na mesa. Perdido em sentidos pensou estar a sociedade. Páscoa, que data é essa? Que sentidos? Que significados? Que pormenores restam a uma ressiginificação? Ovos? Chocolate? Ou humanização perdida[chada]? No olho dentro do olho seu pensamento estava em duas imagens que virá no trajeto até o restaurante. A primeira imagem era a de um velho que empurrava sua bicicleta [também velha]. Seus pés calcavam um chinelo [velho]. Seu corpo usava roupas [velhas] desgastadas pelo tempo. Andava com um olhar triste. Do meio da rua, do meio do nada, apareceu um balão verde que foi em direção ao velho. Largou sua bicicleta e correu atrás do balão até pega-lo – depois desse esforço o velho abriu em seus lábios um sorriso de felicidade, quem sabe não seria o presente de páscoa de sua filha, de seu filho. Triste [alegre] imagem - quais os presentes que damos? A segunda imagem era de um grupo de crianças brincando de roda. Imagem essa que estava esquecida em sua mente, e esquecida na vida das pessoas – ‘O anel que tu me destes era vidro e se quebrou o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou’. Vida. Consumo. [Re]significações. Páscoa. Presentes. Imagens que dançavam ao som da cantiga de roda. As imagens desapareceram quando o garçom lhe trouxe outro chopp.

Elisandro Rodrigues

11.4.09

Na reza e na espera.


Segue intacto o amor no peito dele. Segue intacta a fé na paixão e nas pessoas. Mas mesmo assim seu peito sangra, seu coração sofre agulhadas sem parar. Não pode recorrer a ninguém - não o entendem. Sofre calado e se angustia com todas as relações vividas dentro dele mesmo. Desmonta-se aos poucos, mas segue intacto. Como acreditar nas paixões vividas e esperadas? Por que investir em uma pessoa se a mágoa vem abraçada com a pessoa amada? Como se manter intacto na fé e na esperança. Dualidade que habita o seu ser. Caminhos que se abrem e se fecham ao mesmo tempo. Flor que murcha ao ser arrancada da terra. Coração que padece com palavras não ditas. Merda de esperança que habita sua vida e não o deixa descrer dos outros e do amor. Ele segue ferido, humilhado, angustiado, mas intacto na leveza e boniteza da vida que quer que ele acredite que a paixão, o amor e as pessoas são importantes. Segue na reza e na espera com a loucura e poesia como suas companheiras.



Elisandro Rodrigues

8.4.09

Suco de Melancia.


Num labirinto cruzo com meu ser no reino do sonhar as paixões acontecem. No abraço o amor se concretiza. Numa palavra o que se construí desmorona. Num sorriso sincero a felicidade alcança a esperança. Na roda viva o vira tempo nos mostra onde erramos e o que podemos mudar. No reino do sonhar o caminho é indicado: Numa sexta-feira, num sábado ou domingo um suco de melancia acaba com as mágoas cria mais laços afetivos e o sorriso não se vê com o abraço.

Elisandro Rodrigues

7.4.09

Projeto Magia Segunda Parte: Vilarejo sem almas.


(Continuação de um projeto que ainda não se sabe onde vai dar


Segunda parte escrita por Débora Borges)


Continuaram daquele jeito, caminhando apressadamente e sem se falar por um tempo que Enoski não soube determinar. Poderia ter sido apenas alguns minutos, mas o turbilhão de duvidas que o atormentava internamente faziam cada segundo de espera ser torturantemente longo.


Aos poucos tudo foi ficando mais claro, as arvores foram sendo substituídas por arbustos baixos, pedras, cascalhos e por fim, pavimento. Estavam agora caminhando pela rua, mas Enoski jamais estivera ali. Não teria se esquecido de estar em um lugar tão diferente. As casas eram todas escuras, frias e aparentavam abandono de séculos, mas podia ver que havia moradores ali. Não havia vozes em lugar algum, somente o som do vento cortando por entre as ruelas, mas divididas. Todas aquelas pessoas, se é que eram pessoas de verdade pensou Enoski, pareciam que viviam em uma cena ensaiada. Ninguém se olhava, ninguém falava, sequer pareciam ter a mínima noção de que estavam ali, na rua, juntos. Enoski prestava o máximo de atenção á sua volta, foi quando percebeu enfim que já não avistava Natthali. Ela sumira! “Há! Mas isso é realmente perfeito”, pensou, “perdido num lugar destes que eu sequer tenho noção em que parte do mundo fica... Alias, Natthali dissera que eu não estava mais no meu mundo. Há! Se melhorar estraga.” – Sentiu o nó em sua garganta começara a apertar, aquela sensação de desespero subia-lhe pelo corpo. Suava frio. Considerando se seria seguro chamar atenção de um dos transeuntes e perguntar onde ele estava; Enoski viu, com extremo alivio, o olhar penetrante que procurava o seu. Aqueles inesquecíveis olhos castanho-esverdeado olhavam para ele com a frieza e preocupação que um leão olharia para uma presa prestes a escapar. Sentiu ao mesmo tempo, alivio e um arrepio de duvida percorrer-lhe o corpo. O medo brotava com intensidade cada vez maior.


Natthali esperava por ele na porta de entrada de uma das casas de má aparência, já meio corpo para dentro e quando Enoski encontrou seu olhar ela desapareceu porta adentro. Enoski considerou rapidamente quais as suas possibilidades de fugir dali, não encontrando alternativa mais confortante, decidiu mais uma vez segui-la. Subiu os degraus de entrada daquela casa mal cheirosa, respirou fundo uma ultima vez e tomado de súbita coragem, entrou. As coisas ali dentro não pareciam muito melhores do que lá fora. Que espécie de lugar era aquele? As mesmas pessoas da rua acumulavam-se pelos cantos da casa, sem encostarem-se. Enoski decidiu também evitá-las. Vislumbrando um resto de capa preta desaparecer pela curva do corredor, apressou o passo em acompanhá-la. Na virada do corredor trombou desastrosamente com Natthali que havia parado para lhe esperar. Embolaram-se os dois, rolaram por uma escada de pedras que descia por um corredor frio e escuro. Quando aterrissaram no ultimo degrau, Enoski voou contra a parede. Natthali já de pé o encarava com ares de quem estava prestes a atacar. Ele, não tendo alternativas ficou ali de pé, parado, sustentando o olhar dela, esperando pelo que viria a seguir. De repente Natthali relaxou. Respirou fundo e seu olhar agora lembrava o de um gato de armazém. Enoski relaxou também e pode lembrar-se de respirar.


- Me desculpe – Apressou-se em dizer – Eu não queria te perder de vista de novo, eu não tenho idéia de onde estou; é tudo muito estranho por aqui. Eu... Só não queria me afastar de você de novo, não vi que você tinha parado e...


- Tá ok, tudo bem – Interrompeu – Eu realmente deveria estar cuidando melhor de você, não seria de muita utilidade se eu te perdesse por aí. Agora vamos, eles estão esperando por nós.


E dizendo isso sumiu na escuridão do corredor de pedras. Enoski podia ouvir os passos dela ecoando pelo corredor, logo mais a sua frente. Sabia que ela estava apenas a alguns passos e apressou-se em segui-la de perto, tendo o cuidado de manter certa distancia apenas.

Projeto Magia: Para um inicío de história.

(Texto escrito hoje pela manhã. Por causa dele perdi o ônibus e cheguei atrasado no trabalho, hehe).


6:45 seu relógio desperta. Enoski permanece alguns minutos na cama. A vontade de ficar em casa é maior do que a vontade de ir para o trabalho. Vai para o banho ainda sonolento como todos os dias. No guarda-roupa escolhe uma roupa qualquer – acaba pegando uma camisa listrada e uma calça social. Calça seus All Star´s e vai para a cozinha. Toma um copo de suco e sai para o trabalho. Até então tudo transcorria normal no seu dia – sono com a não vontade de se trabalhar, ia pensando sobre os livros e hq´s de magia. Assim se encaminhava para fora de casa.


A não normalidade do seu dia iniciou-se ao abrir a porta de casa. O dia parecia noite. Uma neblina densa cobria a cidade mal notava-se a silhueta das casas e prédios ao redor. Desceu as escadas de sua casa com cuidado. O ar estava pesado, era difícil respirar, a umidade entrava no corpo e gelava os pulmões uma energia estranha percorria com a névoa – densa e pesada. Percebeu vultos andando de um lado para o outro como se voassem. Enoski pensou consigo “Que gente apressada essa. Correm para chegar no trabalho, depois querem que o tempo corra para chegarem novamente em casa”. Soltou uma risada que encheu o vazio branco a sua frente. Os vultos começaram a passar mais perto – era como se as pessoas voassem com a névoa. Sentiu algo sobre seu ombro como uma mão gelada o tocasse. Assustou-se com aquela sensação. Olhou ao redor e não viu nada. Os vultos se aproximavam rapidamente agora, sentiu outra mão gelada segurar seu ombro. Enoski se desvencilhou daquela e mão e começou a correr em direção a parada de ônibus. Os vultos o perseguiam.

“Quer merda é isso” pensou já sem folego pelos segundos corridos. Olhou para trás e percebeu os vultos no seu encalço. Escutava o barulho dos ônibus logo a frente na ânsia de chegar rápido a parada tropeçou em si mesmo e caio....

Os vultos estavam em cima dele sentia seu corpo gelado. Olhou ao redor e a paisagem estava diferente no meio da neblina destacavam-se algo parecido com árvores. Suas mãos tocavam o chão úmido e coberto de folhas, parecia estar numa floresta. Tentou levantar-se mas já era tarde mãos frias tocavam suas pernas e seus braços. Desesperadamente tentava se soltar e lutar contra aqueles seres estranhos. LUZELLASAL LACOL – escutou essa frase estranha e um clarão que o cegou.

- Vamos sair logo. Uma mão macia e suave tocou a sua áspera e suja. Enoski abriu os olhos e viu a floresta fechada que o cercava. Olhou para a mão que o tocava: uma moça vestida com uma capa preta. Seus cabelos estavam presos com presilhas brilhantes. O cabelo dela era castanho, seu rosto branco, os olhos de um castanho-esverdeado. Ela o olhava fixamente.

- Vamos! Levante-se rápido, não temos muito tempo até que eles voltem.

- O que ela aquilo? O que eles queriam comigo? Onde diabos estou? Quem é você?

- Poxa garoto! Você é sempre chato assim? Sempre faz um monte de perguntas? Meu nome é Natthali e só posso dizer que vocês não está no seu mundo e corre grande perigo. Então não fale muito levante-se e vamos – Estendendo sua mão ainda perguntou – como se chama?

- Enoski!

- Enoski vai ficar sentado ai o dia todo, vamos andando temos um longo caminho pela frente. Tenho que te levar em segurança daqui. E não fique ai com essa cara de abobado se quiser respostas levante-se e comece a caminhar.

Natthali virou-se e começou a andar. Enoski estava num momento de dúvida Shakesperiana: ficar ali sentado no meio daquele lugar estranho se beliscando para tentar acordar ou levantava-se e seguia aquela menina mal humorada. Tentou se beliscar mas sem sucesso, não acreditava que aquilo tudo era real. Levantou-se e apressou para alcançá-la. Sem se virar ela comentou:

- Sem perguntas, continue a caminhar em silêncio não podemos fazer muito barulho. Logo você saberá mais.

Dizendo isso Natthali apressou o passo.


Elisandro Rodrigues

3.4.09


Zó não entendi a vida das pessoas e como elas conseguiam SOBRE-VIVER sem cultura, sem lazer. Zó acordava cedo sentava-se na frente da sua casa e observava as pessoas indo para seus trabalhos. No final da tarde fazia a mesma coisa. Via as pessoas indo apresadas com sono e voltando cansadas sonolentas. Muitas imersas em seus mundos de fones de ouvido, falando no celular. Um dia Zó sentou na frente de sua casa com um placa. Nela estava escrita: BOM DIA/OI e uns desenhos seus. No final da tarde lá estava ele novamente: BOA NOITE/TCHAU. Algumas pessoas o cumprimentavam a maioria nem olhava. Em outra feita de Zó ele fez em casa a mão vários poemas e frases de textos sobre a vida, o lazer e a cultura e saio a distribuir para as pessoas nas ruas e nos ônibus pela manhã. Ninguém entendia Zó, mas Zó entendia as pessoas. Entendia o cansaço do trabalho diário de oito horas ou mais. Entendia a vida sem um pouco de lazer e descanso. Mas não entendia como ainda as coisas continuavam assim. Mas Zó continuava a fazer pequenas coisas que poucos entendiam sem entender pequenas coisas que movimentavam o mundo.

Elisandro Rodrigues

2.4.09

Pedido.


No escuro do teatro escuto e canto a música. Faço o pedido em silêncio esperando que uma estrela caí na hora e o pedido se concretize. No peito o coração palpita feito vaga-lume.

Elisandro Rodrigues




Pedido De Casamento
Arnaldo Antunes

Eu sei que a gente ia ser feliz juntinho
Pra todo dia dividir carinho
Tenho certeza de que daria certo
Eu e você, você e eu por perto

Eu só queria ter o nosso cantinho
Meu corpo junto ao seu mais um pouquinho
Tenho certeza de que daria certo
Nós dois sozinhos num lugar deserto

Se você não quiser
Me viro como der
Mas se quiser me diga, por favor
Pois se você quiser
Me viro como for
Para que seja bom como já é

Eu sei que eu ia te fazer feliz
Dos pés até a ponta do nariz
Da beira da orelha ao fim do mundo
Sugando o sangue de cada segundo

Te dou um filho, te componho um hino
O que você quiser saber eu ensino
Te dou amor enquanto eu te amar
Prometo te deixar quando acabar

Se você não quiser
Me viro como der
Mas se quiser me diga, meu amor
Pois se você quiser
Me viro como for
Para que seja bom como já é

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento