22.7.08

Um texto de uma amiga.



Deveria ser possível descrever aquela cena
O espaço daquele teatro da realidade:
O que os dois viviam naquele momento
Sentados, lado a lado, vidravam-se a olhar a chuva
que na rua caía , e neles respingava
Voltavam-se ao sofá, atentos ao olhar
que passava nos olhos um do outro
Pausadamente fazendo colocações
Cuidadosamente escolhendo palavras
Pacientemente aguardando reações
Incertamente sabendo o que realmente queriam
Duvidosamente aptos ao fim
Sinceramente, desejando que tudo ficasse bem.
Deram-se conta que não tinham ideia de como seria.
Silenciosamente, e não havendo o que mais fazer,
Foram tomar café.
Ao menos os estômagos sabem do que precisam .

Joice Rossato
Poa - Inverno de 2008

Um comentário:

Anônimo disse...

[ Palavras bem colocadas, com tamanha precisão
de sentimento e verdade ]

EnooO!
Tá tão sumidinho!
Tá td bem?!

BjoO

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento