1.7.08

Um ajuntamento de textos sem pé mem cabeça
"Viver é um descuido prosseguido" Guimarães Rosa

Diz a música que “os opostos se distraem, os dispostos se atraem”. Sem dúvida é uma premissa que nos remete a verdade. As palavras que guardamos para algumas pessoas do nada saem de nossa boca ao acaso a um estranho que passa em nosso caminho. Estar disposto ao mundo, estar aberto ao mundo é o que atrae, e muitas vezes nos distancia.
Os sonhos não fazem promessas, é o que diz um grafite em um dos quadrinhos do Sandman (escrito por Neil Gaiman), se os sonhos não trazem a promessa pelo menos nos libertam, Cecília Meireles em um poema nos fala que ‘É o sonho que liberta. De tudo: do mundo, dos outros, de nós.’ É nos sonhos que conseguimos fazer aquilo que é impossível no nosso cotidiano. Mas tive um sonho estranho. Sonhei algo muito próximo da realidade. Sonhei que estava sentada, e comecei a pensar:
‘Por vezes, pensei em responder todas as tuas mensagens, pensei em ligar, em ouvir tua voz. Não sei se o medo me calou, acho que o receio seria a palavra certa, sim, ele era maior... O receio de escutar-te e o coração disparar novamente. Receio de ao ouvir-te querer-te novamente para mim. O tempo que nos une nos afasta uma contradição da vida, uma contradição do coração das pessoas apaixonadas. A minha loucura queria ouvir você, essa mesma loucura insana que me traz o impulso de me atirar ao mundo, de jogar tudo para o alto, de gritar teu nome para que todos e todas ouvissem. Mas um ‘súbito acontecimento’ desvia toda esta loucura e todo o brilho do olhar.
É a razão que bate na porta do coração. E quanto ela bate começa a mexer com nossas emoções, e a vontade dá lugar ao pensamento mais pausado e reflexivo. E quando te olhar dentro do olho meu, o que falar? Que abraço dar? Quais palavras falar? Que música cantar? Perguntas sem respostas... as respostas só vem quando acontece!
E aconteceu, depois de ter vivido o óbvio utópico... “NÓS AINDA, SOMOS OS MESMOS.” Bastou te olhar, te sentir perto, diante dos olhos... e o silêncio.... Ahhh!! O silêncio... permaneceu, intacto (...)
Um silêncio onde as palavras são ouvidas pelo coração, e minha loucura bateu a porta novamente, no meio do silêncio ela quis saltar, quis te abraçar, quis te beijar, quis você só para mim novamente. Mas o silêncio também é opressor, opressor de vontades veladas, de loucuras insanas. Queria mas ao mesmo tempo me reprimia. A vida é um descuido prosseguido, pena que somos tão cuidadosos nos tropeços que retiramos as pedras do caminho. Maldita razão que nos leva a limpar as estradas.
Como gostaria de te ter...hoje me remeto apenas a ler e reler suas mensagens apaixonadas, somos os mesmos fracos de sempre que nos oprimimos e não sentimos a loucura bater forte dentro de nós. Fico assim: gostando de você de longe, mas querendo estar muito perto.’
Sonhos estranho, se bem que geralmente os sonhos são estranhos. Em outra frase dos quadrinhos do Sandman ele diz que ‘quando você sonha, algumas vezes você lembra. Quando você acorda você sempre esquece’, mas eu não esqueci. Decidi escrever e ver a loucura tomando corpo.
A única certeza de que não tenho, de muitas outras, é se damos mais atenção a razão ou a emoção. Obviamente damos razão a razão, mas será que a emoção é meramente passageira. Será que as emoções não são como os sonhos, não fazem promessa, mas nela podemos ser quem realmente somos ou gostaríamos de ser. Questionamentos e dúvidas, faz parte do estar vivo, e como diria mais uma vez Nel Gaiman em Sandman ‘É apenas isso: se você vai ser humano, tem um monte de coisas no pacote. Olhos, coração, dias e vida. Mas são os momentos que iluminam tudo. O tempo que você não nota que está passando...é isso que faz o resto valer’.

Faz valer só pra poder sentir seu coração no mesmo compasso que o meu! Fique mais que eu gostei de ter você, não vou mais querer ninguém, agora que sei quem me faz bem, não me deixe só, que eu tenho medo do escuro, eu tenho medo do inseguro, dos fantasmas da minha voz...

"Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem-vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nele então eu me vi (...)"

Apesar de tudo e de todas as peças que a vida ainda insiste em nos pregar, creio que esse frio na barriga que não passa e essa vontade de falar tudo o que ficou aqui, na garganta é o que nos movimenta! Antes de te reencontrar imaginei mil vezes minha reação, sua reação, a nossa reação! E nada do que pensei acontecer, aconteceu. Os olhos se fixaram ao chão, em um minuto, todo um filme passou, coração vibrante, num compasso acelerado, o mundo se movimentava e eu ali, inerte, no mesmo pensamento, incessante. " O dia mente a cor da noite, e o diamante a cor dos olhos, os olhos mentem dia a noite a dor da gente."

"Só enquanto eu respirar vou me lembrar de você! Só enquanto eu respirar !"

... Não vejo a hora de te 'reencontrar' e "continuar aquela conversa que não terminamos ontem, ficou pra hoje!"
Êta !! Estranho seria se eu não me apaixonasse por você !
Elisandro Rodrigues e Vanessa Lopes
(Um gaúcho e uma mineira trocando idéias durante um mês. Surgiu o que não surgiu, ficou o que não ficou. Palavras jogadas no papel desfazendo os conceitos e as idéias construindo assim algo sem pé e nem cabeça)

Um comentário:

Anônimo disse...

E foi assim que aconteceu!

Adoro!!
BjoO ;)

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento