21.7.08

P.S: Um cheiro e um beijo na alma


Ele a encontrou três vezes todas por acaso. A primeira vez a achou chata e bonita. Chata pelo fato de só reclamar e colocar defeito em tudo. Passaram uma noite inteira caminhando de bar em bar até sofrer um assalto, frustrado é claro por parte dos assaltantes que não tinham o que levar além de livros. Nesta noite ele a percebeu, notou a leveza do olhar ao mesmo tempo em que os inúmeros mistérios que habitavam nele. Disse a si mesmo, e a ela, que nada era por acaso.
A segunda vez que a viu foi por acaso. Ele estava assistindo a uma peça de teatro de rua e ela o viu. Ela estava indo entregar documentos da locação do novo apartamento onde ia morar. Ela o viu e veio falar com ele. Ele achou-a mais bonita do que a primeira vez, percebeu a alegria e a espontaneidade dela. Encontraram-se ao acaso, mas o sorriso e o rosto dela não lhe saíram mais da memória.
Na terceira vez ele a encontrou em sua casa. Em uma noite fria ele percebeu a sensibilidade e a inteligência dela. Conversaram sobre suas histórias de vida enrolados em um cobertor sentindo o vento frio nos rostos e olhando as luzes da cidade pela janela. Dormiram juntos. Sentindo um o calor do outro, não se beijaram nem se abraçaram mas suas almas estavam em festa por estarem um ao lado do outro. Na manhã seguinte ele saio cedo, deixou-a dormindo com um bilhete que dizia: “Gosto-te pretinha”. Antes de sair deram-se um abraço demorado e gostoso. Ele saio voando feito borboleta e cantando como criança.
Ao voltar para casa pela noite encontrou um bilhete deixado por ela estava escrito “P.S Te gosto...”.
Ele não sabe quando vai encontrar ela novamente, não sabe se o acaso lhe possibilitará mais um abraço e quem sabe um primeiro beijo.


Morena (Lambari)
Permita morena, que eu sonhe contigo, num rancho onde abrigo meus dias de frio

Permita morena, que eu veja teus olhos, buscando os meus olhos nas águas do rio

Permita morena, que eu pegue a guitarra, e solte as amarras da minha ilusão

E cante num verso meus ternos segredos, vestidos de medo, amor e paixão

Permita morena, que eu ceve outro mate, pra dor que me bate nesta solidão

Permita morena, que chame teu nome, matando a fome do meu coração

Se acaso morena teus olhos luzeiros, tiver paradeiro em outro olhar

Perdoa morena meus olhos tristonhos, perdoa os meus sonhos se contigo eu sonhar

Perdoa morena, se trouxe comigo, teu lindo sorriso na graça do olhar

Perdoa morena, se tenho saudade, me falta coragem pra te procurar

Não chores morena se à noite sinuela, povoar de estrelas teu meigo sonhar

E quando enxergares a estrela cadente, é meu sonho insistente a te cortejar



Elisandro Rodrigues

Julho de 2008 - Frio, chovendo e saudades no coração...

Um comentário:

Anônimo disse...

EnoO!
Lindo texto, já estava sentindo falta de ler-te.
E você como está ?
Saudade Uai !!

BjoO

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento